Postado em 29/07/2010
CLAUDIA F. DOS SANTOS RONQUI PINHEIRO
MARIA LUIZA DE JESUS MIRANDA
De acordo com Gerez et al. (2007), as atuais discussões em Saúde Pública apontam a relevância da implantação de programas educacionais que possam trazer à população idosa conhecimentos a respeito dos possíveis benefícios sobre sua saúde, associados a uma prática regular de atividade física. Porém, segundo os autores, a questão educacional é constantemente esquecida quando ocorre em ambientes de educação não formal destinados ao público adulto e idoso. Em geral, em programas de Educação Física para essa população, o sucesso da prática profissional está relacionado à obtenção de resultados mensuráveis (antropométricos, fisiológicos, biológicos) e de uma condição de “saúde” relacionada a padrões estéticos e à manutenção de níveis de aptidão física, os quais, via de regra, são “padrões” determinados por pesquisas de cunho quantitativo que investigam, em sua maioria, os aspectos fisiológicos (BAGRICHEVISKY e PALMA, 2005).
De acordo com esse modelo, são utilizadas como medidas de sucesso apenas avaliações quantitativas, desconsiderando outras dimensões da existência humana, tornando a prática de atividade física uma mera reprodução de movimentos sem significado, não considerando as necessidades, expectativas e crenças dos idosos, não promovendo uma discussão mais aprofundada de todos os aspectos envolvidos nessa prática (MATSUO, 2007; GEREZ, 2006).
Além disso, em materiais específicos de prescrição da área, o sujeito idoso aparece muitas vezes como uma pessoa dotada de limitações e que encontra na atividade física um “remédio” para os problemas relacionados à sua condição de “velho”, ou seja, uma visão reducionista, na qual a atividade física aparece associada à saúde como fenômeno de causa e efeito.
A atuação profissional na Educação Física parece adotar essa concepção, o que mostra uma visão restrita dos conceitos de saúde e de velhice (GEREZ et al., 2007). Além disso, reforça a crença de que reside na prática de atividade física a garantia da saúde, ou seja, somente é “dotado” de saúde o indivíduo idoso que é ativo fisicamente, visão essa que desconsidera outras questões presentes na adesão ou não dessa população à prática de atividade física regular.
A partir do momento em que reconhecemos a Educação Física como uma das estratégias de Educação em Saúde, assumimos que a área tem o papel de contribuir para a saúde das populações, porém sob uma perspectiva que vai além das questões de aptidão física e que reduz o conceito de saúde e, até mesmo, a prática profissional. Assim, sob uma perspectiva mais atual, as discussões que tentam orientar novas práticas em Saúde Pública giram em torno do ideário da Promoção da Saúde3.
Como tema central desse ideário está o empowerment, o qual, segundo Carvalho (2004), é definido como um processo que ajuda as pessoas a firmarem seu controle sobre os fatores que afetam sua saúde, desenvolvendo capacidades e habilidades individuais e coletivas de provocar mudanças por meio da mobilização da comunidade.
Esse conceito está associado diretamente a um processo educacional que parece ser ignorado na prática docente com os idosos. Assim, diante da crescente população de idosos e da necessidade de oferecer programas de Educação Física que sejam coerentes com o modelo de saúde mais atual e compromissados com a autonomia dos sujeitos, este ensaio tem por objetivo propor uma reflexão sobre o empowerment, como elemento central da Promoção da Saúde, e as possíveis implicações desse conceito em programas de Educação Física para idosos.
Empowerment constitui um termo de difícil tradução, alguns o traduzem por empoderamento, apoderamento, porém, por acreditar que o conceito tem múltiplas faces e que a tradução acabaria por excluir algumas, usaremos o termo original inglês. Para Vasconcelos (2003) e Fazenda (2003), empowerment tem o sentido, a perspectiva de aumento do poder e da autonomia pessoal e coletiva de indivíduos e grupos submetidos a relações de opressão, discriminação e dominação social, e, para mudarem essa situação, é necessário que esses grupos aumentem suas competências e seu poder. O caminho histórico que este conceito percorreu tem sido por meio de um processo de reflexão sobre a realidade da vida humana, visando à libertação dos indivíduos subjugados a estruturas, conjunturas e práticas culturais e sociais que se revelam injustas, opressivas e discriminadoras.
