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Dossiê

Postado em 01/10/2000

Que bobo sou eu?
Em meio às dramáticas personagens que compõem a trama de Rei Lear, uma destaca-se por ser encarregada dos momentos de humor e por ser a única companhia de um Lear já destituído, inclusive de sua sanidade: o bobo. No palco, a personagem é vivida pelo ator gaúcho Gilberto Grotowski, que comenta seu papel: "O bobo é uma personagem cômica e muito lúdica. Fiquei surpreso como ele consegue arrancar risos da platéia, às vezes. Eu achava engraçado em alguns momentos, mas as pessoas não riam. Em outros que eu não espera, surgiram as gargalhadas. Além do mais, as pessoas sempre têm um respeito quase cerimonial com Shakespeare. Acham que tudo é tragédia e não têm muita coragem de rir".

Sem resgate
Esteve no palco do Sesc Pompéia o sambista e compositor Nelson Sargento. Representante da velha guarda do samba carioca, ele interpretou músicas de seu parceiro Geraldo Pereira. "Desde a década de 1940, conheço Geraldo Pereira, fomos muito amigos. Morávamos no Morro da Mangueira e freqüentávamos muito a casa um do outro, fazendo samba. Até que ele morreu, na década de 1950, com 37 anos. Eu o considero um grande sambista, que merece essa homenagem." Quanto ao samba atual, Nelson acredita que as coisas não mudaram muito. "Hoje, os instrumentos são mais sofisticados, como o banjo, que antes não era usado, ou a percussão, que ficou mais forte. Às vezes, as pessoas me perguntam se eu faço um 'resgate' do samba e digo: 'Não! O samba não foi seqüestrado!'. O samba está aí para quem quiser ouvir. Se ele ficou mais fraco, isso já é outra história."

Na intimidade
O clima intimista, que consagra a aproximação do artista com o público, tornou-se um dos principais atrativos dos espetáculos do já tradicional projeto Intimidade Musical, realizado pelo Sesc Pinheiros. No mês de setembro, o músico Johnny Alf esteve presente em três noites dentro do projeto, comemorando seus cinqüenta anos de vida musical. Sua participação foi dividida em três apresentações.
Na primeira, Johnny mostrou as influências de Caymmi, Dolores Duran, Custódio Mesquita e Garoto, que fizeram parte do seu repertório como cantor da noite; na segunda, mostrou como foi fundamental a sua participação no maior movimento da música popular brasileira, a bossa-nova; na última, o público esteve diante de um músico que ainda hoje é moderno e que empolga com seu talento sempre inovador.

Os entretantos
"Aula de uma coisa que não se ensina", assim o artista Nuno Ramos define a oficina que vem desenvolvendo há dois anos no Sesc Pompéia e que durante o mês de setembro mostrou seus resultados na exposição Entretantos. Esta mostra é a síntese do trabalho de Nuno: a idéia de pluralidade e a busca da identidade do mundo contemporâneo. "Na exposição, há uma grande diversidade de linguagem. O importante é que cada um busque por esta arte e através dessa exposição descubra-se mais ainda, unindo o reconhecimento do público ao desenvolvimento de cada um."

A nova arte africana
Em setembro esteve em cartaz no Sesc Pompéia a Mostra Africana de Arte Contemporânea. O evento é a marca do novo calendário da Associação Cultural Videobrasil que, junto com o Sesc São Paulo, promove mostras temáticas internacionais. Segundo a curadora Solange Farkas, as obras apresentadas "refletem, com seus trabalhos, uma condição peculiar à África e às regiões periféricas do capitalismo ocidental: o paradoxo de uma cultura globalizada entra em choque com as inquietações de quem convive com contradições e desigualdades sociais".

Pela paz
Em setembro, aconteceu em Brasília o Seminário Nacional da Cultura de Paz, promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pela Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. A convite dos organizadores, o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, discorreu sobre políticas e alternativas não-governamentais no combate à violência praticada nos centros urbanos.

Estudo da cidade
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), anunciou em setembro os dez centros de pesquisa que receberão financiamento pelos próximos onze anos. O Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos dez centros selecionados, foi o proposto pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), pela Fundação Seade (Sistema Estadual e Análise de Dados), pela TV Cultura e pelo Sesc/SP. As pesquisas serão realizadas nas áreas de urbanismo, demografia, trabalho, políticas públicas, meio ambiente, cultura e história da cidade. Os resultados desses estudos serão organizados em mapas, bancos de dados e análises e colocados à disposição de instituições, escolas e órgãos públicos. Para a população em geral, serão organizados debates cursos, exposições e mostras, apresentações artísticas e culturais e programas de televisão, além da publicação de livros, revistas e sites na Internet.

Dose dupla
Para quem curte a boa nova safra da música popular brasileira, setembro foi um prato cheio. Logo no início do mês, dose dupla especialíssima na choperia do Sesc Pompéia. Jairzinho Oliveira, filho de Jair Rodrigues, e Max de Castro, filho de Wilson Simonal, mostraram que o velho ditado "filho de peixe, peixinho é" pode ser a mais pura verdade. Max lançou seu CD em março de 2000 e deixou clara a influência de grandes mestres em seu som. De Ary Barroso a Jorge Benjor, as citações trazem para a MPB feita por Max uma interessante mistura de bossa-nova, samba e música eletrônica, sem deixar de lado o estilo "malandro", marca registrada do pai. Jairzinho também optou por ter controle total de sua música. Seu primeiro trabalho solo ainda está no forno, mas seu gosto por samba (influência do velho Jair Rodrigues), funk e acid jazz já dá um indício do caldeirão musical que o jovem músico e produtor está preparando.

