Postado em 29/11/2010
DANILO SANTOS DE MIRANDA
Diretor Regional do Sesc São Paulo
Presenciamos uma preocupação crescente, por parte da sociedade civil, com as condições de vida nas grandes cidades brasileiras. De fato, em megalópolis, como São Paulo e Rio de Janeiro, a sociabilidade tem sido dificultada por obstáculos de vários tipos. Os espaços coletivos servem quase que só para o trânsito de pedestres e veículos. Ruas e praças tornaram-se meramente locais de passagem. Em certas regiões há notória escassez de parques. Por motivos políticos e econômicos, como especulação imobiliária, ausência de uma participação popular na gestão da cidade e dos bairros, aumento da violência urbana etc, o fechamento de vias para a realização de eventos culturais, como carnaval, festas juninas e outros folguedos, é cada vez mais raro.
Se nem há tempo e ânimo para a mera contemplação do entorno em um passeio de flâneur, que dizer da convivência ou, ao menos, da mera conversa entre vizinhos? Igualmente conversas com comerciantes e trabalhadores urbanos, como carteiros, coletores de lixo etc, previnem o isolamento, sobretudo dos velhos e dos aposentados, produzindo nos mesmos uma agradável sensação de pertencer a um coletivo. As cidades pequenas ainda conservam algumas dessas características, possibilitando que pessoas idosas, em suas saídas diárias ao mercado, estabeleçam um contato descontraído e até divertido com vendedores em geral.
As cidades, pois, se mostram muito aquém de um devido acolhimento de todos os cidadãos, principalmente dos “socialmente mais frágeis” como pessoas com deficiência, crianças e idosos. A rápida transfiguração das paisagens e dos cenários urbanos, em nome do progresso, exige dos mais velhos flexibilidade e notável esforço para se posicionarem nesses novos tempos. Desde meados do século passado, se assinalava o quanto a sociedade industrial, com seus ritmos frenéticos que obedecem mais à lógica do capital do que às reais necessidades dos seres humanos, é maléfica para os velhos.
Felizmente, em direção a uma humanização das cidades, é crescente o surgimento de movimentos como “Fórum Nossa São Paulo”, cujo propósito é transformar São Paulo em uma cidade segura, saudável, bonita, solidária e realmente democrática; e de projetos que enfatizam o convívio e a acessibilidade de idosos, como o projeto “Cidade Amiga do Idoso”, lançado em 2005 pela Organização Mundial de Saúde.
Todas essas considerações nos remetem ao tema da acessibilidade nos espaços públicos abertos e fechados. Por isso, nessa edição destacamos o artigo “Humanização do atendimento na instituição hospitalar” de Zally Pinto Queiroz e Adriana Romeiro Almeida Prado, trabalho original que nos mostra a importância de uma série de detalhes no ambiente físico dos hospitais. Mobiliário, condições adequadas do piso, iluminação, dimensão de portas, escadas, corrimões, rampas, banheiros etc. Em suma, destacam-se os aspectos básicos para um bom atendimento ao idoso, como: condições de acessibilidade e uso, facilidade de circulação, comunicação, proteção, segurança e privacidade. Mesmo hospitais, instituições que deveriam dar o bom exemplo no quesito acolhimento, deixam a desejar, por isso, a contribuição das autoras nos parece valiosa.
Como entrevistada nesta edição, trazemos Rosa Corvino que nasceu nas dependências do Teatro Municipal de São Paulo, já que seu pai administrava o referido espaço e lá morava com a família. Em uma descontraída conversa, ela conta suas observações, desde menina, dos bastidores das apresentações das grandes companhias líricas que vinham da Europa para São Paulo, nos anos 30 e 40. Histórias sobre as situações inusitadas e até cômicas envolvendo celebridades do mundo operístico como Beniamino Gigli, Maria Callas, Villa-Lobos e Bidu Sayão, encontram-se no livro Vida, Amor e Lembranças publicado recentemente. Nesse momento, aos 85 anos de idade, Rosa está planejando escrever um novo livro.