Postado em 01/03/2013
Os grandes ícones da nossa história cultural constroem uma imagem que se propaga através dos tempos e cria raízes no imaginário popular. Não seria diferente com bandas emblemáticas da música brasileira – em especial, as que começaram a carreira nos anos de 1970 e influenciaram toda uma geração posterior.
Esse período musical é a estrela do evento iniciado em janeiro e que segue até março no Sesc Belenzinho, reunindo uma exposição
de registros fotográficos de shows e artistas do rock paulistano, além de apresentações de bandas clássicas da década.
E por que a década de 1970? Para o curador da exposição, o jornalista Moisés Santana, a motivação é pessoal, porque ainda
adolescente, na Bahia, ouvia o som de bandas de São Paulo. “Essa paixão continuou com interesse de saber mais e me tornei
pesquisador. Há dois anos comecei a gravar entrevistas em vídeo com alguns dos músicos da época, sem nenhum objetivo específico”, diz. “No meio desse trabalho descobri com o músico Zé Brasil (banda Apokalypsis), as imagens de um jovem fotógrafo, Carlos Hyra (1944 -1981). Assim surgiu a vontade de reunir meu acervo de discos às fotografias dele e de outros fotógrafos.”
Um dos trabalhos que compõem esse painel imagético saiu das lentes da fotógrafa Leila Sznelwar. Segundo ela, viver esse
momento foi um privilégio: “Convivi com o nascimento de outra forma de ver a vida e com uma geração cujo principal objetivo eram a paz e o amor. Fotografar os músicos com quem convivi por anos e acompanhar sua evolução mágica só podia resultar em fotos que transmitissem esse sonho”.
Sentimento que se evidencia nas palavras de Santana, confirmando que o rock não é só um estilo musical. “É também uma boa aparelhagem de som, e esses músicos ajudaram a atualizar o Brasil em termos de equipamentos. Sem citar a estética e o comportamento”, afirma.
“Vivíamos em uma ditadura militar, não era fácil ser roqueiro. A fusão de ritmos brasileiros com rock, feita por bandas como Mutantes e Papa Poluição, ouvimos depois em Paralamas do Sucesso e Chico Science.” Nesse contexto, era poderosa a parte gráfica relacionada à música, representada pela arte nas capas dos discos de vinil. Santana confirma que os fotógrafos queriam
estar nesse segmento, pois a arte de um “vinil tinha um alcance maior do que um trabalho exposto em uma galeria de arte”.
Na opinião de Leila, participar da exposição foi motivo de prazer e de um movimento de resgate do rock brasileiro daquela época, “cheio de diversidade e quase sem divulgação”. E nessa busca pela imagem perfeita conta muito a percepção do fotógrafo. “O amor pela música é fundamental para que se clique o momento no qual o músico está no palco e entregue, porque você, que está atrás da lente, está entregue ao som”, relata a fotógrafa, responsável por clicar nomes de destaque em capas e contracapas de discos, como Arnaldo Baptista.
Som e atitude
Rock paulistano dos anos de 1970 traz ao Sesc Belenzinho som e imagem de uma época importante da música brasileira
De janeiro a 10 de março o Sesc Belenzinho apresenta a 2ª edição do projeto Sonoridades – São Paulo Rock 70, no qual uniu exposição fotográfica e show de dez bandas relevantes do período, como Made in Brazil, Tutti Frutti, Casa das Máquinas e Patrulha do Espaço. Criado pelo Núcleo de Música e Artes Cênicas da unidade Belenzinho, a 1ª edição aconteceu em 2011 e teve como
tema o Mangue Beat de Recife. Segundo um dos técnicos da unidade, Sandro Saraiva, o projeto é pautado por uma programação interdisciplinar, que inclui shows, oficinas, bate-papos e exposições.
“Somada às apresentações, achamos importante que existisse uma exposição, pois o rock tem um forte apelo visual. Além da relevância cultural, sobretudo para as novas gerações, que determinados períodos da história da nossa música possam ser lembrados e discutidos”, explica Saraiva.
Para o curador, Moisés Santana, sintetizar esse cenário, ao contrário do que possa parecer, não foi tarefa difícil: “A escolha das bandas foi fácil, pois conheço bastante o período e tenho os discos. O mais difícil foi encontrar as fotos e os fotógrafos, pois boa parte das pessoas nem trabalha mais com isso”.