Postado em 01/03/2013
Compartilhar, este o verbo preferido da Profª Berta Lange de Morretes. Berta nasceu na Alemanha e veio para o Brasil, ainda criança, com os pais e uma irmã após a Primeira Guerra Mundial. Estabeleceram-se em Curitiba e mais tarde vieram para São Paulo quando seu pai foi convidado para ser um dos pesquisadores do Museu Paulista. Aos 95 anos de idade, está há 72 anos na USP, sua carreira confunde-se com a história da universidade. Nesta entrevista, concedida em sua sala no Instituto de Biociências na cidade universitária, a educadora que tem em seus pais o modelo de vida, relembra os passeios em família quando se apaixonou pela vida das plantas e animais. De fala firme e opinião forte, não esconde o prazer que sente em continuar relacionando-se com os jovens alunos com quem, conta, continua aprendendo.
REVISTA - A senhora pode contar um pouco sobre a sua família, sobre a sua infância?
Berta - Olha, eu acho que tive uma infância muito feliz. Tenho duas irmãs e um irmão. Meu pai e minha mãe gostavam muito da natureza. Aos domingos eles nos levavam para passear, para estar em contato com a natureza. Durante o passeio costumavam explicar e contar sobre as plantas, sobre os animais. Assim, nós éramos integrados a um ambiente que, em geral, as outras crianças ficavam sem conhecer.
REVISTA - Sua mãe era alemã e seu pai brasileiro?
Berta - Sim. Meu pai, Frederico Lange de Morretes, foi para a Europa complementar o estudo de artes, desenho e pintura. Minha mãe estudava canto na mesma universidade, foi onde se conheceram. Eles se encontraram, namoraram, casaram. Moraram na Alemanha, no início da vida de casados, na casa de meu avô materno que era médico. Meu avô era muito querido, porque como médico atendia a todo distrito, toda a região onde morava.
REVISTA - Seus pais permaneceram na Alemanha até quando?
BERTA - Nós moramos na Alemanha até o fim da guerra (Primeira Guerra Mundial 1914-1918). Quando rompeu a guerra meu pai foi chamado e avisado que não poderia sair da cidade, porque falava cinco idiomas: italiano, português, francês, alemão e inglês, então, ele teria que servir como intérprete em caso de necessidade.
REVISTA - A senhora nasceu na Alemanha?
BERTA - Sim, eu nasci na Alemanha em 1917, na região da Baviera, numa cidade chamada Iffeldorf, que é um sonho de natureza bonita. Minha irmã Ruth também nasceu lá. Já a Ana Maria e o Flávio nasceram no Brasil.
REVISTA - Quando a família veio para o Brasil?
BERTA- Viemos na primeira embarcação que veio para o Brasil depois da guerra. Fomos direto para o Paraná. Meu avô paterno era o diretor da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, engenheiro, ele que construiu a estrada. Uma das coisas das quais eu me orgulho é essa estrada, escavada na pedra e complementada com ferro onde nunca houve um acidente. Eu lembro que quando nós chegamos, meu avô foi nos esperar com o vagão de serviços em Paranaguá. Esse vagão era um sonho. Tinha uma cozinha, uma saleta de estar, uma sala de jantar e dormitório para duas pessoas. Era um sonho! Eu me encantei com essa moradia sobre trilhos.
REVISTA - Quantos anos você tinha quando veio para o Brasil?
BERTA - Eu tinha três ou quatro anos. Certa vez, eu lembro que meu avô foi fazer um sanduiche para mim. Eu peguei na mão dele e disse “__Vovô, você está usando a manteiga do dia todo, não pode”.
REVISTA - Isso porque vocês viveram a escassez da guerra.
BERTA - Isso mesmo. Meu avô chorou e disse “__Agora você vai comer pãozinho com manteiga todo dia. Você não está mais
na Alemanha no tempo da guerra, você está no Brasil.” Daí ele passava manteiga régia no meu pão. Era um encanto e hoje eu
entendo, o porquê ele chorou. Foi pela emoção causada por uma criança não ter nada, não ter manteiga! E isso não era nada aqui no Brasil. Isso fica dentro da gente. Acredito que temos de dividir tudo que podemos com os outros. Acredito que foi algo que marcou minha educação infantil.
