Postado em 30/06/2011
No Ano Internacional das Florestas, especialistas debatem a importância cultural, econômica e biológica de preservar esses ecossistemas, que abrangem 31% de toda a área terrestre do globo e abrigam 80% da biodiversidade do planeta.
Quem não aprendeu, nos bancos escolares, a sagrada descoberta do Brasil pelos portugueses, em 1500? Graças a um desvio da rota para as Índias, a frota de navios comandada por Pedro Álvares Cabral lançou as âncoras na costa baiana, ficando dez dias na “nova terra”. Tempo suficiente para iniciar o contato com os índios e cortar as primeiras árvores, abrindo uma clareira na floresta onde uma gigantesca cruz em madeira foi erguida e houve a primeira missa campal, marco da posse do território. Indício da visão predatória de então, a nau de Gaspar de Lemos, que também levou a carta de Pero Vaz de Caminha para Portugal, carregou toras de pau-brasil para o rei Dom Manuel I. Era uma valiosa matéria-prima da indústria têxtil, usada em tingimentos.
Menos conhecida é a história de Fernão de Noronha, que abocanhou o primeiro monopólio real na nova colônia. Por dez anos pôde extrair o “pau-tinta” em troca de defender as novas terras da cobiça de outras nações e pagar um quinto dos lucros à coroa portuguesa. O historiador Eduardo Bueno relata em seus livros algumas tentativas para disciplinar o corte dessa madeira, a começar pela primeira Carta Régia Brasileira, de 1542, que previu punições aos abusos. Em vão. Estima-se que cerca de sete milhões de árvores dessa espécie foram derrubadas na costa brasileira até a segunda metade do século 19, quando se encerrou o ciclo econômico do pau-brasil. O desenvolvimento de culturas agrícolas, como cana-de-açúcar e, mais tarde, o café, associado à multiplicação das cidades, completaram a devastação. Em 1920, o pau-brasil chegou a ser considerado extinto. Hoje, temos menos de 7% da Mata Atlântica original, um dos principais biomas do país, conhecido pela riqueza de outros ambientes sob a mira da exploração, como o Cerrado e as florestas Amazônica e das Araucárias.
Atribuem-se a José Bonifácio de Andrade e Silva, orientador de D. Pedro I e patriarca da Independência, as primeiras observações de cunho ecológico que desembocaram em medidas conservacionistas, como as sugestões de criar uma guarda para a conservação de matas e bosques em 1820 e delegar poderes aos juízes da paz para fiscalizarem as matas no país, na Carta Régia de 1827. Antes de se tornar ministro dos negócios estrangeiros no reino, Bonifácio estudou em Coimbra com o naturalista Domenico Vandelli, de quem se tornou amigo e co-sogro, relata seu descendente, o ambientalista Paulo Nogueira-Neto, que foi Secretário Nacional de Meio Ambiente entre 1973 e 1986. “No meu livro eu conto que cometi um ato de nepotismo, ao designar José Bonifácio como patrono da Ecologia”, brinca, referindo-se ao recém-publicado “Uma Trajetória Ambientalista”, baseado em seus diários.
Para Nogueira-Neto, o conservacionismo é um fenômeno de origem urbana. “O homem do campo quer usar os espaços da natureza, enquanto as pessoas da cidade entendem-na como paraíso perdido e pregam a proteção”, interpreta, ao relembrar os recentes embates em torno da reforma do Código Florestal brasileiro que mobilizaram a sociedade em pleno Ano Internacional das Florestas.
Idealizado pela Assembléia das Nações Unidas para fomentar a consciência pública sobre problemas nessa área e encorajar a difusão de experiências sustentáveis, o Ano Internacional das Florestas foi oficialmente deslanchado em fevereiro de 2011, como uma continuidade ao Ano Internacional da Biodiversidade, explica Paulino Carvalho, chefe da divisão do meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores. Se a repercussão não é tão grande, responde ele, talvez seja por ter como base da ação apenas uma declaração internacional das florestas que não impõe obrigações aos países signatários, como ocorre com as convenções do clima e diversidade biológica.
Proposto como responsabilidade do Fórum da ONU sobre as Florestas, o ano temático ganhou apoio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que em seu último relatório apontou perspectivas preocupantes para o setor. Segundo o documento, as florestas cobrem 31% da área terrestre, contêm 80% da biodiversidade do planeta e são fonte de subsistência para 1,6 bilhão de pessoas, identificando-se ainda uma tendência ascendente da exploração de seus recursos, hoje já atingindo quase um terço das florestas públicas ou privadas do mundo.
