Postado em 18/10/2013
De 24 a 27/outubro, o Sesc Sorocaba apresenta "Benditos Malditos", ousados e inovadores, estes artistas geniais são pura poesia e revolucionaram a forma de se fazer música
Eram muitos – e ainda são - os rótulos aos estilos e movimentos musicais. Na década de 70, entre a tropicália, a bossa nova e a jovem guarda, alguns músicos foram tachados de malditos. Ousados e inovadores, estes artistas geniais são pura poesia e revolucionaram a forma de se fazer música. "É fácil reconhecer um maldito da MPB. Se ele aceitar esse rótulo cretino facilmente, certamente não é um. Ninguém faz arte para ser maldito. O artista deseja ser compreendido, comunicar-se com o público, compartilhar suas angústias. Em outras palavras, ser benquisto, ser bem-vindo, ser bendito. Acontece que isso nem sempre se dá em larga escala. E, nos anos 1970, a imprensa (sempre ela!) passou a chamar alguns nomes interessantíssimos da música brasileira de malditos. Como todo apelido que irrita o apelidado, a expressão pegou", explica o jornalista musical José Flávio Júnior.
Tom Zé, que se apresenta no dia 27, conta, no texto a seguir, sobre aquela época e sobre o repertório do show:
“Nos anos 70 eu sobrevivia graças à classe universitária paulista, já muito numerosa na capital e no interior e que podia bancar um artista. Os diretórios me ligavam, eu atendia pessoalmente, combinávamos os termos e cachês, eu pegava Vicente Barreto e, como ele não sabia guiar, o chofer era eu, em repetidas viagens por Bauru, Sorocaba, Ilha Solteira, Presidente Wenceslau, Rio Preto, Ribeirão Preto.
Muitas vezes a universidade ou algum curso estava fazendo uma greve ou uma passeata e, quando eu chegava cedo, acabava fazendo parte do corso. Era um universo muito bem-dito.
Vou contar uma inversão muito curiosa que aconteceu em Bauru:
Em 1985 estávamos no arrefecimento da ditadura; gente do PMDB, mais PT, estava de volta ao Brasil. Falo dos políticos que tinham sido exilados. Estes, querendo fazer uma espécie de serenata para o presidente Eduardo Frei, do Chile, que os havia hospedado, me convidaram para tal. Muito bem. Depois da segunda canção, mandaram tomar o microfone da minha mão. Ou seja, censuraram minha música. Havia, por exemplo, letras como “O povo há de sobreviver / aos seus benfeitores”, etc. etc.
Pois bem: em Bauru, o delegado da Polícia Federal era muito duro e o pessoal do diretório estava preocupado. Eu propus pedir ao delegado para ir cantar lá na Polícia Federal. Ele deu permissão e eu cantei para ele as músicas que o PMDB tinha censurado. Ele se entusiasmou, dizendo: “Ótimo! Ótimo! Pode cantar todas!”, para surpresa nossa. Há décadas tento saber o nome dele, para citá-lo.
O fato é que todo o meu repertório daquela época era objeto de discussão com a classe universitária; como nem sempre estávamos de acordo, a coisa ficava muito animada.
Com minha banda, apresentarei no Sesc um repertório voltado para a fase, para vivê-lo com o público de Sorocaba. Trazendo para o presente uma época que estava prenunciando algo novo. No repertório (repito “repertório” mas não fico à vontade falando “set list”; querer ser anglo-saxão não é a meta) figuram canções que a plateia habitualmente segue e pede, como Menina Jesus.
Na banda, que há tempo me acompanha com muita competência, estarão: Daniel Maia, produtor de meus discos recentes, guitarrista/vocalista; Jarbas Mariz, violonista, bandolinista, percussionista, vocalista; Cristina Carneiro, tecladista/vocalista; Felipe Alves, baixista/vocalista; Rogério Bastos, na bateria.”
Confira o repertório que será apresentado por Tom Zé (que fez questão de selecionar as músicas):
Cultura do Abacaxi (Tom Zé)
Menina Jesus (Tom Zé)
Minha Carta (Tom Zé)
Requerimento à Censura (Tom Zé)
Sem Saia, Sem Cera, Sem Sura (Tom Zé)
Só (Solidão) (Tom Zé)
Nave Maria (Tom Zé)
Vá Tomar (Tom Zé)
Dói (Tom Zé)
1, 2, Identificação (Tom Zé)
o que: | Anelis Assumpção e Tom Zé |
quando: |
27 de outubro, às 18h |
onde: |
Sesc Sorocaba | R. Barão de Piratininga, 555 | 15 3332-9933 |