Postado em 15/08/2013
Parte do projeto educacional Biblioteca do Corpo, desenvolvido pelo coreógrafo Ismael Ivo, No Sacre investiga o corpo enquanto conjunto de emoções. Dias 17 e 18/agosto no Sesc Pinheiros
Para sempre Macunaíma. É desta forma que o coreógrafo, professor e bailarino brasileiro radicado na Alemanha, Ismael Ivo, frequentemente se define, sintetizando na figura antropofágica e multicultural do personagem de Mário de Andrade o seu percurso artístico. Marcado por influências que vão do butô (dança japonesa) de Takao Kusuno à dança-teatro de Pina Bausch, Ivo empreende em seus trabalhos a ampliação do universo comunicacional da arte, conjugando (por exemplo) a dança com a pintura, a literatura e a música.
Biblioteca do Corpo, idealizado por Ivo, é um projeto derivado do Arsenale della Danza, desenvolvido no contexto da Bienal de Veneza. Em 2011, em parceria com o Sesc, foi realizado o espetáculo Babilônia – O Terceiro Paraíso, que contou com a participação de cinco bailarinos, selecionados para o programa de workshops na cidade italiana. No ano seguinte a parceria entre o Sesc, a Secretaria de Estado da Cultura e o Arsenale della Danza resultou no espetáculo Biblioteca del Corpo e na participação de oito bailarinos.
Em 2013 o projeto, agora Biblioteca do Corpo, migrou para Viena, na Áustria, contando com a participação do Sesc, da Secretaria do Estado da Cultura, por meio da SP Escola de Teatro, e do ImPulsTanz Festival – um dos mais relevantes eventos de dança do mundo –, promovendo a inserção de dez bailarinos brasileiros no processo. No Sacre, cuja estreia nacional ocorre nos dias 17 e 18/agosto, no Teatro Paulo Autran, do Sesc Pinheiros, é resultado dessa parceria. Após aulas coletivas e planos educacionais personalizados, o grupo, acompanhando por participantes de diversas nacionalidades, vivenciou, sob a condução de Ivo, duas semanas de desenvolvimento da coreografia inédita.
Em No Sacre, um corpo de 24 bailarinos encena um ritual coletivo que divide a oposição entre a razão e o instinto. “No espetáculo trabalha-se, a meu ver, muito com as diferentes dinâmicas e intencionalidades nos gestos, nas movimentações, pois se joga o tempo todo com as sensações físicas, com o equilíbrio entre o estado corporal do ser humano – da simplicidade dos gestos –, e o estado de transcendência: fechar os olhos, ouvir a música, sentir o espaço e deixar que a alma guie os caminhos por onde o corpo se permite viajar, ou mesmo que o impulso de um movimento traga consigo uma emotividade”, diz Bruna Barbosa, uma das bailarinas selecionadas. “Em outros momentos, o corpo se apodera de um transe em que os instintos vêm à tona e assumem uma fisicalidade diversa, mais visceral, possessiva, agressiva”, complementa.
A seguir, antecipamos o texto escrito por Ismael Ivo para o programa do espetáculo:
“Pode-se obter insights através dos corpos e das mentes? Como é esta fusão de experiência estética, ética, biológica, social e espiritual? Parece que somos facilmente seduzidos pelas aparências visuais. A questão é complexa, mas vamos procurar penetrar no obscuro e tentar investigar imagens físicas, corpos orgânicos, necessidades de inspiração criativa/espiritual. Como na descrição de Michael Williams estamos encurralados em nossas condições humanas entre a ‘Imagem Divina’ e a ‘Prisão da Carne’.
Sobre o fenômeno do transe, rituais religiosos oferecem a imagem de corpos possuídos, habitados e colocados à disposição da divindade. Na dança o exercício radical de possuir o corpo está lá na carne e no sangue e a pessoa não é mais ela mesma. A divindade precisa de um corpo. Por outro lado, a ética do gesto e do comportamento são aquisições sociais. O processo de aprendizado ou de imitação parece natural porque são comuns na sociedade como um todo. A concepção de movimento e expressão refere-se a um padrão filosófico, religioso, psicológico e artístico da cultura hoje em dia. Um estudo de Jean Claude Schimitt cita que as regras normativas de comportamento e gestual podem mudar à luz dos valores universais.
O projeto BIBLIOTECA DO CORPO abre um capítulo com NO SACRE.
É o trabalho de conclusão de seis semanas com uma intensa experiência educacional. O trabalho original, versão completa de coreografia de Ismael Ivo, é desenvolvido em cooperação com os bailarinos.
A coreografia aborda um ritual coletivo. Faz referência às rotas para escapar da rigidez da razão e nos coloca de volta em contato com nossos instintos primitivos. Vida e morte e o inevitável círculo da morte e destruição. Investiga especialmente o corpo enquanto conjunto de emoções, sentidos e resposta coletiva no momento de pressão. Como se pode discernir vítima e agressor? Na busca de um vocabulário pessoal de movimento que leva a uma tapeçaria de experiências e um ritual de expressão: misterioso, místico, mas sempre contraditório. O corpo busca a variedade selvagem de abordagens. Um crescente interesse na noção do trabalho da dança como um conjunto de relações políticas e sociais. Num clima de autorreflexão a linguagem lida com necessidades, aspirações e complexidades da existência e sobrevivência. Cada um é parte de um ambiente e o veículo para expressar conflitos contemporâneos, desejos, aspirações, sexualidade, gênero e outras expressões. Interações com o outro dentro de uma realidade social. É uma batalha traçar a difícil evolução de identidades.
O trabalho usa música de Igor Stravinsky, ‘A Sagração da Primavera’, e do compositor alemão Andreas Bick, ‘Fire and Frost Pattern’.
A composição de Andreas Bick baseia-se em suas gravações de desastres, sons naturais do planeta, como: as atividades de um vulcão, movimentos das larvas e quebra dos icebergs.”
o que: | No Sacre |
quando: |
17 e 18 de agosto |
onde: |
Sesc Pinheiros | Rua Paes Leme, 195 | CEP 05424-150 |
ingressos: |
De R$ 4,80 a R$ 24,00 - Os preços variam de acordo |