Postado em 29/11/2010
VANESSA VALÉRIO PENATTI
A constatação da chegada da velhice está associada a muitos aspectos negativos, tais como: debilidades físicas, doenças, apatia, medo da dependência física, falta de proteção, de cuidados e do carinho da família, solidão e dependência econômica. Portanto envelhecer tornou-se um desafio para homens e mulheres, que necessitam de dignidade e possuem vontade de continuar a contribuir, efetivamente, com a sociedade. Mediante essas dificuldades, o Sesc São Paulo criou o “Trabalho Social com Idosos”, que foi pioneiro no país e na América Latina:
Nos anos de 1960 e 1970, o Sesc incentivou a criação de grupos de convivência, para que os idosos pudessem driblar a marginalização e tivessem a oportunidade de estabelecer vínculos de amizade, compartilhando preocupações, angústias, desejos e sonhos com aqueles que viviam problemáticas semelhantes (SESC e PUC-SP, 2006).
O aumento da expectativa de vida da população e a diminuição da taxa de natalidade, a partir de 1980, criaram a necessidade de novas soluções políticas, sociais e científicas para melhorar a qualidade de vida do idoso.
Das questões mais instigantes do início do século XXI está o desafio da longevidade humana; desafio filosófico, político, social e científico. Filosófico, porque a velhice carece de novo sentido e requer ética nova. Social, porque os idosos ainda não possuem lugar na sociedade atual. Político, porque a existência de um número maior de idosos exige políticas e ações que lhes proporcionem maior cidadania. E científico, pois não basta sobreviver: tanto a ciência e a tecnologia devem, com seus avanços, colaborar para uma melhoria da qualidade de vida daqueles que envelhecem (SESC e PUC-SP, 2006).
Segundo Maciel (2008), é cada vez mais marcante, na maioria das sociedades, especialmente nas mais desenvolvidas, o aumento do número de pessoas que atingem a terceira idade. Nas últimas décadas, a expectativa de vida aumentou mais que nos cinco milênios anteriores, ou seja, até a Revolução Industrial, as pessoas com mais de 65 anos não atingiam 3% da população. Todavia, hoje é comum, em alguns países, que essa população ultrapasse os 18%.
Rebelatto e Morelli (2007) registraram a existência de 46 países muito idosos: o Japão, com 25% da população com idade igual ou superior a 60 anos; a Espanha, com 21,8%; Portugal, com 21,2%; os Estados Unidos, com 16,3%; e o Brasil, com 8,2%.
No Brasil, a população idosa aproxima-se dos 18 milhões de cidadãos, ou seja, quase 10% da população, que pode dobrar em 2030 e corresponder a um quinto da população brasileira em 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Entre as várias áreas profissionais que atuam com o público em questão, a Fisioterapia Gerontológica estuda, previne e trata as disfunções decorrentes do processo de envelhecimento, mediante a administração de condutas fisioterapêuticas, prevenindo quedas e promovendo a recuperação funcional global de pessoas idosas.
Pela Resolução no 80 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional [Coffito] (1987), a Fisioterapia é a atividade profissional regulamentada da Área da Saúde que estuda, diagnostica, previne e trata os distúrbios da cinesia humana2, decorrentes de alterações de órgãos e sistemas humanos. É administrada em consultórios, clínicas, centros de reabilitação, asilos, escolas, clubes, academias, residências, hospitais, empresas, unidades básicas ou especializadas de saúde, tanto por serviços públicos como privados.
Esta atividade assistencial atua com procedimentos, técnicas, metodologias e abordagens específicas que possuem o objetivo de tratar, minimizar e prevenir as mais variadas disfunções e, dessa forma, melhorar a qualidade de vida daqueles que estão sob seus cuidados.
Como profissional da área de Fisioterapia e servidora do Sesc São Paulo, instituição que possui como objetivo proporcionar ao público atividades que visam à melhoria da qualidade de vida e ao desenvolvimento cultural, realizo, em conjunto com outros profissionais, atividades de hidroterapia e cinesioterapia para a terceira idade, como atividade integrante do Programa “Trabalho Social com Idosos”, na Unidade Thermas de Presidente Prudente, interior do Estado de São Paulo.