Embora tenha muitos antecedentes nas abordagens internacionais, o que se entende hoje por empowerment, com suas formulações mais sistemáticas, está relacionado a intervenções no campo da saúde mental a partir da década de 1950 nos países escandinavos e que tiveram uma rápida expansão nos países de língua inglesa. De acordo com Wallerstein (1992), é nessa década que o fenômeno do powerlessness foi observado e difundido, como alienação, autoculpa, depressão, opressão internalizada e lesões não diagnosticadas, emergindo como um fator de base ao risco de doença.
O termo empowerment também possui raízes nas lutas pelos direitos civis, no movimento feminista e na ideologia da ação social, presentes nas sociedades dos países desenvolvidos, por volta da segunda metade do século XX. Na década de 1970 foi influenciado por movimentos de autoajuda e movimentos a favor do direito da cidadania em diferentes esferas da vida social, entre as quais a prática médica, a Educação em Saúde e o ambiente físico, e hoje tem representado um elemento central das políticas sociais e do serviço social na Europa e nos principais países anglo-saxônicos.
Diferentes concepções acerca do que é empowerment e o conflito de interesses gerado por cada uma delas vêm causando distorções na utilização deste conceito. Carvalho mostra a existência de duas abordagens principais do empowerment: o enfoque psicológico e o enfoque comunitário ou social (CARVALHO e GASTALDO, 2008).
De acordo com Wallerstein (1992), na Saúde Pública o enfoque principal está apenas no nível da transformação individual, visto como separado do sistema social, relacionado a questões de autoestima, competência individual ou eficácia, no qual o indivíduo experimenta maior controle sobre a própria vida sem que ocorra uma participação em ações políticas coletivas. Sob essa concepção são aplicadas estratégias que focam o fortalecimento da autoestima e a criação de mecanismos de autoajuda e solidariedade, por meio das práticas para a “formação sanitária”, envolvendo técnicas focais e de marketing social que remetem às do sanitarismo higienista do paradigma behaviorista (CARVALHO, 2005).
Embora muitos programas políticos se utilizem desse enfoque para dirigir a responsabilidade sobre as questões de saúde para o indivíduo e, assim, não onerar o Poder Público, o empowerment psicológico, mesmo ocupando um nível de análise individual, integra-se na participação do indivíduo no contexto sociopolítico (CARVALHO, 2004). Em contrapartida, empowerment comunitário ou social refere-se ao modo como as comunidades alcançam a equidade de recursos, identificando problemas e soluções, apresentando igualdade e capacidade para resolução de problemas individuais e coletivos, além do aumento da participação em atividades para a melhoria das condições de saúde da comunidade. Dessa maneira, empowerment comunitário envolve processos que procuram promover a participação com o intuito de aumento do controle sobre a vida por parte de indivíduos e comunidades, a eficácia política, uma maior justiça social e a melhoria da qualidade de vida (WALLERSTEIN, 1992; CARVALHO, 2004).
No Brasil, alguns desdobramentos ou formulações de empowerment apresentam características próprias e, de acordo com Vasconcelos (2003), uma delas teve grande influência e repercussão nas abordagens europeias e anglo-saxônicas: trata-se da obra do educador brasileiro Paulo Freire, no campo da educação popular.
Para Carvalho (2005), sob a influência de Paulo Freire, os teóricos do empowerment comunitário defendem a efetivação de um modelo pedagógico que tenha como objetivo e estratégia a educação como prática libertadora, o empowerment education. Nesse enfoque existe a busca pela ruptura com modelos de educação centrados no exercício do “poder-sobre” o outro, em que o educador “repassa” as informações e os alunos “recebem”, em uma concepção de educação que Paulo Freire denomina “bancária”.
O empowerment education tem sempre como objetivo o engajamento das pessoas por meio de um processo de grupos de diálogo com a intenção de identificar seus problemas, avaliando criticamente as raízes históricas, sociais e culturais destes para, assim, desenvolver estratégias de ação para a transformação de suas vidas. Isso se dá por meio de uma abordagem de ouvir-dialogar-agir que inclui uma orientação social participativa voltada à aprendizagem (WALLERSTEIN, 1992).