REVISTA - A senhora, até hoje, compartilha o seu saber, a sua experiência com jovens. Com 95 anos tem orientandos
do mestrado e do doutorado. Sua vida transcorre compartilhando momentos com os jovens.
BERTA - Sempre compartilhando, sempre que me procuraram, eu reparti. Eu não quero só para mim. Eu reparto com os outros
a minha melhor parte.
REVISTA - Conte para nós sobre sua vida acadêmica. Você e sua irmã Ruth estudaram na USP.
BERTA - Sim. Quando meus pais nos perguntaram, depois que terminamos o ginásio, o que queríamos fazer, nós duas dissemos que queríamos estudar historia natural. A universidade era recém-criada e não havia professores para algumas disciplinas. Então, o governo mandou para a Europa o Teodoro Ramos (Teodoro Augusto Ramos, comissionado pelo governador de São Paulo, Armando de Salles Oliveira para chefiar a comitiva acadêmica que foi à Europa (1934) contratar pesquisadores para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL)). Lembro que as pessoas ficavam espantadas de termos professores estrangeiros. Na verdade, nós também ficamos espantados em saber que íamos ter aulas em francês, inglês e italiano ((risos)).
Professores alemães foram os primeiros a dar aula em português. ((nomes alemães dos professores)). Agora, quem nunca deu aula em português foram os italianos.
REVISTA - Parece que havia um professor italiano terrível. Vi em uma entrevista que os alunos praticamente aprenderam italiano com os xingamentos dele?
BERTA - Ah sim, o professor Honorato. Ele era professor de Biologia. Para terem uma ideia, ele dava aula em italiano e ao final dizia “__ un volontario”. Ninguém queria ser voluntário. ((risos)). Então ele apontava “__ ragazzo...”. Daí quando o coitado não entendia o que ele queria, ele dizia “... ignorante, stupid....” tudo em italiano ((risos)).
REVISTA - Devia ser muito difícil, não é mesmo?
BERTA - E como. Outra coisa. Durante a aula, ele fechava a porta da sala e trancava com chave. Você imagina? Quatro horas trancada lá e o banheiro?
REVISTA - Como vocês faziam?
BERTA - Bem, nós construímos uma via de saída. Colocamos uma mesa, uma cadeira, encostadas à janela. Do lado de fora, um encosto e assento de um banco. Era assim! Corria para o banheiro e voltava para a sala de aula pela mesma saída. Um dia, o Honorato me pegou nessa rota do banheiro e gritou à distância “__ Morretes dove vai? Eu fiquei meio assim encabulada, e falei “__vou ao banheiro”. Pois, dali para diante, ele dava aula, fechava a porta, mas não passava mais a chave.
REVISTA - Seu curso teve início no prédio da faculdade de Medicina.
BERTA - Sim. Agora você veja, quando a gente quer estudar como é. Quando terminamos o ginásio, meu pai foi convidado a trabalhar num museu paulista como administrador. Nos mudamos do Paraná para o São Paulo. Fomos morar na Rua Tabor, em frente ao Museu do Ipiranga. As aulas da nova faculdade não eram no Ipiranga, eram na faculdade de Medicina. Minha irmã e eu fazíamos o seguinte, nós morávamos na Rua Tabor, e vínhamos a pé até aqui à faculdade de Medicina. Saíamos de madrugada. Era uma época que São Paulo e Paraná não se enquadravam então, o pessoal não conversava com a gente.
REVISTA - A faculdade não era gratuita, no início. Era difícil pagar.
BERTA - Sim, vínhamos a pé para a faculdade de Medicina e para almoçar, nós almoçávamos onde? No cemitério do Araçá ((risos)). Até hoje eu me lembro da entrada do cemitério e de um túmulo que era nossa mesa. Era o lugar mais próximo, porque não tínhamos dinheiro para restaurante. Nós saíamos da aula, almoçávamos no cemitério e voltávamos para a aula. Foi uma época que formou a gente, que nos fez compreender que as pessoas eram diferentes, e que precisavam de coisas diferentes.
