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Dossiê

Postado em 01/08/2000

Com a palavra, Décio Pignatari

O poeta, um dos principais nomes do concretismo, proferiu em julho uma palestra no Sesc Pinheiros, dentro do projeto Com Todas as Letras.

Como as novas tecnologias interferem no diálogo entre as mensagens do tipo verbal e as do tipo não-verbal?
Houve um aumento muito grande na escala de conflitos desse diálogo. Podemos comparar esse fenômeno com a presença dos automóveis. No mês passado, foram contabilizados na cidade de São Paulo cinco milhões de veículos. Mas, em contrapartida, não existe infra-estrutura para suportar esse contingente. A mesma coisa ocorre com os computadores. É preciso, antes de instalá-los, fornecer educação básica, ensinar a cartilha fundamental da educação.

Os recursos de computação facilitam a resolução desses conflitos?
Não. Há muita informação inútil e mal aproveitada. Os softwares são muito superiores à cabeça dos usuários. Eles apresentam mais opções do que se consegue lidar. Diante de um computador, alguém que não saiba quem foi Kandinsky pode fazer arte abstrata.

Quebra de barreira nas artes

Esteve em cartaz, de 20 de junho a 16 de julho, no Sesc Pompéia, a exposição Território Expandido II, uma homenagem aos indicados do Prêmio Multicultural Estadão, organizado pelo jornal O Estado de S. Paulo. A exposição foi uma realização do Sesc de São Paulo em parceria com o jornal.
O enfoque das obras expostas este ano foi a quebra de fronteira entre as áreas artísticas. Algumas das catorze obras expostas "encarnaram" esse fenômeno apropriando-se também da fotografia, até então à margem das chamadas artes plásticas. Os artistas, escolhidos pela curadoria da exposição, tiveram como tema de seus trabalhos a expansão do campo da atividade artística e seus principais personagens, no caso, os indicados para o Prêmio Multicultural Estadão. (na foto, Língua, de Lygia Pape)
Os vencedores deste ano foram a professora de filosofia Marilena Chauí, o poeta Ferreira Gullar, o geógrafo Milton Santos e o Projeto Guri.

Através do vídeo

Em julho, o Sesc Consolação iniciou o evento Focos da Diversidade, que, como o próprio nome sugere, pretende colocar em foco as diversas manifestações e linguagens da arte contemporânea.
Trata-se de uma série de cursos informativos, de curta duração, abrangendo conceitos históricos, teóricos e práticos.
O evento foi inaugurado com a série Vídeo-Criação, que propõe um contato mais próximo com a linguagem de vídeo em seus mais diversos segmentos. Nomes como André Lopes, Tika Tiritilli e Artur Matuck dividem um pouco de seu talento com leigos e profissionais.
Para os próximos meses serão abordados: "O Brasil pelas Artes Visuais - Modernismo e Tropicália", "Laboratório de Poesia - Oficinas de Criação de Textos Poéticos" e "Por Dentro da Cena".

A cenografia como destaque

O Sesc Vila Mariana realizou, de 4 a 8 de julho, dentro do evento Palco em Cena, com o apoio do British Council e Festival Internacional de Londrina (Filo), o Fórum Internacional de Arquitetura Teatral, para discutir as principais características da arquitetura teatral contemporânea. Participaram do fórum: Iain Mackintosh (na foto), J. C. Serroni e Antônio Lagarto (cenógrafo do espetáculo Madame), entre outros. A seguir, entrevista com o cenógrafo e arquiteto J. C. Serroni.

Pensando no público leigo, qual a importância do cenógrafo na montagem e no sucesso de uma peça?
Hoje, cada vez mais, a cenografia vem ocupando espaço e criando uma autonomia de linguagem. É claro que ela não se preocupa com diferentes públicos. Ela está a serviço do espetáculo. Mas para o leigo é claro que impressiona mais a cenografia de efeito e a cenografia grandiosa, que nem sempre se traduzem em boas cenografias. Uma outra referência para o leigo é a cenografia que ele vê na TV. Ele acha muitas vezes que a boa cenografia é aquela que imita a da televisão, quase sempre uma cenografia realista. Dessa forma, muitas vezes o sucesso de uma peça passa pelo trabalho do cenógrafo. Na medida em que o cenógrafo aproxima sua linguagem do gosto desse público, ele afirma no seu trabalho um certo sucesso. Porém, nem sempre uma boa cenografia garante o sucesso de um espetáculo. Ele deve ser bom pelo todo.