A referida unidade está instalada em um espaço anteriormente administrado pela Prefeitura Municipal, que foi doado ao Sesc em 2007.
Por se tratar de um local que possui águas termais, quando da doação pela Prefeitura, foi solicitado ao Sesc a manutenção do atendimento fisioterápico aos usuários encaminhados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que já era realizado no local por profissionais do sistema de saúde do município. Dessa forma, em cumprimento ao Acordo Extrajudicial, Processo n° 1.169/05, firmado perante o Ministério Público do Estado de São Paulo, o Sesc São Paulo preservou a oferta deste serviço na sua Unidade de Presidente Prudente, embora este não seja, em princípio, o objetivo imediato da instituição:
1 Haverá acesso livre e gratuito às atividades realizadas no parque aquático do Balneário (entre elas, os trabalhos de hidroterapia) e às dependências do local, respeitando-se, sempre, os princípios inseridos no Estatuto do Idoso (Lei no 10.741/03).
2 O Sesc – Serviço Social do Comércio realizará o concurso para contratação imadiata de profissionais em Fisioterapia, em número adequado, para prosseguir o tratamento das pessoas que frequentavam o local para esta finalidade.
4 O Sesc – Serviço Social do Comércio efetivará convênio imediato com o SUS, para proceder aos atendimentos de hidroterapia e cinesioterapia das pessoas que deles necessitarem. Em caso de não ser possível viabilizar esse convênio, o Sesc se compromete a dar atendimento integral a todas as pessoas necessitadas do SUS, de acordo com a capacidade física do local.
6 O não cumprimento por parte do Sesc e da Prefeitura Municipal implicará a reversão imediata do bem imóvel ao patrimônio público, podendo tal pleito ser executado em juízo.
Neste sentido, o atendimento de Fisioterapia é realizado para um público mínimo de 100 pessoas por dia, sem ônus a essas pessoas, independentemente da sua idade. Ainda, pelo acordo, o Sesc deveria manter o termo “thermas” e, por isso, hoje, a unidade é conhecida como Sesc Thermas de Presidente Prudente.
No serviço, reformulado em junho de 2007, constam exercícios físicos e atividades alternativas.
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia da intervenção da Fisioterapia na melhora da qualidade de vida do público da terceira idade que participou do “Trabalho Social com Idosos” na Unidade Sesc Thermas de Presidente Prudente, no período de um ano.
Estudos indicam que o Brasil terá, em 2025, a sexta maior população idosa do mundo, com uma proporção de, aproximadamente, 14% da população e, em números absolutos, cerca de 31 milhões de idosos (CARVALHO FILHO e PAPALÉO NETTO, 2000). A população idosa cresce mais rapidamente que a população mundial, numa proporção de 2,5% ao ano (CARTER e O’DRISCOLL, 2000). A cada ano, cerca de 10% da população idosa, a partir dos 75 anos, perde a independência em uma ou mais atividades de vida diária (SANGLARD e PEREIRA, 2005).
Diante do aumento da população idosa do Brasil e de outros fatos que envolviam este público à época, o Sesc criou o Programa “Trabalho Social com Idosos” (TSI) em 1963, com os objetivos de incentivar a integração social entre idosos e melhorar sua qualidade de vida, com atividades que proporcionassem sociabilização, atualização cultural, descoberta de novas habilidades e conscientização quanto às mudanças biológicas, psíquicas e sociais que o envelhecimento provoca.
Ruchinskas (2000) afirma que o processo de envelhecimento causa inúmeras perdas ao ser humano, entre as quais a diminuição da cognição. A redução da cognição nos idosos pode estar relacionada com a diminuição do desempenho na realização das atividades de vida diária (AVDs) e essas dificuldades cognitivas determinam a necessidade de supervisão por cuidadores, especialmente de idosos institucionalizados.
Para Ferrantini et al. (2005), outro fator que merece destaque é o imobilismo, que favorece a perda de massa muscular ou sarcopenia nos membros inferiores, o que aumenta a probabilidade de quedas, hospitalizações e, consequentemente, perda importante da qualidade de vida.