REVISTA - Como era essa história de que os alunos de medicina não aceitavam muito bem os alunos de História Natural?
BERTA - Eles não gostavam da gente. E eu acho compreensível. Você tem um espaço e chega um curso inteiro! Era muita gente, então, isso deu problema que depois foi resolvido.
REVISTA - Depois o curso transferiu-se para a Alameda Glete, no centro de São Paulo?
BERTA - Exato. Nessa época o governador era Adhemar de Barros e em dado momento disse ao diretor da faculdade que ia acabar com o curso. O diretor ficou chateado, chamou os alunos e sugeriu que os alunos pedissem uma audiência com o governador para contar o que fazíamos. Nós pedimos a audiência, fomos ao palácio, fomos recebidos, éramos cinco moças e cinco rapazes. No palácio, um dos colegas do grupo leu nossas reivindicações. O governador perguntou “__mais alguma coisa?” Dissemos “__não.” Ele olhou para o chefe do gabinete e disse “__ os jovens estão detidos!”. Lá fomos nós. Cinco homens e cinco mulheres, detidos numa sala do palácio do governo.
Depois de três horas o oficial de gabinete veio e disse “__o governador está pronto para receber vocês”. Novamente, nosso colega leu todas as reivindicações, porque nós achávamos que ele não podia fechar a faculdade etc. Ele acabou de ouvir e perguntou “__ mais alguma coisa?” respondemos “__Não”. Ele virou para o oficial do gabinete e disse “__ os jovens estão detidos”. Daí ele nos levou e ficamos detidos até às três horas da tarde. Depois, ele mandou nos chamar de novo. Nosso colega leu tudo novamente e ele “__ os jovens estão detidos”.
Em um dado momento o oficial de gabinete disse “__ as moças saem e os rapazes permanecem detidos”. Então, nós dissemos “__ não, entraram cinco homens e cinco mulheres, por que só as mulheres?” Ele olhou para nós “__ assim, então, todos ficam”. Ficamos todos nós até dez horas da noite. Saímos, descemos a Alameda Glete que era puro centro de meretrício e fomos até a Avenida São João pegar o bonde para irmos para casa.
REVISTA - Ele não fechou a faculdade, o curso continuou.
BERTA - Não fechou. A nossa vingança foi que na festa de formatura quando chegou a hora de cumprimentar o governador, passamos por ele sem tomar conhecimento dele. Ele ficou de mão estendida e nós passamos por ele felizes e contentes ((risos)). Menos a comissão organizadora, que deve ter detestado esse tipo de atitude. Após minha formatura em 1941, no dia seguinte, eu fui nomeada para o departamento de Botânica e minha irmã, contratada para o departamento de Biologia . Ouvimos algumas coisas assim “___ mas, uma dupla, logo vocês duas? Uns dias depois da formatura?” ((risos))
REVISTA - Seu pai, além de pesquisador era também um artista.
BERTA - Meu pai era pintor. Ele mudou para a Alemanha a conselho de seus professores aqui do Brasil para se especializar em desenho e pintura. Na Alemanha, ele conheceu minha mãe que estudava na mesma Universidade. Minha mãe era cantora, estudou correção de voz. Eles se conheceram, se gostaram, se casaram e foram morar na casa de meu avô materno. Você sabe, me lembro dele. Era um homem barbudo e mandava em Deus e em todos. Era médico e cuidava de todo distrito onde morávamos. Era muito querido e muito responsável. Essas coisas ficam na cabeça da gente.
REVISTA - Então, você tem por parte de pai essa veia artística e de pesquisadora também.
BERTA - Agora, você tocou num assunto... O nome do meu pai, quando foi para a Alemanha, não era Lange de Morretes. Seu nome era apenas Frederico Lange. Acontece que na Alemanha, na universidade, existiam centenas de “Fredericos Langes” e muitos deles jovens, estudantes e bagunceiros. Certa vez, o reitor da faculdade convocou aqueles estudantes todos e disse que em função do comportamento deles, seriam obrigados, a partir dessa data, ir a um cartório e anexar ao sobrenome o nome da cidade em que eles nasceram por causa da bagunça que eles estavam fazendo, e daí que nasceu o Frederico de Morretes.
