Postado em 04/08/2011
LISA SAMFORD é diretora de festivais de cinema e está à frente da realização do Festival Internacional de Filmes de Florestas, realizado pela Organização das Nações Unidas como parte das comemorações pelo Ano Internacional das Florestas, instituído em 2011. O Festival, itinerante, foi exibido no Brasil nos dias 4 e 5 de junho, na Cinemateca BrasIleira. Nascida nos Estados Unidos e formada em Jornalismo, Lisa trocou a imprensa pelo mundo do cinema, tornando-se uma referência mundial na divulgação de filmes ligados ao meio ambiente, a exemplo do que é apresentado a cada dois anos no Jackson Hole Wildlife Film Festival’s, criado por ela em 1991. Lisa esteve no Brasil em maio para a Conferência do Ano Internacional das Florestas 2011, evento organizado pelo Instituto Humanitare que marcou o início das celebrações sobre o tema no Brasil.
Em que consiste o Festival Internacional de Filmes de Florestas?
O Festival Internacional de Filmes de Florestas foi criado em parceria da Organização das Nações Unidas com o Fórum das Nações Unidas sobre Florestas, especificamente para oferecer a qualquer organização do mundo a oportunidade de apresentar uma rica e relevante programação durante o Ano Internacional das Florestas. Para realizar o Festival, nós não impusemos nenhum tipo de restrição com relação aos gêneros que poderiam ser exibidos (ficção, documentário), mas quase todos os inscritos eram documentários.
Quantos filmes se inscreveram para participar do Festival?
Aproximadamente 170 filmes foram inscritos na competição, divididos em seis categorias: Esta é Minha Floresta – com filmes que mostram impressões e histórias bem pessoais sobre a floresta; Florestas Vivas – com filmes que apresentam a riqueza e a diversidade do ecossistema na floresta; Problemas e Soluções; Floresta Herói – com produções que efetivamente celebram trabalhos individuais ou de grupos envolvidos com a sustentabilidade na floresta; 360o Todas as Coisas da Floresta – sobre filmes que melhor comunicam as questões humanitária, social, cultural, econômica e espiritual conectadas com as florestas; e Curtas – com produções de até 15 minutos de duração. Temos recebido pedidos de mais de 60 embaixadas ao redor do mundo, e também de 30 organizações em 24 países, em apenas quatro meses de trabalho. É um resultado muito impressionante.
Há filmes brasileiros no Festival?
Há quatorze projetos que foram filmados no Brasil. Quatro deles foram selecionados como finalistas – o que não é nenhuma surpresa, considerada a importância da Amazônia para o mundo todo.
Como é realizada a seleção e o julgamento dos filmes no Festival?
Tivemos mais de 60 pessoas assistindo aos filmes e avaliando cada um deles no processo de julgamento preliminar. Todos os participantes são voluntários, que se sentiram honrados por contribuir. Até hoje, estando já finalizado o processo de julgamento do Festival, alguns desses jurados ainda nos procuram querendo assistir a filmes que ainda não viram, simplesmente porque têm interesse no tema. Os filmes finalistas foram vistos por um júri seleto de três profissionais, que determinaram os vencedores de cada categoria.
Quais as razões da escolha do enfoque nas florestas para promover o debate sobre o meio ambiente?
A Assembleia Geral das Nações Unidas designou 2011 como o Ano Internacional das Florestas, no intuito de fortalecer a sustentabilidade como modelo de gestão de todos os tipos de florestas, para benefício das gerações atuais e futuras. Este ano de celebração proporcionará uma plataforma para construir parcerias estratégicas e mostrar histórias de sucesso e soluções inovadoras, e galvanizar uma maior participação do público em atividades relacionadas à floresta, em todos os setores.
De que forma o cinema e o audiovisual podem contribuir no debate sobre sustentabilidade?
Mais do que um ponto em nossa História, a mídia hoje nos conecta de uma maneira mais pessoal, mais imediata e mais poderosa do que antes. Nos dias atuais, quase que instantaneamente nossas histórias são partilhadas com facilidade ao redor do globo. As produções apresentadas no Festival Internacional de Filmes de Florestas não proporcionam simplesmente transportar-nos para lugares raros e ainda selvagens de nosso planeta. De um modo muito pessoal, esses filmes nos ligam a algo muito além de nossas experiências. Sentimos uma emoção imediata e nos enchemos de esperança sobre a imensa responsabilidade de cuidar da beleza estonteante que nos é oferecida nesta vida.
O Brasil vive o momento de discussão sobre possíveis mudanças legais em seu Código Florestal. Você tem acompanhado? O que pensa sobre isso?
Sem conhecer detalhadamente o projeto em discussão no governo brasileiro, eu posso apenas reiterar criticamente a importância de agir agora para proteger e conservar os recursos para o futuro. As decisões que nós tomamos hoje têm profundo impacto sobre todos nós e por muitas gerações. Nós realmente não temos uma segunda chance com um assunto dessa importância.
Você acredita que as pessoas, de modo geral, estão se tornando mais conscientes de seu papel na busca do equilíbrio do planeta?
Com os avanços da tecnologia e a possibilidade de ter, apenas com um clique, acesso a partes remotas do mundo, as pessoas podem experimentar lugares os quais antes só imaginavam. Como resultado, mais pessoas se envolvem com o desafio que nos é colocado da essencial necessidade de ação imediata para pôr em prática políticas que terão impacto em todo o planeta, nas gerações que estão por vir. Eu acredito fortemente no poder do espírito humano e na importância do comprometimento de cada um. Uma pessoa realmente pode fazer diferença. Mas, trabalhando juntos, nós podemos mudar o mundo.
Leia a edição 53 na íntegra: