Postado em 01/10/2000
por Walter Barelli
No passado, até os animais eram melhor amparados no desemprego
Como a população considera em todas as pesquisas de opinião que o desemprego é o maior problema que afeta o mundo, não se pode perder nenhum momento sem discutir soluções efetivas para essa questão. De fato, está muito difícil caminhar para uma sociedade de pleno emprego, como dispõe nossa Constituição. A retomada do crescimento, que aparece como um dos pontos principais de uma política de emprego, também tem exigências. Crescer menos que 6% não é suficiente para atender os jovens que ingressam no mercado de trabalho e os deslocados pela reestruturação produtiva que, aumentando a produtividade, desemprega uma parcela dos antigos trabalhadores.
As novas exigências do mercado de trabalho também limitam o acesso de pessoas de baixa escolaridade ou qualificação insuficiente. Daí, não basta apenas crescer. É preciso crescer investindo para que a população tenha as habilidades exigidas pela atual fase tecnológica. Daí o plano de qualificação e requalificação que fazemos com os recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) e o Programa Jovem Cidadão - Meu Primeiro Trabalho, para que os estudantes tenham experiência profissional. Não haverá emprego se não houver empreendedores, aqueles que criam os empregos. E nossa cultura, principalmente a universitária e a de esquerda, não valorizou a atividade empresarial.
Com o Programa de Auto-Emprego (PAE) e o Banco do Povo, estamos atacando esse ponto. Mesmo com crescimento econômico e políticas de emprego ativas, o estoque de desempregados é enorme nas áreas metropolitanas. Apenas com medidas heróicas como as Frentes de Trabalho podemos aliviar as privações de parte das famílias.
Mas há uma categoria especial de "serviçais" que se safaram melhor do desemprego. E aí os méritos ficam com a Prefeitura Municipal de São Paulo. Calma, amigo leitor, não estou querendo confundi-lo neste período eleitoral. Não estou aqui querendo defender nem o alcaide atual, nem aqueles que estão apresentando planos para a cidade na atual quadra política.
Quero voltar no tempo e explicar como, em passado não muito longínquo, a cidade de São Paulo tratou um contingente de esforçados carregadores do setor de limpeza pública, que foram atingidos por uma onda de modernização que modificou todo o sistema de coleta. Os dispensados do trabalho foram recolhidos em locais onde tiveram toda a assistência, desde alimentação farta até atendimento à saúde e alojamento, tudo isso proporcionado pela prefeitura, sem que houvesse por parte da edilidade protestos por esse favorecimento. O orçamento sempre foi suficiente para seu atendimento e, até a morte, esses antigos "serviçais" tiveram sua aposentadoria garantida, paga e usufruída.
Esse conto de fadas de nossa cidade foi encenado pela administração municipal e os antigos muares que puxavam os carroções de lixo. Na década de 1940, a coleta de lixo era feita ainda por carroças. A motorização do serviço dispensou do trabalho toda a tropa e os antigos "serviçais" foram recolhidos a sítios da prefeitura, que deles cuidou até a morte. Há registros, com o nome, dos burros que receberam da cidade essa aposentadoria, com requintes, para alguns, de quase mordomia.
A cidade que tratou bem seus burros ou muares é a mesma que, hoje, tem quase um milhão de desempregados. A modernização não excluiu aqueles animais da vida "digna".
Que esta fábula inspire políticas públicas em atenção a trabalhadores, jovens, adultos e idosos, que merecem o mesmo respeito da cidade.