REVISTA - Vocês tiveram aulas com seu pai, como ele era como professor?
BERTA Olhe, com os filhos ele era cem por cento durão, com os outros, era mais largado. A gente sofria com ele, ele não permitia para nós – minha irmã e eu - o que permitia para os outros. Quando nós reclamamos, ele nos chamou e disse “__ eu garanto que vocês preferem que o pai de vocês tenha sido justo e durão com vocês do que se vocês tivessem passado de qualquer jeito. E vocês sempre vão ter esse tratamento.”
REVISTA - E a relação com sua mãe?
BERTA- Era boa, mas ela também era durona. Dentro da arte, ele não admitia brincadeira. Agora, em casa ela era um amor.
REVISTA - E vocês não quiseram seguir o caminho das artes como sua mãe? Preferiram o lado de pesquisa. Como era isso?
BERTA - Era uma coisa engraçada, porque de um lado nós tínhamos a experiência do pai, mas por outro lado, a da mãe e a gente também seguia. Tinha momentos que essas duas coisas se batiam e a gente tinha que escolher a quem a gente queria seguir. Isso, para uma criança é difícil. Muito difícil.
REVISTA - De que maneira aparecia esse conflito, tem alguma história?
BERTA - Por exemplo, você queria fazer uma coisa, daí vinha o lado paterno que dizia “__você não pode.” “__ Por que não pode?” “__Por isso, isso, isso.” daí a gente ia para a mãe, que tinha dito ao contrário que dizia “__ não, a vida não é igual para todo mundo. Você acha que o fulano é igual ao outro?” Mas era assim. Tínhamos que falar, tínhamos que dialogar. Perguntas e respostas.
REVISTA - Por outro lado, você também mencionou que isso te ajudou a perceber nas relações que as pessoas são diferentes, a respeitaras diferenças.
BERTA - Com certeza, essa educação do tempo de criança me ajudou a entender, a respeitar coisas que eu nunca respeitaria se eu não tivesse tido essa vivência, porque tem que acontecer para você passar a entender. Você tem que ser sincero e transparente. Por exemplo, com o governador, quando ele nos chamou ao gabinete para conversarmos, nós dissemos que não estávamos de acordo com o que estava dizendo. Ele olhou para nós e disse “__ o governador sou eu”. Nós dissemos, e olha a coragem “__ sim senhor, o governador é o senhor, mas quem está sofrendo as consequências somos nós”. Falamos na cara dele. Acho que por isso que ele tinha raiva da gente, porque nós nunca escondemos nossa opinião.
REVISTA - Vocês eram jovens lutando pelos seus direitos.
BERTA - Essa foi uma coisa boa, que deveria existir hoje, ser transparente e sincero. Você encontra um aluno dizendo “__Ah, o professor fulano é chato”, mas ele não vai dizer para o professor, ele fala para os outros. Isso não está certo!
REVISTA- Como é sua relação com seus alunos? Com seus orientandos?
BERTA Eu tenho uma boa relação, em minha opinião, são boas, já na opinião dos alunos, eu não sei ((risos)).
REVISTA Com 95 anos, como você sente suas relações com esses jovens?
BERTA Veja, eu procuro aprender. Porque quando eu percebo que meu aluno não gosta de algo, eu tenho que perguntar
o porquê. Não é eu dizer assim, não gosta, tem que saber por que não gosta. Saber, o que está acontecendo, se você
precisa mudar seu comportamento.
REVISTA - Para ter a percepção de um conflito, a gente precisa ter um olhar mais crítico sobre si mesmo.
BERTA - Como professor, a gente tem que entender que todo mundo não é igual. De 40 alunos, não tem como 40 serem
iguaizinhos. Agora, é o professor que tem que esforçar-se para perceber onde está o problema.
REVISTA - O que é para você o educar, o ensinar? Vai além de uma profissão, não é verdade? O que você pode dizer sobre isso?
