Postado em 01/01/2001
ABRAM SZAJMAN
Começar um ano novo sempre é motivo para reflexão. Todos sabemos que as folhinhas despencam do calendário seguindo o ritual de uma mera convenção, mas mesmo assim essa data, como nenhuma outra, nos coloca diante da incógnita do futuro. e nos anima a desenhar novos planos de vida, reorganizar projetos pessoais e unir os melhores propósitos às mais santas das intenções.
Desta vez, porém, há uma diferença: não se trata de uma simples mudança de ano, pois estamos iniciando um novo século e, mais do que isso, inaugurando um milênio. Uma oportunidade raríssima para caprichar nas resoluções, seja em termos pessoais ou particulares, seja em sentido maior, isto é, aqueles grandes projetos que os homens públicos divulgam aos quatro ventos, e que quase nunca cumprem.
No Brasil, com efeito, talvez como em nenhuma outra nação do planeta, as boas intenções vicejam, desde os tempos em que Pero Vaz de Caminha informou ao rei português que a terra era muito fértil. Brotam com sofreguidão, mas raramente amadurecem, murchando assim que surgem no céu os primeiros raios da dura realidade. Planos, idéias mirabolantes, programas ambiciosos, projetos faraônicos, promessas incríveis, tudo isso há de sobra. Mas não conseguem seguir adiante, talvez por defeitos de origem, talvez por incompatibilidade com a vida real, talvez por falta de bons condutores, talvez…
O mais intrigante nessa história é que o país possui recursos imensos, que se perdem nas linhas e entrelinhas desses planos. A reportagem principal desta revista é um bom exemplo disso. Ilustra com exatidão tudo aquilo que o país poderia ser, ou que já poderia ter sido, se tivesse verdadeiramente vontade de sê-lo. Paisagens magníficas em extensas áreas de nosso Brasil se oferecem como espetáculo, prontas a carrear para o tesouro nacional milhões em divisas. Em vez disso, estão lá subaproveitadas, à mercê da destruição, carentes de proteção e investimento. Nos Estados Unidos, lembra o texto, o sistema de parques nacionais arrecadou em 1998 a bagatela de US$ 10 bilhões. Recursos provenientes do turismo ecológico, um formidável trunfo nas mãos de administrações inteligentes, que aprenderam a utilizar a natureza em favor da nação, aliando os benefícios da preservação aos resultados de uma exploração sadia.
O ecoturismo é apenas um exemplo. Em muitas outras áreas há condições semelhantes, à espera de decisões acertadas e de um trabalho persistente e conclusivo. Por que então não aproveitar este início múltiplo de uma nova era e transformar os bons propósitos em realidade? Por que não realizar alguma coisa definitiva e consistente, capaz de solidificar de uma vez por todas a presença do Brasil no cenário internacional? Por que não parar de uma vez por todas de empurrar com a barriga nossos problemas, como se o futuro tivesse solução mágica para todos eles?
São perguntas para as quais as respostas existem. Há modelos em diversas partes do mundo, economias que deram certo, que superaram o atraso e que estão convivendo satisfatoriamente com a globalização. Nesses países ninguém optou por soluções paliativas, ninguém preferiu deixar o remédio amargo para futuras administrações, ninguém imaginou que tudo se resolve com o jeitinho certo na hora incerta.
A saída é começar já, sem demora. Tomar decisões imediatas e acertadas, antes que o país sobreviva a duras penas por mais um século de incertezas, vítima da incompetência generalizada que vem marcando a vida política brasileira.
Em tempo: esta edição de Problemas Brasileiros relata uma experiência interessante e altamente louvável. Uma entidade patronal uniu-se a uma produtora de cosméticos para incentivar iniciativas educacionais em escolas públicas. Como empresário, cabe-me destacar tal comportamento, principalmente por reconhecer que a educação está na raiz de todas as soluções para o país. Infelizmente iniciativas assim também revelam o grau de descaso com que as instituições escolares são tratadas no país. Até quando?
![]() |
|