Postado em 01/08/2013
De 6 a 9/agosto, no Sesc Belenzinho, o quadrinista compartilha seu processo de experimentação criativa. As inscrições começam dia 2/agosto
“Quadrinista e escritor, que é o que tenho feito”, assim se descreve Lourenço Mutarelli. Ele é autor de A Trilogia do Acidente, como ficou conhecida a saga do detetive Diomedes. Produzido na virada do século, serviu para mostrar que histórias em quadrinhos mais longas, criadas por autores nacionais, eram um caminho possível a ser trilhado no país. “Lourenço é um multiartista e é o grande mestre do quadrinho brasileiro. Sua produção apontou caminhos, mostrou que era possível sim insistir na verve autoral e nas narrativas longas”, conta Alcimar Frazão (você pode ler aqui entrevista que ele concedeu à EOnline sobre a mostra), do Núcleo da Imagem e da Palavra do Sesc Belenzinho e curador da exposição HQBR21 – O Quadrinho Brasileiro do Novo Século (até 11/agosto).
Mutarelli conversou com a EOnline sobre a oficina “Produzindo Histórias Curtas”, que fará no Sesc Belenzinho de 6 a 9/agosto. A oficina faz parte da HQBR21. Confira os principais trechos da conversa:
EOnline: Por que contar histórias?
Lourenço Mutarelli: Conto histórias porque não consigo não contar, elas escapam. Não tenho mensagens para passar, nem necessidade de contar; quando escrevo, aprofundo meu pensamento sobre o que estou escrevendo. Então, é uma forma de pensar também.
EOnline: O que é contar uma história?
L.M.: Surge um pequeno mote e vou seguindo ele. É como se a história me guiasse. É bem a origem do termo novela: vou desenrolando um novelo. Sigo a ideia inicial para ver até onde vai, qual sua extensão, para onde me leva. É a curiosidade do gato com o novelo mesmo, uma brincadeira.
EOnline: Como é contar uma história em quadrinhos?
L.M.: É diferente escrever histórias em texto e através de quadrinhos. O quadrinho limita ou induz mais o imaginário do leitor, tem o desenho que rouba uma parte do que o leitor criaria. Por outro lado, como há a imagem, é possível usar mais o silêncio, o que é praticamente impossível no texto. Como a narrativa é visual, o leitor dá o ritmo da leitura; é uma forma particular de medir o tempo. O tempo é particular em cada leitura. Por mais que o autor tente determinar o ritmo, o tempo é muito particular.
EOnline: O que você vai abordar na oficina “Produzindo Histórias Curtas”?
L.M.: Faz dois anos que dou uma oficina de quadrinhos no Sesc Pompeia. É mais extensa, acontece em dois módulos de quatro meses cada, com um encontro por semana. A ideia para essa oficina de quatro encontros no Sesc Belenzinho é usar o que acho mais interessante desse outro.
O objetivo é dividir com os participantes meu processo em tudo o que faço. O que mais divido é o processo criativo e o processo de experimentação criativa. Compartilhar meu processo, que aprendi sozinho, minha busca e seus resultados na literatura, no teatro e nos quadrinhos.
EOnline: E como é seu processo?
L.M.: Uso muito cadernos de esboço, que são mais Scrapbooks (do inglês, caderno de rascunhos) do que Sketchbook (do inglês, caderno de esboço de desenhos), onde coleciono ideias e experimentações. Sempre que vou fazer alguma coisa, revisito essas experimentações, que são totalmente livres.
EOnline: Como você consegue compartilhar isso na oficina?
L.M.: Uso muito apresentações audiovisuais. Num dos dias, mostro vários quadrinistas que admiro e como cada um tem um estilo próprio, usando papel e nankin. Para ilustrar como é possível encontrar estilos muito próprios, mesmo que usando a mesma técnica.
Gosto muito das pessoas que dizem que não sabem desenhar, costumam mostrar mais resultado do que as que têm desenhos viciados às vezes. Uso diversos exercícios de desenho nos quais as pessoas se desenvolvem muito. As pessoas que não sabem desenhar, com um mínimo de orientação, percebem que muita coisa que entendem como limitação, na verdade é estilo. Esse estilo precisa ser aprimorado? Sim, mas primeiro precisa ser assumido.
EOnline: Como foi assumir seu estilo?
L.M.: Fiz faculdade de Belas Artes e aprendi muitas técnicas. Comecei a trabalhar cedo com animação e fui aprendendo e descobrindo muita coisa com os colegas também.
EOnline: Um dos eixos da exposição HQBR21 é o “Webtiras”. Como você percebe a internet e a relação com seu trabalho e processo criativo?
L.M.: Nos anos 90 havia o site Cybercomix, que infelizmente não existe mais. Deu bastante certo. Eu fazia minhas coisas pensando no papel, mas conseguia desenhar para caber ali também. A internet é recente, estamos nos adaptando a isso, é uma plataforma. O impresso não vai deixar de existir, ou vai existir por muito tempo ainda; a internet é uma forma a mais para comportar esse formato.
No Cybercomix havia histórias com hiperlinks, o internauta ia construindo sua navegação por elas, isso era novo. Fora isso, não vejo nada de novo além de um suporte mesmo.
Quando crio, tenho sempre como objetivo que vire um material impresso. Quando fiz para a internet, o que mudei era a forma de diagramação para poder caber nas duas mídias (impresso e internet).
EOnline: O que você destaca da sua obra?
L.M.: O que faço são experimentações, tenho um quadrinho preferido, mas são tudo experimentações. Não tenho nenhum livro meu e talvez por isso nem tanto apego com minha obra também.
Entrevista com Mutarelli em seu site
Novos traços (matéria de capa da RevistaE, edição 191, abril/2013 - Quadrinho contemporâneo brasileiro)
o que: |
Produzindo Histórias Curtas (com Lourenço Mutarelli) |
quando: |
de 6 a 9/agosto |
onde: | |
inscrições: |
dia 2/8 [SEXTA], pessoalmente, a partir das 14h, no estacionamento. Havendo disponibilidade de vagas, as inscrições seguirão no 1º pavimento a partir de 6/8 [TERÇA], às 11h. |