Como ela se relaciona com os atores e com os diretores?
A cenografia é uma arte integrada. Não nasce nem vive só. Ela é melhor quanto mais se harmoniza com o todo. Nessa harmonia pesa muito a relação com a luz e o figurino. Mas, sem dúvida, ela deve estar integrada ao trabalho do diretor e principalmente dos atores, que, ao meu ver, são sempre o centro do espetáculo.

Qual foi o resultado dos debates?
O resultado foi muito produtivo, tanto aqui em São Paulo, no Sesc Vila Mariana, como em Londrina, durante a primeira fase do Fórum. Um balanço será realizado no próximo número do jornal Espaço Cenográfico News, edição nº14, que deve ser lançado no início deste mês. O simples fato de trazer à tona e juntar experiências de profissionais escoceses, uruguaios, venezuelanos, paraguaios, mexicanos e brasileiros já é por si só muito positivo. Tivemos uma ampla mostragem de experiências que podem ser comparadas e rediscutidas de forma muito enriquecedora.

Prévia de Sidney

A olimpíada começa no próximo mês, em Sidney. Mas o Sesc Consolação se adiantou à festa e realizou, em julho, uma prévia do maior evento esportivo do mundo: o projeto Férias Olímpicas - Sesc Consolação 2000. Quem compareceu na unidade experimentou ao vivo um pouco daquilo que poderá ser visto em setembro pela TV. O cenário olímpico ficou por conta do ginásio, todo ambientado com equipamentos de ginástica, como barra paralela, cavalo sem alça, traves de equilíbrio, trampolim acrobático, entre outros.
A idéia foi proporcionar a crianças, adolescentes e adultos a vivência em aparelhos e modalidades esportivas de forma adaptada e orientada por profissionais da área.
Para viabilizar o projeto, os técnicos do Sesc Consolação contaram com o apoio de profissionais das instituições de educação física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Faculdade de Educação Física de Santo André (Fefisa).
Além das performances, apresentações e demonstrações de grupos nas diferentes modalidades artísticas e olímpicas, o evento apresentou vivências em ginástica rítmica alternativa, conhecida pela beleza dos movimentos corporais no manejo de aparelhos como corda, bola, fita e arco; e de ginástica olímpica, praticada em aparelhos como barra paralela, cavalos sem alça, traves de equilíbrio e solo.
Complementando a programação, foram realizados jogos de vôlei, basquete, futsal e festivais de tênis de mesa e tênis de quadra, bem como bate-papos e exibições de vídeos sobre o tema.

Dez anos do Estatuto da Criança e do Adolescente

O Sesc Itaquera realiza até 27 de agosto, o projeto Exploração Infantil: Educação Através das Imagens, em parceria com a Ação Educativa - Assessoria, Pesquisa e Informação, o Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Idaco (Instituto de Desenvolvimento e Ação Comunitária). O projeto acontece em comemoração aos dez anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. O evento compreende uma série de atividades que tem como objetivos "fortalecer valores sociais que redefinam o lugar da infância e da adolescência na sociedade e favorecer a incorporação de novos agentes sociais na luta pela erradicação do trabalho infantil", segundo os organizadores.
Debates, palestras, exposições fotográficas, exibição de vídeos e slides, oficinas de monitores para estudantes do ensino médio e universitários e oficinas para professores são as atividades que compõem o projeto. Entre os destaques da programação, está a exposição fotográfica Imagens do Trabalho Infantil (foto).
A mostra é composta por 45 registros, em preto-e-branco. São flagrantes da realidade das crianças trabalhadoras, realizadas pela fotojornalista Iolanda Huzak, entre 1993 e 1999, em oito estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul.

Eunice Muñoz, uma madame no Brasil

Em sua temporada no Brasil, quando encenou a peça Madame, texto de Maria Velho da Costa, em julho, no Sesc Vila Mariana, contracenando com Eva Wilma, a atriz portuguesa Eunice Muñoz falou da experiência de se apresentar ao público brasileiro. O enredo da peça mostra o encontro de Maria Eduarda, personagem de Os Maias, de Eça de Queiroz, e Capitu, protagonista de Dom Casmurro, de Machado de Assis, quando ambas estavam recolhidas na Europa.

Mesmo a peça sendo em português, houve alguma preocupação em trabalhar sua pronúncia para aproximá-la do padrão brasileiro?

Não. Eu fazia uma portuguesa e, portanto, era em português de Portugal que eu tinha de falar. O mais problemático é que o ritmo do espetáculo ficou prejudicado porque eu precisava falar lentamente, tentando fazer com que os brasileiros pudessem me acompanhar, pudessem perceber o que eu dizia.

