Postado em 01/05/2000
Guarde este termo: design gráfico. Mesmo que não se perceba, ele está em todos os lugares. No calendário sobre sua mesa, no quadro da parede, naquele outdoor que chama sua atenção no farol ou nas páginas desta revista
Entre as inúmeras palavras que importamos da língua inglesa, design tem múltiplos usos. Em bom português significa desenho. No cotidiano palpável - das artes, dos móveis, das embalagens, dos livros e revistas -, para todos os lados que olhamos, lá estão as "peças" criadas pelos profissionais das cores e das formas. A criatividade dos designers confere charme e originalidade a objetos e publicações. Seja uma cadeira dos celebrados irmãos Campana ou um simples cartão de visita que fuja dos padrões e assuma formas e texturas inusitadas. "A noção de design impregna nos mais diferentes espaços", afirma André Poppovic, um dos diretores da Associação dos Designers Gráficos, a ADG. "Qualquer pessoa pode procurar os serviços dos designers. Seja uma grande empresa ou alguém que queira um convite diferenciado para sua festa."
O campo de atuação dos profissionais do ramo tem aumentado muito nos últimos anos. Entre as possibilidades, o chamado design gráfico é uma das que mais tem se feito notar. Entenda-se pelo termo todos os trabalhos que se caracterizam pela manipulação de imagens, cores e elementos que compõem uma página de revista ou uma campanha publicitária, por exemplo. Ou ainda elementos e ícones encontrados no site que você acessa através da rede mundial de computadores.
Design gráfico no Brasil
Tudo começou nos anos 50, época que, segundo pesquisa feita pela ADG e pelo Instituto Itaú Cultural, marcou as primeiras iniciativas da geração precursora dos designers gráficos brasileiros. "Importantes profissionais que se formaram nas primeiras escolas lutavam para construir, em São Paulo e no Rio de Janeiro, currículos que refletissem as necessidades criadas pela industrialização no Brasil", escreve Ricardo Ribenboim, diretor superintendente do Instituto Itaú Cultural. As décadas seguintes serviram para consolidar a importância dos profissionais de design. "Geralmente, os profissionais eram da área de artes plásticas", retoma André. "Eram ilustradores ou artistas que faziam capas de livros. Além disso, as faculdades de arquitetura também forneciam profissionais que passaram a trabalhar no ramo. Já naquele período, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, a FAU, ministrava cursos voltados para a comunicação visual, que formaram muitos designers que atuam hoje no cenário".
Na década de 80, começaram a surgir os cursos que formavam profissionais específicos para a área. Desde então o setor expandiu-se tremendamente, assim como seus cursos, que passaram a formar profissionais com um altíssimo nível de qualidade.
O advento da informática também marcou bastante a trajetória das artes gráficas. Além de a Internet oferecer aos designers um novo mercado de trabalho, os computadores entraram em massa nos estúdios e escritórios. Uma máquina potente, e com todos os softwares necessários, convida a uma aventura pelo design gráfico. Porém, o ser humano por trás do computador ainda é o elemento que faz a diferença. "É necessário gente treinada e competente", defende André. "Você não aprende num curso como lidar com seu cliente ou a ética da profissão, por exemplo". Se por um lado o computador facilita o trabalho dos profissionais, por outro, acumulou funções na mão do designer. "É papel dele, hoje, fazer a revisão dos textos que acompanham a imagem", retoma. "Também é de sua competência a preparação dos arquivos eletrônicos antes da impressão, o que exige que o profissional maneje os processos de impressão."
A bienal da democratização
O balanço da história do design gráfico no país pôde ser conferido ao vivo e em cores (muitas cores) na V Bienal do Design Gráfico, realizada no Sesc Pompéia, numa parceria com a ADG. "Uma das grandes importâncias do evento foi mostrar como o design gráfico está difundido e sedimentado nas diversas áreas", pondera André. "Percebemos que houve um crescimento no número de profissionais e, o mais importante, de profissionais extremamente competentes". André explica que de certa forma esse não é um fato inédito. A própria história do design gráfico no Brasil tem mais de cinqüenta anos, porém vale destacar que os profissionais ultrapassaram os limites do eixo Rio-São Paulo. "Isso vem aumentar a consistência do resultado dos trabalhos. Recebemos representantes de 22 estados nessa última Bienal."
Pela primeira vez, o evento teve um curador, o designer Ricardo Othake, fato que contribuiu para acentuar no evento o caráter de arte, status que o design gráfico no Brasil está conquistando com muito estilo. "O design gráfico é uma arte, só que feita, digamos, sob encomenda", analisa André. "Diferente do artista plástico que tem como cliente ele mesmo no momento da criação, o designer é responsável por transmitir a mensagens dos seus clientes." O diretor da ADG conta que os profissionais do design, embora lidem com questões técnicas ligadas à área, vêem-se às voltas com princípios próprios da arte: a estética, por exemplo. "Os designers manipulam cores, fotos, ilustrações etc. sempre com o objetivo de dialogar com um determinado público." Por vezes, as duas coisas não ficam muito distantes. O diretor de arte Rui Amaral, responsável pelos desenhos no viaduto da avenida Paulista, migrou da grafitagem e das artes plásticas para o design gráfico. Embora ainda goste de ser chamado de grafiteiro, aos 37 anos Rui não ocupa mais só os muros da cidade. Ele é responsável pelos bonecos inflados gigantes que foram expostos no pátio da Caixa Econômica Federal, também na avenida Paulista, e assina vinhetas na Globo e STV (canal educativo do Sesc e do Senac). Como acontece com as obras dos pintores, os trabalhos de Rui indicam seu autor. "É complicado definir os termos", afirma. "Se for reproduzido numa página de revista junto com um texto ou mesmo com outros elementos, o trabalho que eu faço nos muros ou até nas telas passa a ser considerado uma peça gráfica." É ver para crer.