Só que o outro lado da exploração é a galopante degradação. Na última década houve perdas anuais de 13 milhões de hectares de florestas no mundo, seja pela conversão para outros usos, inclusive agricultura, ou por causas naturais. A América do Sul foi campeã, devido a incêndios florestais, pragas, desastres naturais, invasão de espécies exóticas, entre outros.
A boa notícia do relatório foi a identificação de outra tendência: o incremento de medidas pela conservação da biodiversidade e manejo sustentável dos ecossistemas. Cerca de 10% da área florestal global foi transformada em áreas protegidas, como parques nacionais, visando conservar a diversidade, proteger recursos como solo e água ou preservar o patrimônio cultural. Criado em 1893 para proteger uma área de mananciais, o Parque Estadual da Cantareira, que ainda hoje fornece boa parcela da água consumida na Região Metropolitana de São Paulo, espalha-se por quatro municípios – São Paulo, Mairiporã, Caieiras e Guarulhos. De um lado, enfrenta problemas como loteamentos irregulares. De outro, tem expressiva visitação pública nos núcleos Pedra Grande, Engordador e Cabuçu.
A diversidade de vida nas florestas é útil ao “bicho-homem”, que tem nelas uma fonte de alimentos, medicamentos e garantia da preservação de recursos naturais, como água potável. Não são o “pulmão do mundo”, como já se falou a respeito da Floresta Amazônica, mas podem ser entendidas como um “arcondicionado”, por contribuírem para a estabilização do clima mundial. Mais que isso, os povos da floresta – moradores tradicionais desses ecossistemas – mantêm religiões, crenças e tradições espirituais que estabelecem vínculos com plantas e animais, gerando uma ligação profunda com o meio florestal, que é transmitida de geração em geração, destaca Celso Schenkel, coordenador das áreas de ciência e meio ambiente da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) no Brasil.
A Unesco, explica ele, é coadjuvante nos eventos promovidos em torno do Ano Internacional das Florestas. No entanto, ele observa que a chancela facilita a difusão de ações permanentes, como o programa Homem e Biosfera, cuja parte mais visível está no acompanhamento de 450 Reservas da Biosfera existentes no mundo. Trata-se de um selo dado a áreas que contribuam para a conservação da biodiversidade, permitindo a realização de projetos demonstrativos que promovam o desenvolvimento sustentável. Além disso, o lema do ano, “florestas para o povo”, suscita o debate sobre a repartição de benefícios para a população local para o manejo sustentável, elogia Schenkel.
São ideias que vão de encontro a colocações da pesquisadora Sueli Furlan, professora do departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, que há cinco anos escreveu um artigo provocador, criticando uma visão predominante na legislação brasileira – a de que conservação ambiental seria sinônimo de áreas intocadas pelo homem. Chamou de “florestas culturais” aquelas manejadas por povos tradicionais que compartilham os espaços, muitas vezes sem documentação de propriedade, e transmitem de geração em geração uma “ampla gama de formas de manejo que garantem a sustentabilidade e os múltiplos valores contidos nos usos das florestas”.
Na legislação brasileira, apenas reservas extrativistas teriam essa característica de florestas culturais, interpretou a pesquisadora, que encontrou cerca de 400 projetos com o viés do uso sustentável apoiados por instituições governamentais ou não governamentais na América Latina. Situados em geral nas florestas Amazônica e Atlântica, são predominantemente promotores de sistemas agroflorestais, que imitam a diversidade na natureza unindo árvores a cultivos agrícolas ou à criação de animais, gerando renda e segurança alimentar sustentavelmente.
Gerir um território com foco na sustentabilidade e bem-estar de seus habitantes exige a compreensão dos serviços ambientais que os ecossistemas florestais propiciam gratuitamente, emenda Rodrigo Victor, diretor-geral do Instituto Florestal do Estado de São Paulo. Exemplo típico, diz, está no custo da construção de piscinões em áreas de inundação nas cidades, que não fazem mais que substituir um serviço oferecido pelas várzeas dos rios. Ao ocupá-las com avenidas e bairros, o terreno torna-se impermeável, favorecendo as enchentes.
Num passado não tão distante, lembra ele, o uso intensivo de recursos naturais foi exaltado como favorável ao bem-estar humano. Hoje vivemos as consequências dessa filosofia, que podem se agravar, caso não se invista na prevenção, resultando em mais perdas na qualidade do ar, dos solos, da água, bem como a multiplicação de desastres naturais, favorecidos pelo fenômeno do aquecimento global.