Qual era a sua ligação prévia com as duas personagens?
Li Os Maias, de Eça de Queiroz, pela primeira vez ainda no colégio e, portanto, conhecia-o muito bem. Já Dom Casmurro, li há pouco tempo como preparação da peça.

A senhora já encenou alguma peça de autor brasileiro? Qual autor brasileiro gostaria de encenar?
Não. Estou conhecendo o teatro brasileiro neste momento. Sou bastante ignorante no que diz respeito ao teatro brasileiro. Conheço alguma coisa de Plínio Marcos, mas tenho mais contato com os poetas do que com os dramaturgos brasileiros. É uma pena, mas este mar que nos separa faz essas partidas...

Eduardo Tolentino veste a noiva na Polônia

Uma das peças mais polêmicas de Nelson Rodrigues, Vestido de Noiva, foi encenada por atores poloneses durante o mês de julho no teatro Sesc Anchieta. Sob direção de Eduardo Tolentino, a montagem foi a mesma apresentada em Lodz e Cracóvia, na Polônia. A seguir, o diretor conta sua experiência no Leste Europeu. (na foto, a atriz Natalia Strzelecka)

Vinte anos após a morte de Nelson Rodrigues, uma releitura de Vestido de Noiva ainda é atual?
Eu já havia montado a peça em 1994 e acredito que ela seja uma obra da maior importância. Vestido de Noiva é uma grande peça. Ela definitivamente transcende seu tempo. Embora Nelson Rodrigues retrate um Brasil diferente do atual, essa visão fica apenas na superfície. Quando se penetra no âmago da obra, percebe-se que os conflitos permanecem até hoje.
O senhor montou Vestido de Noiva na Polônia, com atores poloneses e traduzida para a língua local. Essa peça de Nelson Rodrigues também transcende o espaço?
Sem dúvida. Essa é uma obra universal. No começo, os atores poloneses não estavam acostumados com esse tipo de dramaturgia, mas com os ensaios, que duraram sete semanas, eles se apaixonaram pelo texto. Eles são muito bem preparados. Ao mesmo tempo, a reação do público foi surpreendente. A audiência ficou abismada de como era possível rir com uma peça cujo mote é a morte.

Como foi o processo de adaptação a uma obra brasileira? Foram feitas adaptações no texto original?
Não se mexeu em uma linha. Na verdade, quando eu cheguei lá, a peça já estava traduzida. Mas a tradutora se baseou no português falado em Portugal. No começo, eu não percebi bem a diferença, mas os atores me ajudaram muito a aproximar a tradução da realidade rodrigueana. Fomos alterando a tradução para buscar a essência dos diálogos criados por Nelson Rodrigues que, se na aparência parecem ser superficiais, na verdade são arquitetados com um ritmo próprio. Se você notar, ninguém fala da maneira como Nelson Rodrigues escreve, mas ele nos faz acreditar que falamos assim.

Brasil redescoberto

Em uma tarde de julho, um grupo de terceira idade do Sesc Carmo visitou a Mostra do Redescobrimento + 500. Veja suas impressões:

Dona Harumi Yasuda, 65 anos
"É apaixonante. Foi uma pena que tenhamos ficado tão pouco. Visitamos só dois módulos, o de arte barroca e o do século 19. Mesmo assim, tinha muita coisa para ver. O engraçado é que passamos o tempo todo andando por lá e nem cansou. Tinha muita coisa bonita para ver. O pessoal do Sesc é muito prestativo. Havia monitoras que ficavam contando a história das obras. Isso despertou o meu interesse pela arte e pelas coisas do Brasil. Devo voltar lá, mesmo sem o Sesc, para visitar o restante da mostra."

Dona Angelina Lascala C. Pinheiro, 72 anos
"Eu adorei. Visitei peças do século 19 e as lindas imagens do barroco. Acho que uma mostra como essa vai demorar para sair da cabeça das pessoas mesmo depois que acabarem as comemorações dos 500 anos. Não sei se vai ficar para todo mundo, mas eu não esquecerei as coisas que vi na mostra."

Sr. Alberto Abir Schammas, 85 anos
"Uma das coisas que eu mais achei interessante foi o que aprendi durante a mostra. Na parte das pinturas do século 19, vi o quadro do esquartejamento de Tiradentes e fiquei muito impressionado. Acho que essa exposição vai marcar as pessoas. Eu conversei com os meus colegas durante a visita e estavam todos impressionados com o que estavam vendo. Aprendi muito."

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