 

Bruxinha premiada
A Companhia Fênix de Teatro, formada pelos idosos do Sesc Carmo, ganhou sete prêmios no Festival de Teatro Amador, patrocinado pela Secretaria Estadual de Cultura com a montagem A Bruxinha Que Era Boa, texto de Maria Clara Machado e direção de Terezinha Bertolini, freqüentadora das atividades do Sesc Carmo. Ela se formou como atriz e diretora, freqüentando as oficinas de teatro do próprio Sesc. "Minha formação é informal, mas, apesar de nunca ter cursado uma escola de arte dramática, desde muito criança já faço recitais e canto. Quando meus filhos nasceram, já montava com eles peças infantis." Terezinha conta que teve de adaptar a peça, originalmente de 9 personagens, para 19 pessoas. "O grupo é formado por vovós que gostam de contar histórias e são todas da terceira idade. Para se ter uma idéia, a mais nova da trupe tinha 64 anos."

De quem esteve lá
O ex-jogador de basquete Wlamir Marques disputou as Olimpíadas de Melbourne (1956), Roma (1960), Tóquio (1964) e Cidade do México (1968), conquistando duas medalhas de bronze, em 1960 e 1964. "O espírito olímpico não existe mais. Atualmente, para se ter idéia, há atletas que preferem não participar para não perder dinheiro. Na nossa época, ganhávamos um dólar e meio de diária e nossas medalhas têm mais valor hoje do que naquela época. Durante a competição, não havia muita interação com atletas de outros países, pois nosso cotidiano era muito corrido. Mas, sem dúvida, a maior emoção que senti, além de subir ao pódio por duas vezes foi no desfile de abertura."

Admirável circo novo
Esteve pela primeira vez no Brasil a companhia de circo francesa Convoi Exceptionnel, representante do que se convencionou chamar de Novo Circo. É um espetáculo sem estrutura dramática, sem coreógrafo, sem direção e sem divisão de cenas. Durante toda a apresentação, não há nenhuma palavra.
Jef Odet, integrante da companhia, resume as características do grupo: "O Novo Circo é um rótulo que não existe. Se olharmos para a história do circo, veremos que vários artistas tinham essa formação. Na verdade, esse rótulo surgiu quando o circo, na França, deixou de ser subsidiado pelo Ministério da Agricultura para ser apoiado pelo Ministério da Cultura".

Amor à literatura
No mês de setembro, o escritor paulista Ignácio de Loyola Brandão participou do Encontros Literários, no Sesc Belenzinho, para contar um pouco do seu processo criativo e do papel da literatura em sua vida. O autor leu um trecho do seu livro O Homem que Odiava Segunda-Feira e respondeu as perguntas dos presentes em um bate-papo descontraído. Acessível, porém um tanto enigmático, Loyola resumiu em poucas palavras o que o levou à literatura: "A curiosidade", disparou. E o que ela representa em sua vida hoje? Mais uma vez categórico, o escritor respondeu: "O sonho".

Inclusão esportiva
No mês de setembro, o Sesc Consolação foi uma das sedes do I Jogos Brasileiros para Cegos e Portadores de Deficiência Visual. Durante o torneio, 220 atletas disputaram competições nas modalidades natação, atletismo, judô, xadrez, futebol e goalbol (espécie de gol-a-gol, jogado com as mãos). Sobre o evento, Davi Farias Costa, presidente da Associação Brasileira de Desporto para Cegos, afirmou "ser uma conquista enorme, pois o esporte torna-se um elemento de integração. Só assim conseguimos retirar o estigma que pesa sobre a figura do deficiente. O esporte está vinculado à saúde, qualidade de vida e prazer", salienta.

Mortal e mortífero
Inspirado em um episódio verídico ocorrido no mar do Caribe, o curta-metragem Náufrago, que foi exibido no CineSesc, narra poeticamente a trajetória de um português (o mortal) (interpretado liricamente pelo cearense Cláudio Jaborandy) que, à deriva sobre alguns caixotes e sob um sol escaldante, indaga a Deus (o mortífero) sobre sua condição. Os dramas do marujo são agravados pela presença de um tubarão (a morte) que o espreita. "A opção pelo idioma português nativo tem o intuito de criar uma narrativa atemporal e ageográfica. A utilização do filme preto-e-branco também permitiu a criação de uma narrativa mais dramática; a fotografia é um elemento preponderante neste filme. O medo o mantém vivo e em condições para enfrentar a ordem divina", afirma o diretor Amilcar Claro, cujo trabalho foi premiado na Espanha, Chile e em diversas capitais do Brasil.

Prêmio para ilustrador
No dia 26 de setembro, Marcos Garuti, aluno do artista plástico Paulo Sayeg, recebeu o prêmio de Melhor Ilustrador no Troféu HQ Mix, o Oscar dos Quadrinhos, pelos trabalhos publicados na Revista E, em 1999. O resultado da votação foi obtido por meio da organização da Associação dos Cartunistas do Brasil. O troféu já está na 12a edição e tem reconhecimento internacional como o melhor da América Latina.

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