A senescência, acompanhada por uma série de alterações nos sistemas nervoso, sensorial e no aparelho locomotor, traduz a diminuição do número de neurônios, diminuição da velocidade de condução nervosa, do tempo de reação, da acuidade visual e auditiva, da sensibilidade tátil, da massa óssea, da força muscular e da flexibilidade, aumento da rigidez articular e alterações no equilíbrio, na postura e na marcha (SANGLARD e PEREIRA, 2005; LYNDON-GRIFFITH, 1996). Essas alterações comprometem a sequência dos movimentos e provocam deficiência nas reações de equilíbrio e proteção (PAULA et al., 2006).
Dentre as intervenções feitas pela Fisioterapia para minimizar esses efeitos, destaca-se a realização de hidroterapia e cinesioterapia de solo, ou seja, exercícios físicos realizados na piscina (hidroterapia) e também em outros espaços, como por exemplo uma sala de ginástica (cinesioterapia de solo).
Mitsuichi (2005) afirma que as alterações no sistema músculo-esquelético que são relevantes na deambulação ocorrem no envelhecimento, tais como a redução da flexibilidade em geral e alterações nas cartilagens e superfícies articulares, que podem provocar desvios posturais, os quais serão refletidos na marcha. A deambulação dependente e a segurança diminuída durante as atividades da marcha são motivos comuns para internações, por motivos de queda, que podem resultar em lesões. As estimativas sugerem que 25% dos que são admitidos em um hospital, por causa de uma fratura de quadril, morrerão dentro de um ano.
Conforme Moura (1999), a deambulação é um determinante primordial para a qualidade de vida dos idosos. Dificuldades na marcha, quedas e medo ao andar causam incapacidades ao requererem velocidade e precisão. Durante a marcha, eles aumentam a base de sustentação, os passos são curtos e lentos e o tronco tende a fletir-se à frente, para proporcionar estabilidade. No entanto, isso pode restringir as reações de equilíbrio, as AVDs ou até mesmo causar imobilidade.
Entretanto, a prática regular de exercícios físicos possibilita obter resultados positivos sobre os parâmetros da marcha, diminuir o risco de quedas e melhorar as atividades funcionais dos idosos. A realização de atividades no meio aquático, por exemplo, ajuda a minimizar déficits de deambulação, de fraqueza muscular e de equilíbrio, em função da resistência promovida pela água.
Estudos feitos por Cilento (2005) comprovam a eficácia da atividade física na minimização das deficiências encontradas nas pessoas idosas e, consequentemente, na sua independência funcional e na manutenção da qualidade de vida. Muitas pesquisas se detêm na prevenção de quedas e melhoria da deambulação com o auxílio de programas de fortalecimento, treinamento funcional e equilíbrio.
A Fisioterapia é uma especialidade que alcançou alto grau de afirmação social no Brasil, em função da importância de seu objetivo de intervenção. Com indivíduos de idade avançada, entretanto, os estudos são recentes. Assim, a organização e a disponibilização do conhecimento fisioterápico existente para a assistência específica aos idosos são fundamentais.
O contato com o fisioterapeuta estabelece uma comunicação e um conforto físico e emocional para os idosos, que auxiliam em sua pronta recuperação e na humanização do atendimento. Em função das patologias e dos déficits funcionais que os idosos apresentam, são comuns os casos de depressão e desânimo em relação à Fisioterapia e a outras atividades físicas.
A abordagem de temas relativos à terceira idade é de fundamental importância, permitindo o entendimento dos processos que estão envolvidos no envelhecimento, o controle dos fatores de risco, assim como as intervenções possíveis para melhorar sua qualidade de vida, permitindo uma vida mais longa, com condições aceitáveis para suas atividades de rotina, melhorando sua autoestima e proporcionando uma vida mais saudável.
Para Rebelatto e Morelli (2007), é importante ressaltar que a intervenção fisioterápica junto ao idoso possui como objetivos restaurar ou manter a funcionalidade. Considerando que os idosos, mesmo os livres de doenças, podem apresentar impedimentos importantes na sua funcionalidade, decorrentes de déficits de ajustes posturais, acarretando aumento na incidência de quedas, torna-se importante ressaltar a positividade da atuação fisioterápica preventiva em relação às quedas e suas consequências.
