Postado em 23/07/2013
O capítulo 1 de Cacilda!!! Glória no TBC estreia em três unidades do Sesc no interior de São Paulo: São José dos Campos (27 e 28/julho), Araraquara (3 e 4/agosto) e Sorocaba (10 e 11/agosto)
A série teatral Cacilda!!!! divide-se em, pelo menos, 4 peças. Por isso leva quatro exclamações no título. A dramaturgia é de Zé Celso Martinez Corrêa, que escreveu mais de mil páginas para narrar a vida-obra de Cacilda Becker enquanto convalescia de Erisipela em 1990. Acreditando que pudesse ter AIDS, Zé Celso prometeu à Santa Cacilda Becker que encenaria sua história se não tivesse a doença, àquela época ainda considerada terminal.
Cacilda!!! Glória no TBC, que estreia nesta temporada, compõe a terceira peça da tetralogia. Juntos, três capítulos contam os dez anos do TBC, companhia que deu origem ao moderno teatro brasileiro.
A história se passa na década de 1950, época em que São Paulo recebia sua primeira infraestrutura cultural contemporânea, com a Bienal, o MASP, o MAM, o Jockey Club e o Parque do Ibirapuera. Neste contexto, surge o Teatro Brasileiro de Comédia - TBC, assim como o Nick Bar e a Vera Cruz, nos anos áureos que consagraram Cacilda Becker.
“Quando encontrei o teatro, foi como se tivesse encontrado todas as artes que desejaria conhecer”, a atriz festejava. Em 1948, a atriz Nydia Lícia recusou um papel na peça Mulher do Próximo, de Abílio Pereira de Almeida, pois tinha receio de perder seu emprego em uma loja. Na encenação, produzida pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), sua personagem teria que beijar e dizer “amante” em cena. Outra atriz a substituiu, entrando para o TBC como a primeira atriz contratada em caráter profissional no Brasil. Essa atriz era Cacilda e assim começava sua trajetória nos palcos, sempre marcada pela ousadia e entrega. Foram 68 peças, dois filmes e uma telenovela, ela chegou a presidir a Comissão Estadual de Teatro (SP) e fundou sua própria companhia. Por essas e outras ela passou a ser considerada a “primeira-dama do teatro brasileiro”.
Seus 30 anos de carreira estão intrinsecamente ligados à história do teatro brasileiro; assim como os 52 anos de existência do Teatro Oficina.
A experimentação, a investigação, a resistência, a crítica e a produção coletiva marcam a trajetória do Teatro Oficina. Fundado como movimento em 1958, no Centro Acadêmico 11 de Agosto, do Largo São Francisco - Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, tinha a intenção de fazer um teatro distante do “aburguesamento” do TBC e do nacionalismo do Teatro de Arena. Participaram desse momento, entre outros, Amir Haddad, José Celso Martinez Correa e Carlos Queiroz Telles.
Dos anos 50 até hoje, a permanente investigação das possibilidades e significados do fazer teatral com intuito de levar à cena as angústias sociais de cada momento, é o que dá sentido para o grupo de atores que dão vida ao Teatro Oficina dirigido, desde a sua criação, por José Celso Martinez Correa. Atualmente, seus espetáculos têm forte caráter ritualístico, retomando a origem do teatro da Grécia antiga, quando as experiências cênicas surgiram como homenagens a Dionísio, conhecido como o deus do vinho e das festas e também do teatro. As montagens levam a experimentação ao extremo, envolvem o canto e a nudez e costumam ter longa duração, às vezes duram dias. Muitas vezes têm como temas questões que perpassam pela crítica social e política.
Suas montagens, antropofágicas, buscam sempre reconhecer aspectos de identidade cultural brasileira mesmo a partir de textos estrangeiros, como: Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, que estreou em 1963 e foi marcada pelas interpretações, nascidas a partir das técnicas de Stanislavski (ator, diretor, pedagogo e escritor russo de grande destaque entre os séculos XIX e XX); O Rei da Vela (1967), escrito por Oswald de Andrade em 1933 e considerado inviável em termos de encenação até então; Galileu Galilei, peça de Bertold Brecht que teve sua estreia no mesmo dia 13 de dezembro de 1968, quando foi promulgado o AI-5; e Os Sertões (2007), baseado na obra homônima de Euclides da Cunha, uma “pentalogia” de cinco peças, cada uma delas com seis horas de duração, entre outros espetáculos que marcaram época.
Num final de tarde, durante um ensaio no Teatro Oficina há quinze dias da estreia, Zé Celso recebeu a equipe do Centro de Pesquisa e Formação do Sesc de São Paulo para uma entrevista que se transformou num grande depoimento sobre questões contemporâneas.
“Em duas semanas, o Brasil mudou”
Faz duas semanas que mudou tudo no Brasil. Nós estávamos ensaiando Cacilda!!! - Glória no TBC. Tínhamos pronto o primeiro e o segundo ato, direitinho. Começava na inauguração do TBC, depois ia para o Nick Bar. Mas o que aconteceu? Percebemos que a peça não estava falando suficientemente sobre o aqui e agora. O Brasil sofreu uma transformação muito grande. Retornou um espírito de aqui e agora, uma coisa que é “1968”. Então, o que nós fizemos? Alguns dias antes da estreia, resolvemos fazer a segunda parte da Cacilda!!!! 68.
Essa peça está nos dando uma força enorme. Em duas semanas, o Brasil mudou. Tudo mudou, e tudo tem que mudar. Então, nós vamos estrear em São José dos Campos já com essa coisa completamente nova. Procurei reatualizar a peça, mesmo furando o tempo. Agora, nós estamos entusiasmadíssimos. Os ensaios estão rendendo muito, está muito bom. Iremos levar uma coisa muito nova para o interior e, depois, aqui para São Paulo. Eu estou muito feliz.
Você pode continuar lendo a entrevistano site do Centro de Pesquisa e Formação.
A montagem do espetáculo contou com ensaios abertos ao público, num processo de investigação e experimentação. Durante as quintas-feiras de março, aconteceram os quatro primeiros Ritos Estúdios Cacilda!!! – Glória no TBC.
Você pode assistir a outros Ritos clicando aqui.
A montagem para o espetáculo nas unidades acontece durante a semana que o antecede. E você pode conferir aqui como o espaço está sendo transformado para o espetáculo no Sesc São José dos Campos:
O Teatro Oficina tem uma longa trajetória, dá para começar a conhecer um pedaço de sua história na Wikipedia
Para entender a Dramaturgia Cacíldica da Maxi-Série Teat(r)al (fonte: site do Teatro Oficina)
Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona
Trans/Form/Ação - Teatro oficina atento ao momento político
A arquitetura do teatro oficina
O teatro orgyastico e antropofágico de Zé Celso (artigo no site Overmundo)
o que: | Cacilda!!! Glória no TBC - Capítulo 1 |
27 e 28/julho |
Sesc São José dos Campos | Avenida Adhemar de Barros, 999, Jardim São Dimas, São José dos Campos | 12 3904-2000 |
3 e 4/agosto |
Sesc Araraquara | Rua Castro Alves, 1315, Quitandinha, Araraquara | 16 3301-7500 |
10 e 11/agosto |
Sesc Sorocaba | Rua Barão de Piratininga, 555, Jardim Faculdade, Sorocaba |