Postado em 23/08/2014
A EOnline conversou a com a escritora Veronica Stigger, uma das convidadas do espaço Praça das Palavras, na 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo
Dentro da programação Autores com a Palavra, escritores consagrados contam histórias sobre a construção de seus livros e interagem com o público. Neste segundo dia da 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, conversamos com a escritora, jornalista e crítica de arte Veronica Stigger, que participou da programação da Praça da Palavra, junto a um dos caminhões do BiblioSesc.
Com mais de 10 livros publicados, a autora falou sobre seu processo de criação e revelou curiosidades sobre alguns de seus livros, como Opisanie Swiata, conhecido “pelo nome polonês impronunciável”, como ela mesma descreve. A história central relata a viagem do polonês Opalka, de sua cidade natal para o Brasil, onde descobre que tem um filho.
Já em Delírio de Damasco, ela conta como foi a escolha pelo título do livro, “fui fazer um trabalho de campo em uma praça de alimentação de um shopping e pedi uma de minhas tortas favoritas em uma doceria do local. Sentada por ali, pude ouvir de pessoas comuns, frases que fui registrando e que deram origem a este projeto, que trabalha com a apropriação da voz alheia. Acabei por escolher o nome do doce degustado para dar nome a este projeto”, relata Veronica contando todos os detalhes ao público.
A EOnline bateu um papo com a escritora, que nos revelou algumas peculiaridades de seus trabalhos. Confira:
EOnline: Sabemos que você tem trabalhos publicados para adultos (como O Trágico e Outras Comédias, Os Anões e Delírios de Damasco) e para crianças (Dora e o Sol e Onde a Onça Bebe Água). Como você trabalha sua criação na produção de textos para públicos tão distintos?
Veronica Stigger: É um desafio. Na verdade, os dois livros infantis que tenho surgiram de convites. A estrutura dos livros infantis é muito parecida com os meus contos, só que em uma escala mais simples, porém não simples demais. E também tem o mesmo processo criativo que meus contos, ou seja Dora e o Sol, por exemplo, surgiu de uma história que me contaram: a Dora era uma cachorra de minha mãe e um dia estava deitada no sofá da sala onde batia sol. O sol foi se pondo e saindo de cima dela. Ela começou a ficar irritada e tentava puxar o sol com a pata, esfregando-a no sofá. E aí eu fui desenvolvendo a história em cima disso, com um foco bem infantil. Tem uma estrutura bem parecida com os meus contos, porém em uma escala reduzida.
EOnline: O que é preciso levar em conta para escrever para os pequenos?
VS: Eu acho que o essencial é não achar que só porque é uma criança ela não vai entender determinadas coisas, entendeu? Não se pode confundir e achar que criança não vai ter capacidade de compreensão. Acho que esse pode ser o maior erro. A criança apenas não conhece ainda muitas coisas. Por exemplo, em Dora e o Sol o sol vai se pondo e depois ele aparece na história, não como um solzinho com carinha, mas apenas como um raio entrando na casa, ou seja, temos um salto lógico nesse conto. Me lembro que fui questionada, sobre se as crianças entenderiam aquilo e elas entendem desenho animado, que tem vários desses saltos lógicos. Eu tento não facilitar, mas principalmente não subestimar a inteligência das crianças.
EOnline: Como você trabalha as formas literárias em seus projetos, com gêneros que tendem a não ter uma definição tão específica como conto, poema, romance...?
VS: Este é um ponto muito importante: gosto de trabalhar com essas formas literárias, gosto de testar os limites, não só das formas, mas, em última instância, da literatura. Tanto que uma das histórias que eu mais gosto foi quando me contaram que, na Livraria da Vila, uma senhora apareceu revoltada após ler um livro meu, querendo devolve-lo pois dizia que o livro (no caso Os Anões) não era literatura. Para mim, isso é uma percepção ideal. Eu gosto justamente de testar esses limites: ela não reconheceu, ali, o que ela imagina ser literatura. Eu gosto muito dessa história porque fica muito claro que eu consegui o que eu queria, ou seja, colocar alguns limites em questão. Será que isso é um conto, um poema? Eu costumo chamar todos os meus textos de conto, mas eu sei que eles tomam a forma de poema, de legenda, de peça de teatro, etc.
EOnline: Qual é, atualmente, o seu livro de cabeceira?
VS: Eu gosto de ter na cabeceira Roberto Bolaño e Mario Bellatin.
Além de falar sobre seu trabalho, a autora também deu dicas para aqueles que querem publicar o seu primeiro livro e ainda não sabem como começar. Para quem admira o trabalho de Veronica, ela contou que seu mais recente livro deve chegar ano que vem sob o nome Sul, remetendo às origens da escritora e, segundo ela, carregando também alguma polêmica. Além disso, um dos trabalhos que vem desenvolvendo já tem nome: Sombrio, Ermo, Turvo. Nos resta segurar a ansiedade e aguardar.
Histórias por trás das histórias conta um pouco da trajetória de alguns dos autores das Edições Sesc. Luiz Nadal, com suas pequenas epopeias, Cris Lisboa e Marília Pozzobom, com perfis jornalísticos, revelam os perfis dos escritores. Acompanhe!
Conheça também a série Protagonistas da Bienal, que apresenta o público, personagens essenciais para que esse grande evento aconteça.