Postado em 04/10/2013
17 cidades de São Paulo recebem a 'Itinerância 2ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental' que chega em novo formato para abordar questões ambientais. De 1/out a 3/nov
De 1 de outubro a 3 de novembro, a itinerância da Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental surge em sua 2ª edição, com o objetivo de chamar a atenção para questões de meio ambiente, sustentabilidade, cidadania, governança, participação e políticas públicas.
A EOnline conversou com Chico Guariba, economista que atua há 30 anos com meio ambiente, comunicação e educação. Chico, que é um dos fundadores da ONG Ecofalante que, junto com o Sesc, realiza a itinerância da Mostra, falou sobre sua história, os temas da mostra, a seleção dos filmes, os impactos dos filmes em algumas comunidades e da relação com os movimentos ambientalistas. Confira a seguir os principais trechos da conversa:
EOnline: Como você entrou nisso? Qual seu percurso?
Chico Guariba: Tenho formação em economia, mas trabalho há 30 anos com meio ambiente, comunicação e educação. A partir do desenvolvimento de um projeto percebemos a necessidade de desenvolver um trabalho mais amplo em âmbito nacional, foi então que em 2003 um grupo de amigos criou a ONG Ecofalante. O objetivo é estimular as questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável. Inicialmente ministrávamos cursos e produzíamos documentários socioambientais, que quase sempre iam para a televisão e faziam parte do circuito de festivais nacionais e internacionais, mas com o passar do tempo percebemos que faltava uma plataforma ampla que promovesse a vinda dos documentários internacionais para o Brasil. Havia pouco diálogo entre o Brasil e a grande produção internacional. Hoje existe uma grande produção de filmes e Festivais de cinema ambiental no mundo inteiro. A questão ambiental deixou de ser uma pauta exclusiva dos documentários sobre meio ambiente e passou a ser pauta de documentários de maneira geral, presente nos maiores festivais de documentários do mundo. E foi nessa janela que encontramos a possibilidade de criar a Mostra Ecofalante de Cinema.
EOnline: Como os temas foram escolhidos? Você poderia falar um pouco de cada um?
C. G.: Na verdade, eles não foram escolhidos, pois eles refletem a análise da produção do ano. A partir dos filmes escolhidos percebemos os temas que estão em voga. Na temática água, por exemplo, foram escolhidos dois filmes para essa itinerância: Quem Controla a Água e A Crise Global da Água.
Temos filmes que abordam pela primeira vez a questão do meio ambiente urbano, as cidades. Isso foi um ganho muito grande para a segunda Mostra, pois demonstra que as pessoas estão entendendo melhor a questão ambiental. Hoje, no estado de São Paulo, 96% da população mora em cidades, no Brasil são mais de 80%, e 50% no mundo, índices vistos pela primeira vez. Ficou pra trás aquela visão de que meio ambiente são só floresta e índios. Hoje é compreendido que o meio ambiente urbano está muito integrado, e é exatamente aqui na cidade, onde vivemos. É aqui que a gente sofre questões de trânsito, poluição, clima etc. Tudo isso é reflexo da maneira com a qual nos relacionamos com o meio ambiente de maneira geral. Portanto, a inclusão dessa temática foi de extrema importância nessa edição.
Outra temática é a questão da contaminação, nós vivemos em uma sociedade industrial, extremamente química, esse tema está presente no mundo inteiro e principalmente nas cidades. É uma discussão necessária com a explosão ascendente do câncer por meio da contaminação.
Outro eixo muito interessante é a economia, pois retrata como ela se apropria dessas questões socioambientais. Um dos filmes mais importantes é a Fé nos Orgânicos, que mostra como a indústria americana, por ser desregulamentada pelo governo, simplesmente se apropriou do selo Orgânico. Quase 70% dos alimentos produzidos e classificados como orgânicos não o são de fato. E há uma grande interferência dos lobbys, de agricultura principalmente, que agem para que não haja mudanças nas políticas ambientais.
Outro eixo marcante é o de globalização, existe uma série de filmes que mostram como a globalização está produzindo uma devastação ambiental. Por exemplo, o filme Amargas Sementes, que foi exibido na abertura. É um filme sensacional que faz uma análise de como as grandes corporações produzem sementes transgênicas em massa e acabam com as pequenas produções locais e regionais, mudando o modo de cultura dessas comunidades e acabando com essas pequenas produtoras. Também mostra como a globalização da pesca tem efeitos devastadores sobre a população de peixes presente nos oceanos. É uma série de questões geradas pela globalização que estão exaurindo o meio ambiente.
Outro eixo é a mobilização, que no primeiro ano era chamado de ativismo. Ele reflete uma série de filmes sobre lugares em que as comunidades se reúnem pra exigir seus direitos, combater danos e criar novas possibilidades, melhorando a qualidade de vida das suas cidades. Na itinerância são dois filmes que abordam essa temática. Um deles é o Eco- Pirata: A História de Paul Watson, que foi o co-fundador do Greenpeace e, após rompimento com a ONG, fundou o Shepherd Conservation Society, que luta indiscriminadamente, de uma maneira até violenta, pelo combate da pesca predatória. Outro é o O Gasoduto que retrata uma pequena comunidade no norte da Irlanda que foi ameaçada por uma grande empresa internacional de petróleo e gás que quer construir uma plataforma e passar um gasoduto, destruindo a comunidade, que por sua vez se reúne em um combate para evitar a construção.
