Postado em 29/07/2014
É assim que Romulo Fróes reinterpreta, na íntegra, o disco Transa, clássico de 1972 do baiano Caetano Veloso
Disco criado e produzido durante o exílio europeu de Caetano Veloso em 1971, e lançado no ano seguinte no Brasil, onde se consolidou como uma das obras-primas de nossa música, Transa chega ao Teatro do Sesc Pompeia nos dias 2 e 3 de agosto sob a interpretação do compositor e cantor paulistano Romulo Fróes. A banda que acompanhava Caetano durante a gravação original, composta por Jards Macalé, Áureo de Souza, Tutty Moreno e Moacyr Alburquerque, na versão de Romulo é substituída por Curumim (bateria), Kiko Dinucci (guitarra), Marcelo Cabral (contrabaixo), Rodrigo Campos (cavaco) e Thiago França (sax).
Dividida em duas partes, lado A e lado B, a apresentação traz músicas como Mora na Filosofia, Triste Bahia – as únicas do álbum cantadas em português -, ou o reggae de You Don’t Know me, entre outras, que ganham versões inéditas, marcadas por improvisos que ainda preservam os arranjos originais. Se Transa representa uma evolução na experimentação musical, o projeto de Romulo também procura percorrer o mesmo caminho, inserindo novos elementos nas canções, como cavaco, guitarra e saxofone.
Fã confesso de Caetano, Romulo tem na obra do artista uma das maiores influências de sua música. O paulistano, que passeia entre o samba e o rock, e enveredou pela música graças à sua vocação de letrista, em 2003 apresentava seu primeiro trabalho no projeto Prata da Casa do Sesc Pompeia. Atualmente, ele acumula quatro discos solos e dois discos com o grupo Passo Torto, do qual fazem parte também Kiko, Marcelo e Rodrigo. Artista independente e frequentemente associado à “nova geração da MPB”, Romulo realiza também trilhas sonoras, curadorias musicais, produção e direção de discos e shows de outros cantores e músicos, além de publicar textos sobre a música brasileira.
Em entrevista à Eonline, ele conta um pouco sobre a releitura de Transa e a sua relação com a obra de Caetano Veloso:
Eonline: A ideia de refazer o repertório de Transa surgiu com o projeto Radiola Urbana 1972 ou já era um desejo antigo? Desde 2012, o show já passou por quais lugares?
Romulo Fróes: O show é resultado de um convite feito pelo site Radiola Urbana, dentro do projeto 72 Rotações, que convidava artistas contemporâneos a recriarem discos clássicos lançados em todo o mundo no ano de 1972. Os curadores do projeto identificaram semelhanças do meu trabalho com o Transa, por isso o convite. Desde sua estreia no Centro Cultural da Juventude, já tocamos em muitos lugares, sendo os mais importantes até agora o Sesc Santana e a Virada Cultural de São Paulo.
Eonline: Você já declarou que o Caetano é uma de suas grandes referências. Acredita que em algum dos seus álbuns solos conseguimos notar mais fortemente essa influência em seu som?
R. F.: Creio que o modo como Caetano conduz sua carreira discográfica, sempre experimentando, buscando novos caminhos e novas maneiras de lidar com a canção a cada novo lançamento, nunca se acomodando a nenhuma fórmula, mesmo que vitoriosa, talvez seja a grande influência que ele exerce sobre mim. Neste sentido, essa influência é notada em todos os meus discos. Mas no que se refere especificamente ao Transa, creio que meu álbum duplo No Chão Sem o Chão e sua vocação roqueira, seja o meu disco mais próximo dele e acho que o principal motivo de ter acontecido este convite.
Eonline: Como lidar com o desafio de “substituir” nomes de peso como Jards Macalé e Tutty e, ainda mais, reinterpretar um disco que foi tão marcante na música brasileira? Quais as principais mudanças feitas nas canções?
R. F.: Correndo o risco de soar pretensioso, não pensando no desafio. Penso que a maneira mais honesta de se homenagear um artista cujo trabalho você admira é mexendo em sua obra, tentando abordagens que fujam de sua simples reprodução. Creio que quanto mais me afasto de sua forma, mais respeito demonstro. Com isso em mente, fomos longe nas experimentações, nos novos arranjos que criamos para as canções do Transa. Muita gente pode se surpreender com os diferentes partidos que tomamos. Vejo nisso mais uma prova da grandeza do Transa e das canções de Caetano de um modo geral, as inúmeras possibilidades de interpretação que elas carregam dentro de si.
Eonline: Como cantor e compositor, que semelhanças e diferenças acha possível encontrar entre você e Caetano? Há alguma característica dele e até mesmo do disco Transa que você gostaria de incorporar aos seus trabalhos?
R. F.: Sua postura de permanente transformação é o que de mais profundo carrego comigo. No que se refere à composição, acho que a importância que as letras têm em minhas canções, talvez seja minha maior semelhança com seu trabalho. Assim como certamente, minha postura no palco é a maior diferença entre nós dois. Sou muito mais retraído e contido que Caetano, estou em um lugar muito distante de sua exuberância cênica.
Eonline: Há algum outro disco, além de Transa, e talvez de outro artista sem ser o Caetano, que você gostaria de interpretar?
R. F.: Muitos, muitos mesmo, a lista não caberia nessa entrevista. Mas para não fugir de sua pergunta, sem pensar muito, posso dizer que adoraria reler o fenomenal Mico de Circo, talvez o disco que mais goste de Luís Melodia, outro grande artista de influência decisiva em meu trabalho.
o que: | Romulo Fróes Interpreta Transa |
quando: |
02 e 03 / Agosto |
onde: | |
valores: | Os valores variam entre $4,00 (comerciários), R$ 10,00 (usuários e demais categorias nessa faixa) e R$ 20,00 (outros). |