De acordo com Teixeira (2002), no ideário da Promoção da Saúde o empowerment é abordado por meio da sua inserção no campo de ação do reforço da ação comunitária, sendo este definido como o processo de desenvolvimento da comunidade, por meio da intervenção concreta e efetiva, no qual seus integrantes estabelecem prioridades, tomam decisões e planejam estratégias que visam atingir melhores condições de saúde e maior controle sobre esses determinantes.
Outro campo em que o empowerment se insere nesse ideário é o de desenvolvimento de competências pessoais, que pressupõe o desenvolvimento pessoal e social, o incremento do nível de informação, por meio da educação para a saúde e do reforço das competências que habilitem para uma vida saudável. Assim, para a autora, o empowerment reflete-se como estratégia de ganho de saúde, na medida em que sua ausência pode se constituir um fator de risco para o surgimento de doenças.
No caso dos idosos, o aumento dos anos vividos pode provocar uma diminuição de empowerment, pois esses indivíduos estão suscetíveis a situações de risco, como o surgimento de doenças, a ocorrência de eventos estressantes (perda de familiares e amigos, por exemplo), a interrupção de sua rede social (aposentadoria). Além disso, em razão da imagem negativa da velhice, associada às perdas fisiológicas, psicológicas e sociais, seu poder de decisão muitas vezes acaba sendo diminuído ou suplantado por familiares ou instituições, que lhes retiram a autonomia, a possibilidade de serem responsáveis por si.
A Educação em Saúde tem uma clara relação com as questões postas pelo envelhecimento, especialmente no que se refere à manutenção de modos de vida ativa. De acordo com Farinatti e Ferreira (2006), dois pontos são relevantes sobre esse assunto: em primeiro lugar a perda da autonomia durante essa fase da vida requer necessidade de informações desde a juventude sobre seus fatores concorrentes, informações que devem considerar o indivíduo, sua família, seu meio profissional e o espaço social em que vive. Ou seja, o processo de educação precisa ser, então, individual e coletivo.
Em segundo lugar, a Educação em Saúde deve facilitar aos idosos a escolha de seus modos de vida, despertando para a importância ao respeito de seus desejos e valores. Assim, não deve estar restrita à informação das pessoas sobre o que fazer para serem mais saudáveis, mas criar espaços e condições favoráveis para esse desenvolvimento (FARINATTI e FERREIRA, 2006).
Para Okuma (1998), ao analisarmos criticamente as estratégias de intervenção para os idosos, nota-se que o estímulo quase sempre é externo ao indivíduo, na busca por objetivos e resultados que são considerados bons pela Ciência e não necessariamente àqueles que dizem respeito ao aluno idoso. Para a autora, entre outros fatores, a baixa adesão dos idosos a programas de atividade física regular pode estar relacionada ao fato de que necessidades reais e pessoais do indivíduo não estejam sendo consideradas nas intervenções junto à população idosa (p. 17):
(...) esses modelos estabelecem, a priori, metas a ser atingidas a partir de padrões preestabelecidos: são comportamentos motores a ser seguidos, níveis mensuráveis de saúde, porcentual de peso a ser perdido, eficiência de determinados órgãos e regiões do corpo, e assim por diante. Esses parâmetros são perseguidos como se constituíssem o indivíduo em sua totalidade (...). Desse modo, os objetivos prioritários são os que buscam a melhoria da saúde, da aptidão física, o controle da obesidade, das características estéticas do corpo, dentre outros estabelecidos por alguém.
Então, muitas vezes, na tentativa de alcançar a saúde entre os idosos, os profissionais acabam por “uniformizar” prescrições de exercícios físicos, e propagar comportamentos tidos como “saudáveis” e metas a serem alcançadas sem considerarem sua individualidade, suas necessidades e objetivos pessoais.
Não podemos deixar de considerar que o profissional que atua com essa população está inserido em uma sociedade de consumo e valorização da estética e do culto ao corpo jovem. De acordo com Goldfarb (2006), os valores de produção e consumo, ligados ao modo de produção capitalista, também contribuíram para colocar a velhice em lugar marginalizado, em contraposição à valorização da juventude, da força, beleza e capacidade de trabalho, reprodução e produção de bens. Além disso, esse profissional, muitas vezes, reproduz o modelo educacional vigente, no qual teve sua formação acadêmica, cujas práticas educativas são centradas no discurso e no repasse e acúmulo de informações, uma concepção que Paulo Freire intitulou de “bancária”.