Sofre também a biodiversidade das florestas, acrescenta Nogueira-Neto, que destaca um efeito maligno das mudanças climáticas, que nunca foram tão velozes como agora. Antigamente, se São Paulo se tornasse mais quente, exemplifica, as espécies vivas teriam séculos para se deslocar, reacomodando-se em regiões mais frias. Hoje, a rapidez redunda em extinção.
Ex-coordenador da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Região Metropolitana de São Paulo – território de 1,7 milhão de hectares que abrange 73 municípios na Grande São Paulo e Baixada Santista –, Rodrigo Victor propõe a sensibilização para a percepção ambiental como primeiro passo para induzir os valores e atitudes conservacionistas. É o que ocorre, segundo ele, com o programa Jovens e Meio Ambiente, que formou 3.000 jovens de baixa renda desde 1995, em 15 núcleos de formação ecoprofissioestabelecidos dentro desta reserva.
Selecionados em escolas públicas locais, esses jovens de ensino médio estudam durante quatro semestres no horário alternativo ao da escola, saindo aptos a trabalhar com agricultura orgânica, reflorestamento e recuperação ambiental, reciclagem ou turismo sustentável. “Repassamos a metodologia a parceiros locais nos municípios, que a adaptam para a sua realidade”, explica.Em muitos casos, a mobilização através de redes sociais tem potencializado programas de plantio e de conscientização. Em pouco mais de dez anos a Fundação SOS Mata Atlântica proporcionou o plantio de 22 milhões de árvores nativas no país, comemora Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas, referindo-se a dois programas da ONG que se apóiam na triangulação com empresas e indivíduos para alcançar esse resultado.
Lançado em 2000, o Clickarvore usa os clics de internautas para gerar uma pontuação, que resulta na doação de mudas, pagas por empresas. Para recebê-las gratuitamente, proprietários de terras também se inscrevem no site, comprometendo-se a zelar por elas durante o crescimento. Embarcando na tendência de neutralizar as emissões de carbono, outro programa, o Florestas do Futuro, nasceuem 2004, com um custo maior por árvore plantada, pois abarca o plantio e acompanhamento técnico nos primeiros anos de vida da futura árvore, seja em reservas legais ou em áreas de preservação permanente. O sucesso das propostas, afirma Mantovani, deve-se à adoção de novas linguagens da comunicação, sobretudo as redes sociais, que atraem um público jovem e engajado.
Vivemos um tempo em que os problemas socioambientais nos desafiam a usar a imaginação e aumentar nossa capacidade de participar e decidir sobre o presente e o futuro, contrapõe Rachel Trajber, coordenadora-geral de Educação Ambiental no Ministério da Educação (MEC), ao mencionar um processo em andamento, que visa transformar instituições de ensino médio em incubadoras de mudanças concretas da realidade social, sob a ótica da sustentabilidade.
Viabilizado pelo programa Universidade Aberta do Brasil, o processo envolveu 140 escolas e 1.500 participantes, orientados à distancia por equipes das universidades federais de Ouro Preto, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, não sem antes realizar um encontro presencial com representantes de cada instituição participante, no SESC Pantanal. Indo do local em direção ao global, os participantes aprenderam primeiro a medir a pegada ecológica e mapear a qualidade de vida na escola, para então propor projetos de ecoeficiência e debater sobre uso de energia, água, transporte, consumo, alimentação, resíduos sólidos, justiça ambiental, visando a mudança de paradigma da escola.
“Ainda é cedo para resultados, mas, mais do que valorizar serviços ambientais da natureza, que atribuem um valor econômico aos recursos naturais, preferimos reforçar o cuidado, como define o teólogo Leonardo Boff, isto é, a atitude cuidadosa, protetora e amorosa para com a realidade”, afirma a coordenadora, defendendo a coerência entre o dizer e fazer (integridade), e a noção da responsabilidade, que a sustentabilidade pode inspirar.
A oportunidade de nos deparamos com a impávida beleza até mesmo de uma pequena flor desmonta a prepotência da visão consumista do mundo, prega o educador Marcos Sorrentino, da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz). Qualquer outra formação vegetal, que podemos chamar de floresta, tem em si um potencial em direção à sustentabilidade, servindo como espaço educador sustentável, diz ele, recordando a definição em uma publicação do Ministério do Meio Ambiente em 2005, quando ele dirigia o Departamento de Educação Ambiental: espaços educadores são aqueles capazes de demonstrar alternativas viáveis para a sustentabilidade, estimulando as pessoas a desejarem realizar ações conjuntas em prol da coletividade e reconhecerem a necessidade de se educarem neste sentido.
Quem se deixa absorver pela observação, professa Sorrentino, aprende a se maravilhar com a súbita visão de um esquilinho subindo na árvore e compreende que a vida é mais complexa do que aquilo que o ritmo acelerado das atividades e o consumismo nos induzem a pensar.
