Postado em 30/06/2011
"Hoje, vivemos dois sentidos da natureza: aquele ancestral, do “concedido” planetário, e aquele moderno, do “adquirido” industrial e urbano. Pode-se optar por um ou outro, negar um em proveito do outro; o importante é que esses dois sentidos da natureza sejam vividos e assumidos na integridade de sua estrutura antológica, dentro da perspectiva de uma universalização da consciência perceptiva - o Eu abraçando o mundo, fazendo dele um uno, dentro de um acordo e uma harmonia da emoção assumida como a única realidade da linguagem humana."
Manifesto do Rio Negro, 1978 Pierre Restany, Sepp Baendereck, Frans Krajcberg
Redigido em 1978, durante uma incursão à Floresta Amazônica, o Manifesto do Rio Negro, que propôs uma nova consciência ambiental e existencial, ainda é essencial para quem quer mergulhar na obra de Frans Krajcberg, que acaba de completar 90 anos, em meio um turbilhão de eventos. Só em Salvador, houve a mostra-homenagem “Grito – Ano Mundial da Árvore” no Palácio de Artes Rodin - Bahia, o lançamento do livro “Frans Krajcberg – Natureza”, com textos de Thiago de Mello, José Antônio Saja, e Renata Rocha; e de um novo documentário sobre ele, que doou ao Estado seu acervo, que servirá à criação do Museu Ecológico Frans Krajcberg, na capital baiana.
“Minha obra é meu grito”, professa o artista, que nasceu cidade de Kozienice, na Polônia, cursou engenharia e artes e foi oficial da armada polonesa na 2ª Guerra Mundial, depois ver toda a sua família ser morta em Varsóvia. Após a guerra, partiu só para Stuttgart, na Alemanha, onde estudoucom Willi Baumeister, mestre da Bauhaus. Incentivado pelo amigo Marc Chagall, chegou ao Brasil em 1948 e se naturalizou em 1957, ano em que conquistou o prêmio de melhor pintor brasileiro na Bienal.
Viveu em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Amazônia. Em 1972, encantou-se com a pequena Nova Viçosa, no sul da Bahia. Estabeleceu-se no Sítio Natura, mas não parou de se locomover. Até hoje, são constantes as viagens para a Europa, sobretudo Espanha e França (que também o homenageará com exposições), e pelo Brasil.
Das idas à Amazônia, traz pedaços de troncos, raízes e galhos calcinados pelos incêndios florestais, matéria-prima para relevos e enormes esculturas. “É a minha colaboração mostrando a destruição pelo fogo que o homem pratica contra as arvores, o barbarismo contra a floresta e de seu povo”, diz. “O planeta não percebe que a vida do planeta corre risco. Isso é cada vez mais preocupante. Por isso, repito: precisamos ver de perto esse perigo; construir uma vida mais humana”, arremata o artista.
1921 - Nasce a 12 de abril em Kozienice (Polônia) de uma família de comerciantes pobres. É o terceiro de cinco filhos.
1939 - É preso durante a guerra em Czestochava, perto da fronteira alemã. Consegue fugir.
1940-41 - Estuda Belas Artes e engenharia em Leningrado.
1941-45 - Com a invasão da Rússia, entra para o Exército Vermelho e se torna oficial. Toda a sua família morre durante o Holocausto.
1948-54 - Estuda na Alemanha e na França até decidir vir para o Brasil, onde dirige as obras da Primeira Bienal de São Paulo.
1954 - Trabalha no Paraná, onde tem o primeiro contato com florestas brasileiras – o que transformará sua vida.
1960 - Progressivamente, expõe seus trabalhos no mundo inteiro – movimento que se intensificaria nas décadas seguintes. No fim da década, muda-se para Nova Viçosa, no sul da Bahia, onde vive até hoje. Em seu sítio, com uma área de 1,2 km² com resquícios de Mata Atllântica, plantou mais de dez mil mudas de espécies nativas.