A proposta de intervenção da Fisioterapia é habilitar o participante a experimentar um estilo de vida o mais normal possível, para minimizar os efeitos de determinadas condições que estejam relacionadas com incapacidade física por meio de controle e prevenção das estratégias compensatórias adotadas, na tentativa de enfrentar mudanças do seu estado físico.
Os objetivos da atuação fisioterápica que faz parte do programa do Sesc Thermas de Presidente Prudente são direcionados a redução ou alívio da dor e da rigidez articular, aumento da funcionalidade, manutenção e aumento da força muscular, aumento da estabilidade e da proteção articular, aumento da propriocepção, da sensação cinestésica e do equilíbrio, prevenção de incapacidades, adaptação do participante ao meio e melhoria de sua qualidade de vida.
Rebelatto e Morelli (2007) afirmam que, ao trabalhar com pessoas idosas e para o desenvolvimento de iniciativas de intervenção destinadas à promoção, prevenção e reabilitação, é fundamental serem incluídas técnicas de revitalização geriátrica – exercícios de aquecimento, alongamento, mobilidade, força muscular e marcha. A utilização do termo “revitalização geriátrica” refere-se ao uso da Fisioterapia como recurso preventivo e promocional, aplicada com o objetivo de contribuir para a integração das condições de vida com a satisfação pessoal, cuja consequência é a qualidade de vida.
É preciso considerar que as condições de vida estão relacionadas ao estado de saúde, o que faz com que as técnicas de Fisioterapia revitalizantes se encontrem relacionadas ao conceito de qualidade de vida. Portanto tais técnicas devem ser consideradas aspectos importantes da promoção da saúde. Por conseguinte, a revitalização geriátrica constitui-se de uma técnica preventiva, reabilitadora e como um agente positivo para manter bons estados de saúde dos idosos ou melhorá-los ainda mais.
Considerando o objetivo do presente trabalho, optou-se por uma pesquisa de investigação com os 71 participantes do Programa de Fisioterapia (hidroterapia e cinesioterapia de solo) implantado no Sesc Thermas de Presidente Prudente. Todos apresentavam idade igual ou acima de 60 anos (31,7% do total de 224 pacientes), sendo 27 homens (30,03%) e 44 mulheres (61,97%).
Para tanto, os participantes foram avaliados e divididos em turmas, de acordo com as patologias apresentadas: fibromialgia, hérnia de disco lombar, patologias de membros superiores e região cervical, patologias de quadril e joelhos e patologias diversas (acometimento de membros superiores, coluna em geral e membros inferiores).
Para cada grupo foram elaborados protocolos de exercícios específicos. Porém são comuns, em todos os protocolos, os exercícios de fortalecimento muscular, equilíbrio, marcha, alongamento e correção postural, direcionados a minimizar estes principais déficits causados pelo envelhecimento.
Nas reavaliações semestrais, os pesquisados foram questionados quanto:
• à melhora, piora ou manutenção do quadro álgico;
• à facilidade ou dificuldade em realizar os exercícios;
• a aumento, redução ou manutenção do uso de medicamentos para dor;
• à melhora, piora ou manutenção do equilíbrio;
• à facilidade ou dificuldade de realizar tarefas domésticas e AVDs;
• a participações em atividades alternativas, tais como oficinas de artesanato, aulas de dança de salão e danças circulares, realização de caminhada, Clube da Gargalhada3 e atividades culturais.
Ao responderem às perguntas, os participantes compararam suas habilidades recentes com as que possuíam antes de iniciarem o referido programa.
Após a coleta dos relatos dos 71 participantes do Programa de Fisioterapia (hidroterapia e cinesioterapia de solo), foram obtidos os seguintes resultados, submetidos à análise estatística de significância, t de Student, e demonstrados abaixo.
O Gráfico 1 apresentou os seguintes resultados:
• quadro álgico: 61,97% (44) dos participantes relataram redução da dor; 23,94% (17) relataram que a dor permaneceu estável; e 14,08% (10) relataram aumento da dor, após um ano de atividades;
• equilíbrio: 57,74% (41) dos participantes relataram aumento no equilíbrio e, por conseguinte, redução nas quedas; 33,8% (24) relataram que o equilíbrio permaneceu estável; e 8,45% (6) relataram diminuição do equilíbrio, após um ano de atividades;
• uso de medicamentos para dor: 49,29% (35) dos participantes relataram ter diminuído o uso de medicamentos para dor; 36,62% (26) relataram que o uso de medicamentos permaneceu o mesmo; e 14,08% (10) relataram ter aumentado o uso de medicamentos, após um ano de atividades.
