Postado em 16/10/2013
Em entrevista exclusiva, Inezita Barroso relembra momentos emocionantes de sua trajetória no programa 'Viola, Minha Viola' (TV Cultura), cujas gravações, devido à reforma no Teatro Franco Zampari, acontecem no teatro do Sesc Bom Retiro
"Mostrar o caipira, que ainda fica escondido, que as pessoas ainda tem vergonha", essa é a característica que marca os 33 anos de transmissão initerrupta do programa Viola Minha Viola, segundo por ninguém menos que Inezita Barroso. O programa é considerado a principal fonte de registro da música caipira no contexto audiovisual. Resistindo às mudanças da sociedade o Viola se renova e faz sucesso entre o público de todas as idades, sob o comando da cantora e folclorista Inês Madalena Aranha de Lima, mais conhecida como Inezita Barroso. Aos 88 anos de idade ela participa de todas as gravações que devido à reforma no Teatro Franco Zampari, acontecem agora no teatro do Sesc Bom Retiro.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Eonline: O que representa a marca de 33 anos de programa?
I.B.: É importante para mostrar o caipira, que ainda fica escondido, que as pessoas ainda tem vergonha. Desde o primeiro Viola já estavam as Irmãs Galvão, já estava o Moraes Sarmento, o Lio e Léu, quer dizer, os meus “soldados” (risos). Então, assim ia andando o programa e não é que deu certo? No programa de hoje, tivemos uma dupla bem jovem e outra famosa, misturou tudo. E é cada vez mais gente jovem querendo saber.
Eonline: As mudanças na sociedade criaram uma oposição aos valores do campo?
I.B.: Todo mundo procura esconder o caipira, ainda. Aquela ideia de que o caipira é idiota, é burro, é sujo, é doente, é tudo de ruim que possa existir. Gente, tem tanto livro na biblioteca, vai lá ler um pouquinho, leia Mário de Andrade, leia todos estes caipiras. O Mário era um intelectual importantíssimo...
Eonline: Estas mudanças influenciaram o programa de alguma forma?
I.B.: Pelo fato de o programa lidar com música caipira ele foi prejudicado em alguns momentos, sofreu muito preconceito. O segredo para combater este preconceito é a audiência, o conhecimento e não ceder aos modismos. Já viajamos muito com o programa. A gente não trabalha por dinheiro, não tem taxímetro, a gente ia porque gostava. A audiência do Viola no interior do Brasil é muito maior do que na capital. Em Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia... Na Bahia, como eles amam o Viola! Isso é muito bom para nós, eu fico muito feliz. E não me arrependo de ter dado minha vida para isso.
Eonline: Por que seu nome artístico é Inezita Barroso?
I.B.: Meu nome é Inês, a minha mãe era Inês também, como tinha as duas em casa daí veio meu apelido Inezita. Barroso é do casamento, então ficou Inezita Barroso. Eu queria tirar depois eu me desquitei. O meu sogro era um grande chefe da Petrobrás, Aloísio Barroso, mandava e desmandava em São Paulo, e ele gostava muito de mim. Eu já estava brigada com o filho dele, e ele foi lá em casa, falei: "ai meu Deus o que homem vai pedir?". Ele era muito bravo. Sentou, ofereci café, água de coco; ele não quis, pediu para eu sentar porque queria me falar alguma coisa. Eu já estava separada do filho dele, só faltava acabar o desquite. Ele falou: vim aqui só pedir uma coisa para você. Pensei: "que velho chato, pedir, nunca pediu nada!" Ele falou assim: "eu vim aqui minha filha, para pedir para você não tirar meu nome". Fiquei tão besta, porque ele era muito bravo. E disse com os olhos cheios de lágrimas: não tira o Barroso, que vai dar certo. E não é que deu? Essa é uma das situações mais lindas da minha vida.
Eonline: Qual o momento mais importante da sua carreira?
I.B.: Foi quando o Viola fez trinta anos e eu fugi do hospital (risos). Eu levei um tombo da cama, rolei e cai embaixo da cama, fiquei cinco horas lá embaixo. Não quebrei nada, mas a dor e o escuro... porque eu durmo de luz acesa, já que eu moro na capital a luz fica acesa. Mas neste dia eu estava cansada, então falei vou apagar a luz. Estava na véspera dos 30 anos do programa e eu péssima no hospital. O programa ia ser gravado às 14h, eu chamei o médico, ele disse “não pode sair” e eu falei “mas eu vou sair”. Telefonei para casa, pedi umas roupinhas e às 14h eu já estava no Ibirapuera. E eu nem sabia quem ia. Nossa, mas foi lindo aquele programa.
Eonline: O que representa para você gravar o programa no Bom Retiro?
I.B.: Tenho muito carinho por esta região, nasci aqui perto, na Barra Funda, na Rua Lopes de Oliveira. Gravei o Viola por 32 anos aqui pertinho e gravar no Sesc Bom retiro é uma história que se une. Ainda mais porque eu sou Corinthiana roxa! O Corinthians foi fundado há dois quarteirões do Sesc Bom retiro, debaixo de um lampião de gás que foi a inspiração uma das minhas músicas mais famosas (Lampião de Gás, composta por Zica Bergami).
A seguir, você pode assistir a um trecho do programa que foi ao ar no dia 29/09/2013:
o que: | Viola, Minha Viola |
quando: |
22 de outubro, às 15h |
onde: |
Sesc Bom Retiro | Alameda Nothmann, 185 | 11 3332-3600 |
ingressos: | Grátis, consulte procedimentos para inscrição na plateia |