As possibilidades educadoras da floresta são infinitas, diz o especialista. Entre tantas atividades, é possível promover a colheita de sementes e a produção de árvores, diálogos, debates e ações de proteção, ou mesmo reflexões sobre a árvore que existe na semente que jogamos no lixo, ou sobre a relação entre todos componentes de um ecossistema florestal, que formam sistema diversificado, único e harmônico. São movimentos que frutificam na compreensão da interligação de tudo na vida e no respeito pela diversidade em todas as suas dimensões.
Quais os valores que a sociedade brasileira, que vive majoritariamente em cidades, confere às áreas verdes, em especial quando se trata de florestas urbanas? De paraíso perdido com o qual buscamos a religação à noção de uma mercadoria pela qual pagamos para usufruir, as respostas são variadas. Há quem tenha medo de se aproximar, por identificá-las com animais perigosos ou cenário de atos violentos. Pessoas bem informadas poderão expor sobre os serviços ecossistêmicos, como produção de água limpa, conforto climático, fixação de carbono, manutenção da biodiversidade. Outros ressaltarão seu potencial para o lazer.
Mas como fazer da floresta um ambiente atraente, amado e cuidado pelos habitantes da cidade? O caminho para o encantamento, explicam os professores Edmur Stoppa e Sidnei Raimundo, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, pode começar pela aproximação e o diálogo sobre como componentes de uma floresta participam do cotidiano da pessoa. Tem torneira em sua casa? De onde vem a água que sai dela? Que caminho fez, para chegar lá?
Ante uma árvore, mais que o nome científico, apontar usos medicinais, animais que dela dependem, uma lenda que ela inspirou. Estabelecer um fio condutor, uma teia de significados capaz de estimular a admiração pela complexidade da vida. “Compreender – com a mente e o coração – a dinâmica que sustenta esses grandes ecossistemas é uma das chaves para a construção de propostas e ações no rumo da sustentabilidade ambiental”, resumem, citando Luis Felipe César. Nesse sentido, três importantes iniciativas de conscientização e conservação têm multiplicado bons exemplos.
É o que a desenhista industrial Juliana Gatti decidiu começar em 2006, usando sua intuição. Amava reparar na diversidade de plantas urbanas e a vida que elas abrigavam em plena capital paulista. Inscreveu-se em cursos de jardinagem e paisagismo, aguçou seu olhar sobre detalhes. Criou o Projeto Árvores Vivas, um “turismo das árvores acessível a todos os públicos”, como diz. A proposta evoluiu, gerando novas atividades, como o mapeamento da diversidade vegetal de determinados perímetros urbanos – a quadra onde fica uma unidade do SESC, por exemplo – e a pesquisa cultural-histórica-científica sobre a relação entre o espaço observado e o bicho homem.
Andando com pessoas, Juliana descobriu que destacar a forma é mais importante que o nome científico. Cada árvore é única, com suas folhas, flores e frutos. Mas raramente as pessoas reparam até mesmo por quantas árvores transitaram, para ir de um ponto até o outro. Quem não olha, não cuida, diz. “O estado de alerta muda a percepção. As pessoas passam a reconhecer as árvores do dia a dia, aprendem que é permitido tocar nelas. A situação vivencial pode estimular novas atitudes”.
Aos primeiros passeios verdes que conduziu, no entorno do Sesc Consolação, vieram menos de cinco pessoas. Não desanimou. De boca em boca a notícia se espalhou, o público aumentou. Juliana animou-se com os olhares investigativos e curiosos. Vamos fazer um diário de folhas no caderno? Um decalque com elas? Observar sementes, folhas, a textura da madeira? Que tal tocar nas árvores, tentar saber mais, se a espécie é nativa, se abriga animais e quais? De repente deparavam-se com uma grande árvore sob uma fiação elétrica, “atrapalhando” o espaço urbano. Nunca mais esqueceriam a lição de não plantar sem planejar, para não gerar transtornos no futuro. Passou a desenhar mapas do verde, que disponibiliza no seu blog. Numa atividade com a prefeitura, formou da sensibilização, que leva a abrir o coração para apreciar a natureza. Não precisamos fugir da cidade para alcançar isso, basta se apropriar dos elementos naturais, como a árvore no nosso caminho, informa.
Durante o crescimento, as árvores absorvem dióxido de carbono (CO2), gás liberado por veículos e indústrias que se tornou o vilão do aquecimento global. Prever seu cultivo tornou-se item obrigatório para combater as mudanças climáticas. Numa casa, elas embelezam o ambiente. Na cidade, são purificadoras naturais do ar e contribuem para que a temperatura ambiente seja mais agradável.