O Gráfico 2 apresentou os seguintes resultados:
• realização de exercícios e flexibilidade: 71,83% (51) dos participantes relataram maior facilidade em realizar os exercícios e melhora no alongamento; 15,49% (11) relataram que não houve melhora ou piora na realização de exercícios e no alongamento; e 12,67% (9) relataram dificuldade ao realizar os exercícios e piora no alongamento, após um ano de atividades;
• tarefas domésticas: 33,8% (24) dos participantes do sexo feminino relataram maior facilidade em realizar as tarefas domésticas; 11,26% (8) relataram que não houve melhora ou piora ao realizá-las; e 16,9% (12) relataram maior dificuldade ao realizar as tarefas domésticas, após um ano de atividades; os homens, que correspondem a 30,03% (27), relataram não realizar tarefas domésticas;
• realização de AVDs: 60,56% (43) dos participantes relataram maior facilidade em realizar suas AVDs; 21,12% (15) relataram que não houve melhora ou piora na realização das AVDs; e 18,3% (13) relataram maior dificuldade ao realizar suas AVDs, após um ano de atividades.
Durante as aulas, nesse período de pouco mais de um ano, os participantes fizeram os seguintes relatos em relação às tarefas domésticas e AVDs: “consigo lavar e pentear os cabelos”, “não tropeço mais na rua”, “consigo subir as escadas dos ônibus”, “varro devagar o quintal”, “dobro mais os joelhos que antigamente”, “consigo abotoar o sutiã”, “voltei a fazer crochê e tricô”, “consigo arrumar a casa”, “as dores nas costas diminuíram”, “me sinto mais alongada(o)”, “emagreci com os exercícios”, “venho para a Fisioterapia porque aqui eu me divirto”, “me sinto bem fazendo os exercícios”.
Em relação à participação em atividades alternativas, 66,19% (47) relataram que gostaram da atividade da qual participaram e que a vinda do Sesc para a cidade trouxe mais benefícios para suas vidas.
O processo de envelhecimento provoca inúmeras debilidades corporais, decorrentes do envelhecimento biológico, do desuso e do sedentarismo (MONTEIRO, 2001).
Após estudo realizado com 71 idosos, com idade igual e superior a 60 anos, observou-se que houve redução do quadro álgico e do uso de medicamentos para dor, a melhora do equilíbrio, da realização dos exercícios e da flexibilidade e maior facilidade ao realizar tarefas domésticas e AVDs.
Segundo Okuma (1998), para um idoso realizar suas tarefas cotidianas, apesar de necessitar de pouca aptidão cardiovascular, precisa muito de um conjunto de capacidades como força muscular, resistência muscular localizada e flexibilidade, conjunto este denominado de aptidão muscular, pelo American College of Sports Medicine.
Sabe-se que o envelhecimento provoca deficiências na aptidão muscular, com a deterioração da elasticidade e estabilidade musculares, tendinosas e ligamentares, atrofia muscular e redução da massa muscular, em proporção ao aumento do peso corporal, fatores estes que levam à redução da força muscular. Além disso, observa-se um prejuízo na flexibilidade, ocasionado por degeneração e danos articulares. Esses fatores causam incapacidades ortopédicas e redução no controle sobre o corpo, o que aumenta o risco de quedas, além de prejudicar a resolução de simples problemas do cotidiano, como vestir-se, lavar-se, limpar a casa, entre outros.
Segundo Phillips e Haskell, citados por Okuma (1998), os estudos sobre quedas em idosos associam a redução da força muscular de membros inferiores à incapacidade de levantarem-se de uma cadeira, com instabilidade ou pouco controle postural, além da redução da amplitude da passada e da velocidade de andar.
