Postado em 01/09/2000
Amilcar João Gay Filho
A água, indubitavelmente, é elemento essencial para a existência e a sobrevivência de todos os seres vivos. É vital para a saúde pública, para a agricultura, para a agropecuária e para a manutenção do ecossistema. Uma riqueza natural que desempenha papel importante na construção da história da humanidade. Temos inúmeros exemplos - na Mesopotâmia, na Grécia, na Roma Antiga, em todo o Império Romano - de que o homem, há mais de cinco mil anos, preocupa-se com os sistemas de irrigação, de armazenamento de águas pluviais, de abastecimento das cidades e de esgotamento dos efluentes sanitários. A água, enfim, está intimamente associada à vida do homem: sempre foi fator determinante para o assentamento de todas as civilizações, contribuindo e influenciando enormemente nos seus hábitos alimentares e, geograficamente, servindo como ponto de referência na sua migração pelo planeta.
Temos água em abundância - parece-nos evidente que é um bem inesgotável. Mas o vertiginoso crescimento da população mundial e sua incessante busca pela subsistência fizeram-nos perceber que os recursos hídricos são finitos. O Brasil, que detém mais de 10% dos mananciais de água doce do mundo, uma reserva e tanto, não foge a essa realidade. Significativa parte dessa fonte, ironicamente, concentra-se na região Norte do país, justamente onde o adensamento populacional é pequeno. Nas demais regiões, onde a densidade é expressivamente maior, já são constantes os problemas de abastecimento.
Em uma análise mais criteriosa, percebemos, de um lado, que o Estado investe, quase que num círculo vicioso, para resolver os problemas de captação, tratamento, reserva e distribuição, e, de outro, considerando-se os custos relativamente baixos cobrados do consumidor, notamos um desestímulo aos investimentos nessa área. Poucas são as vantagens de uma empresa em investir parte de seu orçamento para economizar água se só terá retorno a longo prazo. Equipamentos como bacias com caixa acoplada e vazão de descarga reduzida, torneiras e registros de chuveiros com fechamento automático, seja pelo investimento em tecnologia, seja pela complexidade de mecanismos ou ainda pela tributação a que estão sujeitos, não chegam a ter preços de mercado que se tornem fator preponderante de escolha quando comparados a outros produtos concorrentes que não apresentam redução no consumo de água.
Precisamos buscar respostas culturais e éticas, precisamos despertar - e esta não será uma tarefa fácil - uma nova consciência em todas as camadas sociais, que demandará tempo e dinheiro, pois as mudanças no modelo capitalista só fazem sentido quando há a possibilidade de os investimentos remunerarem adequadamente o capital. Houve, no entanto, algum progresso. Se retroagirmos no tempo, verificaremos que na década de 1980 e nos primeiros anos da de 1990, muitos países já adotavam o uso de caixas de descarga. Aqui no Brasil sua utilização era ainda insignificante, mesmo porque não havia aceitação por parte dos usuários. Hoje a realidade é outra, a bacia com caixa de descarga já significa uma modernidade, temos casas e prédios de apartamentos construídos com esse tipo de aparelho. Há, porém, um contraste negativo - não deve ser exclusividade brasileira - nessa evolução tecnológica: duchas com sistema de aquecimento central são aplicadas sem nenhum controle de vazão e, o que é pior, gastam muito mais água do que os tradicionais chuveiros elétricos.
Devemos, frente a esse quadro, prestigiar a iniciativa de empresas que, ao levarem adiante os seus empreendimentos, preocupam-se também em preservar o meio ambiente com projetos ecologicamente viáveis. O Sesc é uma dessas empresas. Empenhado sempre em dar a sua contribuição social, investiu, inicialmente na sua unidade de Itaquera, em captação e desenvolvimento de equipamentos tecnologicamente adequados para a redução do consumo de água, estimulando os seus profissionais a desafiar os riscos decorrentes dessas inovações que significam a ruptura com o tradicional. Essa cultura antidesperdício praticada pelo Sesc há mais de dez anos, com sucesso, nos leva a refletir que vale a pena todo e qualquer esforço que privilegia a racionalização do uso e aproveitamento dos nossos mananciais.
Amilcar João Gay Filho é gerente de
Serviços de Engenharia do Sesc/SP