"Povos e lugares” relata como certas comunidades, povos e lugares estão sendo extintos ou modificados radicalmente pela evolução do capitalismo. Como o filme Louceiras, produzido pelo Sesc TV, e também o Desterro Guarani, sobre a luta dos povos guarani no Brasil, que hoje está em todos os jornais.
Temos ainda algumas sessões especiais que são filmes usados para tratar de algumas discussões específicas, além da Mostra Infanto Juvenil, que é fundamental, pois auxilia na formação do público. Serve como uma contribuição didático-pedagógica para o setor público, para que as escolas possam dar continuidade na discussão fomentada pela Mostra.
EOnline: Como foi a seleção dos filmes?
C. G.: Inicialmente, uma equipe de seis pessoas especializadas em curadoria, analisou mais de 1.000 filmes por meio das sinopses e trailers. A partir disso, foram escolhidos os filmes que serão exibidos. Neste ano foram mais de 300 longas-metragens, selecionamos alguns para a Mostra principal e para a Mostra Infantil. Para a itinerância foram selecionados cerca de 50 filmes. Nesta edição foram abertas inscrições para os filmes nacionais e recebemos cerca de 100 títulos. São filmes de características bem distintas, pois o cinema ambiental no Brasil está insipiente ainda, pois é exigido conhecimento, tempo de pesquisa e produção muito grandes. Recursos são necessários e no país ainda são limitados para a atividade audiovisual. Hoje não existem leis de incentivo com editais específicos para esse tipo de temática. Outra problemática é que as leis de incentivo não facilitam para o realizador, já que se tratam de filmes que atingem temas polêmicos, interesses da sociedade, e a maior parte das empresas não querem estar associadas. Portanto, ainda há um longo caminho de desenvolvimento do cinema ambiental no país. Porém, uma das funções da Mostra é exatamente esso: estimular a produção nacional de filmes ambientais. Inclusive, para a 3ª Mostra, que começará em março de 2014, nós estamos abrindo inscrições para filmes latino-americanos. No próximo ano será oferecido um prêmio de R$15.000,00 para o melhor filme latino-americano. Haverá também um prêmio de público, uma inovação da próxima Mostra.
EOnline: Como a Mostra se relaciona efetivamente com os movimentos ambientalistas?
C. G.: A Mostra está iniciando um trabalho. O nosso diferencial são a pesquisa e a curadoria. Diferente de outros festivais, nós procuramos dar um enfoque na qualidade cinematográfica. São mais de 1.000 filmes analisados e é feita uma seleção de 70 filmes a cada ano. Existe um trabalho voltado à educação e a partir de uma segunda análise são estabelecidos eixos temáticos que unem esses filmes. No primeiro ano havia seis e agora são sete eixos. e então, convidamos principalmente membros de organizações não governamentais, cientistas e técnicos especializados para assistirem aos filmes e elaborarem textos de referência. Essa produção faz parte dos catálogos da Mostra. Ao fazer esse trabalho começamos uma integração com a inteligência do movimento e pessoas que são ligadas às questões socioambientais. Esse é o primeiro passo, e então levamos isso à população. Efetivamente não temos um alinhamento com um ou outro movimento, procuramos trabalhar em conjunto.
EOnline: Algum filme gerou mudanças na comunidade ou local em que foi apresentado? Você tem alguma lembrança disso?
C. G.: A Mostra é muito nova. O primeiro ano teve uma repercussão muito boa, mas ainda em pequena escala, atingindo apenas seis unidades do Sesc em São Paulo. A aposta é nesse segundo ano, pois pela primeira vez temos um projeto grande que atinge 17 cidades, acreditamos que a partir de agora teremos uma relação mais forte com a população. Nosso objetivo real é democratizar a Mostra, para que essas informações de qualidade possam ser vistas e discutidas pela população.O enfoque é total na educação. Serão produzidos 12 debates nessa itinerância, que acontecerão em Universidades e unidades do Sesc em São Paulo. Esses debates são fundamentais para que, além da exibição, o filme tenha uma discussão maior sobre a maneira como a sociedade se organiza lá fora, e para pensarmos na nossa realidade e o que devemos fazer com essa consciência.
EOnline: O que você espera com a Mostra?
C. G.: A mostra itinerante permite que seja levada ao interior de São Paulo essa visão de mundo sobre o que está acontecendo no planeta, proporcionando o debate com a sociedade. Cada uma dessas cidades que estamos atingindo recebem informações sobre a causa dos problemas que elas mesmas sofrem. Santos, por exemplo, é a sexta cidade mais poluída do Brasil, e se apresentam uma série de temáticas totalmente presentes, como grandes problemas de saneamento, contaminação e poluição do porto, problemas referentes a mudanças climáticas que afetam a orla. Portanto, o que esperamos é democratizar o acesso dessas informações e fomentar o debate da sociedade.
Confira, a seguir, os trailers de alguns filmes que serão exibidos:
A seguir, você pode conferir uma galeria de imagens com as sinopses e traliers dos filmes que serão exibidos:
:: Itinerância da 2ª Mostra Ecofalante
o que: |
Itinerância 2ª Mostra Ecofalante |
quando: |
1/outubro a 3/novembro |
onde: |