Nos resultados do Gráfico 2, observa-se que 33,8% das participantes conseguem realizar as tarefas domésticas e que 60,56% dos participantes efetuam suas AVDs com maior facilidade. A participante M.A.S.B. relatou conseguir subir as escadas dos ônibus, assim como as participantes M.A.B. e M.B., que relataram conseguir arrumar a casa. A melhora na execução das AVDs também ocorreu, pois, com as atividades físicas, houve uma melhora de flexibilidade, força muscular, equilíbrio e redução do quadro álgico, que, na maioria dos casos, é o maior fator limitante para um idoso executar suas AVDs.
Conforme Soares (2007), o declínio da flexibilidade, que se acentua com o aumento da idade, provoca prejuízos às funções do organismo, aumenta a predisposição à hipomobilidade articular, que é uma das causas da inatividade física e de queixas de dores durante a realização das AVDs. A flexibilidade desempenha, também, papel importante na profilaxia de lesões, na eficácia mecânica e no aperfeiçoamento dos movimentos. Estudos demonstram que idosos que praticam atividade física apresentam maior flexibilidade, maior mobilidade e elasticidade muscular.
A importância da flexibilidade de ombro dá-se quando, ao tomar banho, o mínimo de abdução que a articulação pode ter é de 170 graus; quando se lavam as costas, 130 graus; para vestir-se, 50 graus; e para usar o toalete, 40 graus. Quando esta articulação não atinge esses limiares, as AVDs tornam-se mais difíceis.
No estudo realizado com 30 idosas, de 60 a 75 anos, do Programa de Atividade Física da Policlínica de Referência Regional SUS – Centro, para verificar a flexibilidade do quadril, observou-se que houve uma melhora da flexibilidade, o que possibilitou um avanço nas atividades básicas de sentar e levantar, favorecendo, também, a prevenção de doenças osteoarticulares.
Conforme o Gráfico 2, 71,83% dos participantes apresentaram maior facilidade ao realizar os exercícios e melhora no alongamento, o que pode ser evidenciado pelos depoimentos do participante C.B.A., a qual afirmou conseguir lavar e pentear os cabelos; da participante L.G.V., que conseguiu abotoar o sutiã; e da participante A.A.L., que se sentiu mais alongada.
Estes resultados positivos são em função da realização de alongamentos durante a atividade física, com o auxílio de bolas de biobol, bastões, faixas de alongamento e barras fixadas na borda da piscina, para alongar a cadeia muscular posterior, que sofre maior encurtamento.
Okuma (1998) observou que o envelhecimento do sistema muscular reduz as forças musculares estática e dinâmica e afirmou que estas podem ser aumentadas em idosos que se submetem a programas regulares de exercícios. Concluiu, ainda, que homens e mulheres de 60 a 65 anos possuem uma capacidade física semelhante e podem ter um aumento de 30 a 40% na força muscular.
Nas atividades físicas desenvolvidas pela Fisioterapia, este ganho de força muscular é feito com a ajuda de halteres, faixas elásticas de cargas progressivas e com a própria resistência que o meio aquático proporciona.
Aoyagi e Shepard (apud OKUMA, 1998) concluíram que a prática de atividade física promove, além do ganho de 10 a 44% de força muscular, hipertrofia muscular, prevenção de atrofias e lentidão no decréscimo do número de fibras musculares. Puggaard et al. (apud OKUMA, 1998) acompanharam a evolução dos efeitos de cinco meses de atividade física sobre a força muscular, o equilíbrio, o tempo de reação e a flexibilidade de 59 homens e mulheres, com idades entre 60 e 82 anos, e observaram que o treinamento promoveu um efeito fisiológico importante em todas as variáveis, com a melhora destas funções (OKUMA, 1998).
Lord e Castell (apud ALVES, 2004) relataram melhora do equilíbrio em idosos após a prática de exercícios físicos regulares durante 10 semanas. Topp et al. (apud ALVES, 2004) observaram melhora do equilíbrio em idosos submetidos a atividade física durante 12 semanas. Hoerger e Hopkins observaram aumento de 12% da mobilidade dos idosos, no final de um programa de exercícios físicos de 12 semanas de duração (apud ALVES, 2004).
