Postado em 18/06/2014
Entre junho e julho um assunto domina os bares, táxis, reuniões de família, encontros de amigos jornais e redes sociais: a Copa do Mundo de Futebol. No Sesc, não é diferente. O Sesc na Copa apresenta uma programação para refletir sobre o futebol e valorizar seus aspectos culturais.
Parte do projeto acontece online, com a publicação do "Visões da Copa", uma série de charges e crônicas sobre os jogos da Seleção Brasileira, publicadas nos dias seguintes aos jogos do Brasil ou após o final de cada rodada.
Acima, a charge feita pelo cartunista Orlando Pedroso. Abaixo, a crônica escrita pelo cantor e compositor Edvaldo Santana.
Por Edvaldo Santana
Já cruzei russo alemão, colombiano, chileno, japonês, inglês, francês, indiquei metrô pro cara perdido e ainda cantei no Bloomsday num pub onde encontrei um irlandês com colar de pajé, citando James Joyce. Os caras estão apaixonados pelo Brasil, eu só falo na nossa língua, mas sinto a alegria e a energia dos povos que estão na nossa terra. Feliz estou por poder ver o maior evento de futebol do mundo começar na zona leste, lugar onde nasci e fui criado, só não gostei da abertura e das atrações musicais do evento. Temos a música popular mais interessante do planeta pra ter que engolir o puts puts em plena periferia de São Paulo, ainda assim, me considero privilegiado e agradeço aos deuses por essa oportunidade, de presenciar a terra de Guaianazes e Ururaís receber com muito respeito e cordialidade os transeuntes que por aqui estão passando.
É claro que eu quero ganhar e de preferência jogando bem, sei que o nosso treinador é gaúcho e como um zagueiro razoável prefere defender que atacar. Prefiro o futebol arte que fizemos o mundo cair de quatro, prefiro o craque ao brucutu, o futebol de hoje é baseado em correria e preparo físico, está tudo nivelado por baixo. Mas também não sou ingênuo e acredito que o equilíbrio é fundamental para que se tenha um bom time, começando pelo goleiro, você pode até ter alguns jogadores com mais vontade do que categoria, mas tem que ter uma maioria que saiba botar a bola no chão, que não treme quando o adversário aperta na marcação, que se desloca pra receber na intuição.
Tomo a primeira cerveja do dia e fico sabendo que o time vai entrar com Ramirez, pois o Hulk tá machucado, preferia o Ramirez no lugar do Daniel Alves e o Willian ou o Bernard juntos com o Neymar infernizando a defesa mexicana.
O primeiro tempo foi razoável como já era previsto, além do Neymar não temos em campo ninguém que desarruma no meio de campo e no ataque, sempre tivemos pelo menos cinco craques em cada uma de nossas seleções: Didi, Garrincha, Pelé, Tostão, Rivelino, Gerson, Sócrates, Falcão, entre outros e hoje temos apenas um. Os mexicanos aproveitaram a fragilidade de marcação do lado direito onde joga o Daniel Alves e em alguns momentos deram sufoco nos brasileiros. Pra mim o grande jogador desse primeiro tempo além do Neymar foi o Thiago Silva, um zagueiro. É sinal que os tempos mudaram, é muito pouco pro time que tem na sua história o slogan de praticar o futebol mais bonito do mundo.
Começou o segundo tempo e parece que o México está jogando em casa, numa partida de futebol você precisa de liderança em campo, não só no banco, e isso nós não temos, essa virtude sobrou no time mexicano, Peralta, Rafa Marques, estavam jogando uma partida de copa do mundo de verdade. De novo ficamos dependendo de uma jogada individual do Neymar, é muito pouco para um time que quer ser campeão. O Bernard entrou, mas o meio de campo nosso caiu muito. Nossos volantes Paulinho, Luiz Gustavo, juntamente com o meia burocrata Oscar erraram passes e a bola só chegava ao ataque espirrada, que pena o Paulo Henrique (Ganso), não estar nessa copa, não gosto desse tipo de jogo amarrado e medroso do Brasil.
As únicas chances reais de gol do time brasileiro aconteceram com o Neymar e ainda tinha um desses locutores falando mal do cara, fica bem claro que há alguma rusga mal explicada, uma boa parte dessa imprensa que cobre o futebol continua sendo oportunista e picareta. Futebol hoje tem muita grana envolvida, empresários patrocinadores, mídia paga pra ser hipócrita, ainda bem que eu tive a chance de ver a bola rolar com arte, emoção e alegria. Faço aqui minha sugestão aos Felipões, Parreiras, e esse bando de treinadores que só sabem jogar na retranca: "deixa o jogador jogar, quem resolve o jogo é jogador".