Postado em 06/06/2014
Em abril de 2009 acontecia em Porto de Espanha, capital de Trinidad e Tobago, a 5ª cúpula das Américas. Com o propósito de "assegurar o futuro dos cidadãos da América promovendo a properidade humana, a segurança energética e a sustetabilidade ambiental", segundo o documento principal do encontro, havia uma expectativa subjacente à reunião dos líderes: como seria o primeiro grande encontro de Barack Obama com todos os primos latinos de uma só vez?
O presidente americano, à época com 100 dias no cargo de homem mais poderoso do mundo, chegava sob a égide já desgastada do "Yes, we can", preferindo reunir-se com grupos de países ao invés das costumeiras reuniões bilaterais. Entretanto, numa dessas raras ocasiões, Obama ficou frente a frente com um antagonista histórico do modo americano de pajelança na américa do sul.
No sábado, 18 de abril, Hugo Cháves, presidente venezuelano entregou ao colega americano uma cópia de "As veias abertas da América Latina" do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano, um clássico inventário das explorações que o território foi vítima desde que aqui aportaram espanhóis, portugueses, posteriormente ingleses, franceses e, recentemente, os norte-americanos e como estes eventos contribuem para o atual estado social e econômico das nações latinas. Na contra-capa assinou "com afeto, Cháves".
Obama pode não ter assimilado o conteúdo do livro tão rápido quanto o interesse do resto do mundo: no dia 20, segunda feira, o livro já era o segundo na lista de mais vendidos na Amazon.com, uma das principais lojas de comércio online dos EUA. Os líderes, de fato, não devem ter ficado muito mais próximos por conta disso, mas talvez o mundo tenha voltado a prestar atenção em Galeano.
Embora tenha dito que "não seria capaz de reler esse livro; cairia dormindo. Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é extremamente árida, e meu físico já não a tolera", o jornalista segue em alta conta, formando, ao lado do escritor Mário Benedetti, do ex-guerrilheiro e chefe de estado Pepe Mujica e do astro do futebol inglês Luis Suárez, a quadra dos uruguaios mais conhecidos do mundo.
Natural de Montevidéu, Galeano escreveu sobre muita coisa: economia, poesia, política, futebol e candombe, que no quesito 'tomar-a-rua-com-música-e-ritmo-graça-e-força' se aparenta com a África de brasilidades como o tambor de crioula, o frevo..."
Sim, se você ouvir o candombe não vai encontrar muita semelhança com a rítmica do frevo, mas o rito de tomada da rua, pode irmanar os ritmos e as culturas brasileira e uruguaia; se você acha que não, talvez Fábio Trummer possa fazê-lo. O líder da banda Eddie, largou o samba-rock e o frevo para, munido da inspiração de Eduardo Galeano, montar o Trummer Super Sub América para fazer punk rock com verve crítica e latina.
O disco foi lançado neste 2014 e conta com Dieguito Reis (baterista) e Luca Bori (baixista), ambos do grupo Vivendo do Ócio, formando a clássica trinca punk de baixo, guitarra e bateria - você pode escutar o album todo aqui, e ainda sacar um pouco de cada faixa na análise abaixo - além de aparecer no Belenzinho, nesta sexta, 6/6 pra conferir ao vivo o som! Compre seu ingresso aqui
1. SAS (Salve a América do Sul) - Baseada nas canções sobre a América do Sul, a composição de Trummer e Lirinha (ex-vocal do Cordel do Fogo Encantado) fala de realidades que se arrastam no continente em sua eterna condição de colônia dos países ricos.
2. Medo da Rua - De Trummer e Luca Bori, a faixa debate a escala da violência nas ruas das cidades, questionando a atitude de medo e fuga dos cidadãos, a entrega da vida social ao estado e a pouca participação da população na resolução dos problemas urbanos.
3. Ardendo em Chances - Um poema autorretrato de Trummer, assinado em parceria com Diego Reis.
4. Eu tenho fé - Composição do ex-Eddie Rogerman, aborda o otimismo apesar das incertezas.
5. Música Canibal - Nesta faixa, Trummer brinca com a primeira crônica sobre a música do compositor brasileiro Villa Lobos na Europa, publicada na Paris dos anos 1920.
6. De Olinda ao Mississipi - As guerras que travamos diariamente em todas as partes do planeta, inerentes à condição humana, servem de tema para a poesia de Trummer nesta faixa.
7. Descompasso - De Trummer, Dengue, Rica Amabis e Pupillo Menezes, foi originalmente composta para projeto "3 na Massa", em parceria com os integrantes da Nação Zumbi.
8. The End - Em uma narrativa de tom cinematográfico, a faixa composta por Trummer explora as possibilidades imaginárias de um casal no dia do fim do mundo.
9. Sindicato Natural – A letra épica propõe a revanche da natureza contra os humanos e a ocupação verde dos espaços urbanos dos dias de hoje (Trummer).
10. Só faltou dizer adeus - Com letra de Trummer e Lirinha, conta encontros e desencontros que acontecem e se desfazem, virando apenas lembrança de uma noite inesquecível.