Até 30 de junho, as obras do artista podem ser conferidas no Sesc Interlagos. Entre elas estão figuras mitológicas, pássaros, peixes, jacarés, lagartos e frutos, além de objetos nascidos de uma técnica de
cerâmica vitrificada

Raramente as obras do escultor pernambucano Francisco Brennand, de 86 anos, deixam seu ateliê, no bairro da Várzea do Recife, para serem exibidas em outro contexto. A exposição, curadoria de Emanoel Araujo, diretor do Museu Afro-Brasil,  “O Escultor Francisco Brennand – Milagre da Terra, dos Peixes e do Fogo” é uma dessas raras oportunidades.

"Mostrar a escultura de Brennand em outro espaço que não seja o seu próprio, em Pernambuco, será sempre um desafio, diante do complexo diálogo criado por ele entre a escultura e o espaço em que ela se desenvolve, ora com a arquitetura, incluindo os antigos galpões da antiga fábrica de cerâmica, e ora se incorporando às ruínas deixadas pela ação dos anos e do passado da fábrica onde nasceu esse grande cenário", avalia o curador.

Faça um passeio por algumas das obras expostas

A presença vibrante dos elementos da natureza no nome da mostra. Além de frutos, aves e peixes, "há também o fogo, que é como uma bigorna que alisa a massa crespa, deixando espaço para a crosta grossa e uniforme da tinta colorida, de ocres e ferrugens, de onde escapam os azuis e os verdes, ou meios tons leves, foscos e brilhantes. Da cor que se transforma ardida pelo calor do fogo", descreve Araujo.

O Sesc São Paulo homenageou o mítico e particular universo de Francisco Brennand na inauguração do Sesc Sorocaba, em setembro de 2012. Além disso, em outubro, o documentário Francisco Brennand recebeu o prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) sobre a sua vida e obra concedida pela 36.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, dirigido por Mariana Brennand Fortes, sua sobrinha-neta. 

Assista a um programa da TV Brasil sobre a exposição

Sobre Francisco Brennand

Nascido em 11 de junho de 1927, no Engenho São João, no Recife, Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand é um dos mais importantes e premiados escultores do Brasil. Homem de múltiplos talentos, também é pintor, desenhista e ilustrador, participou de cursos com André Lhote e Fernand Léger em Paris, na década de 50. Autor de murais e painéis - dentre os quais o mais reconhecido "Batalha dos Guararapes", no centro do Recife - Brennand já foi agraciado com o Prêmio Interamericano de Cultura Gabriela Mistral, da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Desde a década de 1970, quando restaurou a antiga olaria de seu pai, em um projeto de integração da arte à arquitetura, o trabalho de Brennand conquistou reconhecimento. Em Recife, no bairro da Várzea, seu ateliê ocupa os espaços da velha fábrica, nos quais é exposto um impressionante conjunto de esculturas e painéis.

Em 1971, iniciou as obras de restauro da Cerâmica São João da Várzea - fundada em 1917 – instalando, a partir de então, seu ateliê e um arrojado projeto de esculturas cerâmicas.

Em 1998, ganhou uma grande retrospectiva na Pinacoteca de São Paulo, a convite de Emanoel Araujo.

Citação

O poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, traduziu em palavras o universo de Francisco Brennand:

a Francisco Brennand
fechar na mão fechada o ovo
a chama em chamas desateada
em que ele fogo se desateia
e o ovo ou forno tem domadas

então

prender o barro brando no ovo
de não sei quantas mil atmosferas
que o faça fundir no útero fundo
que devolve a terra à pedra que era

(João Cabral de Melo Neto)
(Ferraz, 1997, p.26).

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