No Gráfico 1, consta que 57,74% dos participantes obtiveram aumento no equilíbrio e, por consequência, redução nas quedas. O participante J.R.A. relatou não tropeçar mais na rua após ter iniciado as atividades de Fisioterapia.
Para Okuma (1998), a atividade física é considerada um importante recurso ansiolítico e não apresenta riscos ou alguma potencial contraindicação. Como mostram alguns estudos, a atividade física está associada à redução da ansiedade, da tensão muscular, da depressão, da raiva, da fadiga e ao aumento do vigor físico, além de diminuir sintomas de estresse físico, como frequência cardíaca aumentada, hipertensão arterial sistêmica e obesidade.
Segundo Morgan, citado por Okuma (1998), a diminuição da ansiedade e da tensão muscular podem advir de alterações dos neurotransmissores no cérebro, durante o exercício físico – particularmente norepinefrina e serotonina –, bem como da presença de endorfinas, que podem promover, também, a redução no quadro álgico e, posteriormente, no uso de medicamentos para dor.
A maioria dos participantes sofre com a carência e com as debilidades causadas pelo envelhecimento e mostra-se depressiva, no começo. No entanto, após iniciarem as atividades físicas, afirmaram se divertir ao interagir com os demais participantes e que se sentiram bem ao realizar os exercícios. O Gráfico 1 demonstra que 49,29% dos participantes reduziram o uso de medicamentos para dor, pois o quadro álgico diminuiu em 61,97% destes.
Estudos evidenciam que a atividade física modula a dor em pacientes com fibromialgia. Um dos primeiros investigadores a observar a relação entre dor e exercício foi Moldofsky, em 1989. Este estudo demonstrou que a privação do sono diminuía o limiar de dor em sedentários, mas o mesmo não acontecia em indivíduos treinados. Conforme Valim (2006), há uma forte evidência de que o exercício físico supervisionado reduz a dor, o número de pontos dolorosos, a depressão e a ansiedade, e melhora a qualidade de vida e outros aspectos psicológicos.
Ainda conforme Valim (2006), exercícios de alongamento também possuem efeitos terapêuticos, porém não exercem o mesmo efeito placebo que o exercício físico. Uma hipótese para explicar esta observação é que o treino aeróbio provoca mudanças neuroendócrinas necessárias para a melhora do humor e para a redução da ansiedade e da tensão muscular (aumento de serotonina e norepinefrina), o que não ocorre no alongamento.
Os estudos de Dascal (2006) demonstram que parte do declínio motor relacionado ao envelhecimento pode ser amenizada, ou até mesmo revertida, pelo engajamento em atividades sistemáticas, no qual o idoso é capaz de manter desempenhos elevados e, às vezes, próximos dos de adultos jovens. Isso foi demonstrado com idosos pianistas, violinistas e praticantes de esportes com raquete, e indicaram que o desempenho não é um fator inerente ao envelhecimento, uma vez que pode ser minimizado com a adoção de um estilo de vida ativo.
Assim, podemos concluir, por meio desta investigação, que a realização de exercícios físicos de baixo impacto, com objetivos fisioterápicos ou não, proporcionam benefícios à qualidade de vida dos idosos. Afinal, dos idosos que participaram deste estudo e que fazem atividades físicas regularmente, 61,97% relataram redução do quadro álgico; 57,74% relataram aumento do equilíbrio e redução de quedas; 49,29% relataram diminuição no uso de medicamentos para dor; 71,83% relataram maior facilidade ao realizar os exercícios e maior flexibilidade; 60,56% relataram maior facilidade em realizar suas AVDs; e 33,8% relataram maior facilidade nas tarefas domésticas.
As intervenções propostas mostraram-se eficazes em intensificar a recuperação ou retardar a sintomatologia nos casos de doenças degenerativas. A recuperação pode continuar por vários anos, sugerindo que a terapia instituída precocemente (terapia preventiva) pode ser mais efetiva.
O movimento é fundamental para o bem-estar e para a qualidade de vida do idoso. Uma vez que o envelhecimento representa a passagem do tempo e não necessariamente a perda da capacidade funcional ou a presença de doenças, pode o idoso se utilizar de diversas estratégias para garantir a sua independência e melhorar sua qualidade de vida, entre as quais a atividade física regular e devidamente orientada.
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