Postado em 01/08/2000
A aplicação da tecnologia nos esportes e nas atividades físicas pode ser conferida a partir do próximo mês, quando atletas do mundo inteiro batalharão por milésimos e centésimos de segundos atrás das cobiçadas medalhas olímpicas em Sidney. Já é notório que, cada vez mais, a performance esportiva, principalmente no que concerne às disputas profissionais, depende dos materiais utilizados na confecção dos equipamentos - design, leveza e eficiência condicionam o sucesso e o fracasso de um esportista.
O esporte de competição, como se sabe, é restrito a uma pequena parcela da população, deixando à margem milhões de pessoas despreocupadas com a quebra de recordes. O que poucos sabem, no entanto, é que mesmo para essa imensa maioria a tecnologia desenvolvida para otimizar o resultado dos profissionais pode se reverter em benefícios inestimáveis, auxiliando até mesmo a aumentar o número de praticantes.
Tecnologia e Inclusão Social foi um dos temas de discussão do Seminário de Esporte e Inclusão Social realizado pelo Sesc Vila Mariana no final de junho. Mediada por Luiz Wilson Pina, da Assessoria Técnica e de Planejamento do Sesc de São Paulo, a mesa contou com dois convidados internacionais.
Thomas Rosandich, vice-presidente da United States Sports Academy, um dos participantes do evento, em entrevista exclusiva à Revista E introduziu assim o tema: "A profundidade e a extensão da 'revolução tecnológica' continuam crescendo no seio da sociedade. Seu impacto se estende muito além do que a maioria das pessoas costuma pensar em termos de 'tecnologia'. A maioria de nós já ouviu falar da mudança de paradigma que ocorre atualmente na medida em que nos movemos da Era Industrial para a Era da Informação. A tecnologia de informação e a tecnologia de computação estão conduzindo as mudanças por meio dos diversos ramos de atividade social e, portanto, esportes e atividade física não são exceções à regra".
O desenvolvimento tecnológico aplicado aos equipamentos e à gestão esportiva transformaram-se em poderosas armas para a inclusão social. Cada uma delas auxilia a seu modo: "Entre as tecnologias manufaturadas, a 'moldagem rotativa' fez a grande diferença. Esse processo, que consiste em cunhar um elemento à base de PVC nas formas mais variadas, permite o máximo controle de tamanho, peso e textura dos produtos", explica Barry Traub, vice-presidente da Sportime International, empresa norte-americana especializada na confecção de equipamentos inclusivos. Assim, é possível fabricar bolas, suportes e acessórios mais leves, maiores e adaptáveis, facilitando o uso por parte de idosos, crianças e pessoas portadoras de deficiência. "Não se trata de adaptar as pessoas às modalidades, mas sim de adaptar as modalidades às pessoas. Nesse caso, a tecnologia é um importante instrumento", salienta Luiz Wilson Pina.
Para Rosandich, a tecnologia de informação "permite aos gerentes serem mais efetivos, pois libera recursos adicionais que podem ser empregados para aumentar a quantidade de atividades esportivas e, portanto, atingir um número maior de participantes. Ferramentas de informática, como banco de dados, podem ser utilizadas para administrar programas de atividades esportivas, aumentando o potencial de participantes".
Como incluir?
Um bom exemplo levantado por Barry Traub foi o trauma que as crianças têm ao sofrer um acidente praticando atividades físicas: "Nos Estados Unidos, muitas atividades (como o trampolim) foram abandonadas devido à recusa dos pais em aceitar o princípio do risco calculado. Se a criança sobe em uma árvore, elas correm o risco de cair. Se isso ocorre, é por culpa da criança e não de quem plantou a árvore. Os equipamentos que a Sportime produz foram desenvolvidos para limitar as possibilidades de acidentes. Eles 'eliminam o medo de tentar'". Ele prossegue: "É necessário prestar atenção nos perigos intrínsecos aos produtos. Um exemplo: uma bola de vôlei oficial com 280 gramas é muito pesada para ser utilizada em escolas primárias".
Porém, o emprego de novas tecnologias deve ser acompanhado de outras medidas de suporte, como o acompanhamento de profissionais gabaritados e capacitados: "É preciso uma perfeita adequação aos aspectos fisiológicos, morfológicos e cinestésicos das pessoas, novamente considerando suas diferenças, sempre tratadas com a mesma postura técnica: facilitar, estimular, orientar, animar, vivenciar e cooperar", explica Luiz Wilson Pina. "A tecnologia sempre será complementar e auxiliar nos processos adotados. Por exemplo, sistemas que auxiliam a entrada das pessoas com dificuldades de locomoção na piscina. Muitas vezes, a principal dificuldade não é a pessoa se movimentar na água, mas sim chegar até a piscina", finaliza o especialista.