Postado em 09/06/2014
O Sesc preparou uma programação especial para os meses da Copa do Mundo no Brasil: o Sesc na Copa. A proposta é aproveitar esse momento para refletir sobre o futebol, e valorizar os aspectos culturais, como possibilidade de desenvolvimento de pessoas e comunidades. Nas unidades, a extensa programação traz exposições, debates, espetáculos, clínicas com atletas e a exibição dos Jogos.
Como parte das atividades, o Sesc na Copa traz uma série de charges e crônicas feitas exclusivamente para a internet por um grupo de chargistas e escritores. São eles Custódio Rosa, Flavio Carneiro, Edvaldo Santana, Junião, Marcelo Backes, Marcelo Moutinho, Rodrigo Viana, Vladir Lemos e Celso de Campos.
A primeira charge foi feita pelo escritor Custódio Rosa está acima e pergunta: “A Copa vai... bombar?”. O texto também é assinado por ele e está abaixo. Nos dias seguintes aos jogos do Brasil na Copa ou após o final de cada rodada serão publicadas novas charges e crônicas. Acompanhe aqui!
Boa leitura!
Por Custódio Rosa
A poucos dias da estréia do Brasil na Copa, uma legião de pessoas de todos os sexos e idades entram neste território estranho e imprevisível chamado "torcida". Mesmo excluindo os que não gostam de futebol e os que estão protestando, no Brasil ainda sobra muita gente que não é torcedor, e mesmo alguns torcedores, na verdade, não chegam a perder fios de cabelo por uma derrota do seu time.
Na Copa as coisas mudam. Mães que não sabem o que é impedimento, avós que reclamam do barulho dos fogos, vizinhos que furam as bolas dos garotos, todos eles a cada quatro anos viram torcedores de futebol. Roem unhas, torcem as mãos (dizem vir daí o termo), suam frios, tomam água com açúcar, perdem o apetite e sofrem antes, durante e muitas vezes após o jogo.
Mas nós, os outros, que torcemos para nossos times regularmente, duas vezes por semana, 12 meses por ano, olhamos para esse contingente de aflitos ocasionais como olham velhos veteranos de guerra para aqueles recrutas assustados desembarcando no primeiro combate. Com nossas cicatrizes no lombo, sabemos que torcer para time é uma coisa bem diferente de torcer para a Seleção.
O time joga sempre. A todo momento ele testa seu amor, seus limites, sua paixão. Ele te trata muito mais mal do que bem. Você fica muito mais infeliz do que feliz. Basta ver que entre 20 times de cada campeonato, só um ganha. Amar um time é um masoquismo estatístico. Mesmo assim você ama, sofre por volta de 70 vezes por ano. E fica feliz com qualquer afago, carinho, ou vitória aos 43 do segundo tempo, injusta mas redentora. Amar um time de futebol é como amar uma mulher que te faz de gato e sapato, te trai e te pisa, faz você ser motivo de piadas dos cunhados, dos vizinhos, dos amigos do escritório, e mesmo assim você não consegue deixa-la.
Já torcer pro Brasil... aquele time em que jogaram Pelé, Garrincha, Rivelino, Zico, Didí e Ronaldo? Aquele que é mais vezes campeão? Aquele que é famoso porque tem o jogo mais bonito do mundo?
Torcer pro Brasil é moleza.
Se a gente olhar bem, torcer pro Brasil é como assistir um filme no cinema. Você senta, pega a pipoca, sabe que vai rolar um espetáculo e que os mocinhos estão do seu lado. Vai ver vários efeitos especiais e as chances de final feliz são muito grandes. Porque a gente quer ver um futebol-Hollywood. Amar a seleção é fácil como amar o… Indiana Jones de chuteiras.
Já amar o time do coração é muitas vezes amar o bandido, o errado, aquele que não merece mas a gente quer ver ganhar. Dá-lhe Porco.
Por isso, sejam bem-vindos os torcedores temporários das Copas. Eu já preparei a pipoca, vou sentar no meu sofá e assistir ao espetáculo. Quero alegria, diversão e efeitos surpreendentes. Dispenso um romance no meio (que a Bruna Marquezine não desconcentre o Neymar), mas faço questão que os mocinhos vençam no final.