Com esses argumentos, o arquiteto mineiro Carlos Solano pensou em criar, também em 2006, a campanha “Plante um milhão de árvores”. Inventou um projeto interativo, com um site que permitia o envio de depoimentos e fotos das árvores, e a contabilização das plantadas por internautas. Naquela época, a ONU pregava o plantio de um bilhão de árvores para frear as mudanças climáticas. De sua Minas Gerais, Solano atingia milhares de pessoas como colunista de uma revista mensal e professor do curso intitulado “Casa Natural”. Ganhou divulgação espontânea na mídia e em poucos meses já eram 25 mil plantios.
Mais que resultados globais, diz ele, o ato de plantar mostra ao indivíduo a importância de pequenas atitudes do dia a dia que, quando multiplicadas por milhares de pessoas, fazem a diferença no contexto planetário. “As árvores são a pele da Terra. Sabemos que nenhum ser vivo sobrevive sem a pele, e, se elas desaparecerem, o planeta corre sérios riscos. Mas é importante pesquisar antes sobre o tamanho da árvore adulta e o das raízes, para escolher a planta certa para cada lugar, dando preferência às nativas da região”, prega.
Filho de pais italianos que mostravam que na vida nada vem de graça, e que aquilo que temos devemos cuidar para não perder, Mario Moscatelli apaixonou-se pelos manguezais ainda adolescente, no início dos anos 1980, ao mergulhar no meio das árvores do manguezal do Ariró e Jurumirim, em Angra dos Reis (RJ). Depois veio o curso de Ciências Biológicas e o choque com a degradação dessa floresta protegida por lei, sobretudo por causa da cobiça imobiliária. Convidado a chefiar o departamento de controle ambiental do município em 1989, foi várias vezes ameaçado de morte, até pedir exoneração. “Botei pra quebrar, quem saiu quebrado fui eu”, resume.
“O sofrimento serviu para alguma coisa”, deduz o ativista, que foi descobrindo novos modos de divulgar a importância do mangue, intimidar ações de degradação, gerenciar e recuperar esses ecossistemas. Em 1990, deslocou suas observações para a Lagoa Rodrigo de Freitas, cartão postal do Rio de Janeiro. Notou o despejo de esgotos não tratados em suas águas. Mas não bastou denunciar, foi preciso esperar por mortandades de peixes para gerar a mobilização pública que obrigou a companhia de águas a assinar um termo da ajuste de conduta, promovendo obras para evitar a poluição. As mortandades deixaram de ser praxe, passou-se o tempo, a biodiversidade aumentou e o mangue se recompôs.
Tudo isso sem deixar de lado a ação de “fiscal ambiental”, fortalecida pelo projeto Olho Verde, que idealizou em 1997. São sobrevôos sistemáticos sobre o Sistema Lagunar da Baixada do Jacarepaguá, a Baia do Guanabara e a pró-pria Lagoa, para localizar os agressores dos manguezais. Primeiro, voava com ultraleve, apoiado pelo clube da aeronáutica na Baixada de Jacarepaguá, depois conseguiu helicópteros emprestados por gente preocupada com a degradação ambiental, finalmente conseguiu realizar vôos mensais, com suporte de pessoas físicas e jurídicas. O resultado entra num blog, que permite ver o antes e agora.
Pessimista na análise da conjuntura, mas otimista na ação, Moscatelli associou o ativismo ao cargo de professor do Centro Universitário da Cidade, até descobrir um linfoma em 2008. Hoje, dedica-se à sua empresa, Manglares, de consultoria ambiental, sem abandonar a missão de lutar pela proteção e recuperação dessas florestas. Em suas palavras: “Não tem saída. Em curto prazo conscientização, recuperação, fiscalização e repressão. No longo prazo, educação de qualidade. O resto é conversa”.
Saiba mais sobre os projetos
Árvores vivas: www.arvoresvivas.com.br
Plante um milhão de árvores: www.ummilhaodearvores.org.br
Olho Verde: www.biologo.com.br/olhoverdes
O Projeto Pomar, rebatizado Pomar Urbano, nasceu em 1999 para associar a revegetação das margens do rio Pinheiros ao resgate da cidadania de desempregados que passaram a atuar na iniciativa. Coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado, emprega parcerias com a iniciativa privada e hoje beneficia 23 quilômetros de margens do rio. Segundo o coordenador Roberto Rosa, é um exemplo de promoção da sustentabilidade “sem fazer muito barulho”.