BERTA - É algo sagrado. Porque vai transmitir algo que pode lhe servir para o resto da vida. Então você tem que ser
cuidadoso. Porque tudo fica. Veja, se você olhar para trás, quantas coisas você já aprendeu. Outra coisa que precisamos
saber e tentar transmitir. Não é tudo igual. Cada um é um “eu”. Você não pode querer ser igual a alguém, cada um tem
o seu jeito. Eu aprendo muito com meus alunos. Entro na sala de aula e faço funcionar o miolo ((risos)), penso o que vou aprender. Você tem que estar atento aos alunos. É preciso honestidade. Todo mundo pensa que é dono da verdade. Todo mundo pensa que é o melhor da área. Não é.
REVISTA Falta humildade?
BERTA - Sim, humildade é o termo. As pessoas não são iguais. Às vezes querem que todo mundo seja igualzinho e não somos.
É importante ser transparente. Sabe, é por esse motivo que digo, sinto falta da educação infantil. Sinto falta da educação
doméstica.
REVISTA - Você considera que as relações familiares de hoje são diferentes?
BERTA - Sim, os pais estão mais distanciados da criança. Acho que essa falta de atenção para com a criança aparece depois
no adulto. Foi muito importante a educação que meus pais me deram, quando eu era criança. Quando eu tinha quatro anos,
saíamos aos domingos para aprender sobre plantas e animais. No domingo seguinte durante outro passeio meu pai e minha
mãe perguntavam “__o que é isso, o que é aquilo?” Para ver se tínhamos aprendido, ou não. Lembro de um domingo que saí
com meu pai e vimos um cachorro deitado na beira da estrada com uma cara esquálida. Eu perguntei para meu pai “__ ele
está doente?” Meu pai disse “__ não, ele deve estar com fome. Nós vamos comprar comida para ele”. Tinha um botequim perto e ele foi lá comprou pão, sardinha, olhe, você devia ver, eu nunca mais vou esquecer, como o cachorro devorou a comida.
REVISTA - Aos 95 anos, atuando como professora, pesquisadora e educadora, como você vê suas potencialidades e o que você vê como suas dificuldades?
BERTA - Você fez uma pergunta difícil de ser respondida. Primeiro, as pessoas não encaram uma pessoa de 95 anos com capacidade de raciocínio de trabalho. Então, eles dizem, é um velho. É um velho, rotulado.
REVISTA - E você mostra o contrário no seu cotidiano.
BERTA - Sim, todos os dias. Mostro o que ainda posso fazer. Acontece que tudo isso depende de sua trajetória de vida, de sua educação desde a infância e vai depender da sua vontade de continuar ou não. Tem gente que diz “__ não vale a pena”. Quando se diz isso “__ não vale a pena” já é metade do caminho perdido. Eu gosto, e acho, que vale a pena até o fim. Eu tenho obrigação. Primeiro, eu recebi ensino. Ensino gratuito. Segundo, na melhor faculdade que existe, na melhor universidade que existe. Terceiro, você tem professores, a maioria, dispostos a atender todas as vezes que necessita. Não é toda faculdade que isso acontece. Essa boa vontade para com o alunato não existe em todo lugar. Aqui na USP existe.
REVISTA - Você dá de volta o que você recebeu. Você retorna para a comunidade.
BERTA - Sim. Uma das coisas que a gente precisa aprender é compartilhar. Se você tem uma coisa e ela é boa, trata de distribuir. Compartilhe, porque essa rede de compartilhamento gera outros tantos de compartilhamentos. Os jovens devem abrir os olhos para aprender. Os jovens devem ter ouvidos para aproveitarem o que estão ouvindo. Saber separar “__eu quero isso” ou “__não quero isso”.
REVISTA - O prazer é importante?
BERTA - Com certeza. Ter prazer no que faz, é muito importante. E a gente poder ver o resultado é outra coisa importante. Olha, eu fico feliz quando dou uma aula e depois aparece um aluno que faz determinada pergunta. Sei que despertei a curiosidade.
REVISTA - Para encerrar gostaria de dizer algo mais?
BERTA - Sim, compartilhar sempre foi uma das coisas mais importantes de minha vida e continua sendo, enquanto eu puder.
REVISTA - Professora Berta. Agradecemos sua gentileza em nos receber e dividir conosco e com nossos leitores suas histórias.