Assim, as intervenções da área entre a população idosa parecem não ter o compromisso de conduzir essas pessoas a uma aprendizagem significativa dos conceitos e procedimentos sobre as atividades praticadas a partir de um processo educacional que as leve a compreender os possíveis benefícios dessa prática, com a oportunidade de desenvolver um estilo de vida mais ativo e a aquisição de hábitos de vida mais saudáveis (GEREZ, 2006).
Considerando que educar é o principal objetivo da Educação Física e que a mera “instrução” e o fazer pelo fazer do exercício não desenvolvem a autonomia ou a consciência crítica do sujeito perante a atividade física, parece que a adoção de uma ação sob a perspectiva do ideário da Promoção da Saúde, buscando o empowerment, corresponde a um compromisso com o desenvolvimento das potencialidades do ser humano além do olhar biológico (GEREZ, 2006).
Sabemos que ainda são poucas as iniciativas dessa natureza, porém podemos tomar como exemplos dois programas posicionados neste sentido: o Projeto Sênior para a Vida Ativa, da Universidade São Judas Tadeu (SP), e o Projeto Ginástica Integrativa, do SESC Itaquera (SP).
O Projeto Sênior para a Vida Ativa tem como sustentação teórica a Teoria da Velhice Bem Sucedida, o ideário da Promoção da Saúde, além da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire. A organização didática e o ensino estão baseados nas considerações de Coll e colaboradores sobre a natureza dos conteúdos a serem ensinados. É um projeto de caráter educacional multidisciplinar, integrando as áreas de Educação Física, Nutrição e Farmácia, e o seu núcleo é formado pelo programa de Educação Física. Este tem como objetivos específicos difundir conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais sobre a atividade física relacionada ao processo de envelhecimento, com o intuito de possibilitar aos idosos obterem conhecimentos para posicionarem-se de maneira crítica em relação a essa prática, favorecendo a sua adoção de forma autônoma para integrar as ações de autocuidado com a saúde. Além disso, visa ao estímulo de ações coletivas para a criação de espaços e ambientes que proporcionem saúde (GEREZ et al., 2007).
Segundo os autores, por intermédio das aulas, os idosos são levados a refletir sobre sua realidade e a compreender como o processo de envelhecimento atua sobre os vários sistemas orgânicos, e de que forma a prática da atividade física pode contribuir para estimular esses sistemas e promover adaptações. Assim, após vivenciarem as práticas corporais por um período, são realizadas reflexões com os idosos sobre como eles superariam barreiras, a partir dos conhecimentos adquiridos, para a manutenção da prática de atividades físicas.
Em um estudo realizado por Gerez (2006) com os idosos do Sênior/2004, verificou-se que houve um incremento do empowerment individual ante a atividade física, mas não do coletivo. De acordo com a autora, isso pode ter ocorrido porque esses idosos não conseguiram enxergar a possibilidade de engajamento político e coletivo para transformar a realidade, decorrente da falta de recursos financeiros e também de espaços públicos.
A outra iniciativa a que nos referimos é o Programa Ginástica Integrativa, desenvolvido no SESC6 Itaquera/SP. O programa iniciou-se no ano de 2007 com a convergência entre os pressupostos teóricos do ideário da Promoção da Saúde e dois programas institucionais: o Programa Ginástica Voluntária (GV)7 e o Trabalho Social com Idosos (TSI)8. Possui entre seus objetivos o compromisso pela busca da autonomia dos participantes perante a atividade física e as questões atinentes à saúde, sendo esse conceito comum a todo o referencial teórico supramencionado.
As intervenções contemplam atividades teórico-práticas que visam ao desenvolvimento das capacidades coordenativas (ritmo, tempo de reação, equilíbrio e coordenação motora geral) e dos condicionantes (força, resistência, flexibilidade e capacidade aeróbica), baseadas em resolução de problemas e discussões sobre percepções acerca de determinada prática e os elos que possuem com o cotidiano.
Com a sua implementação procura-se desenvolver entre os idosos conhecimentos suficientes sobre a atividade física relacionada aos seus corpos, suas capacidades, possibilidades e limitações, na intenção de desenvolver a autogestão para a prática. Ademais, pretende-se estimular os idosos a conseguirem provocar mudanças em outros espaços (públicos, comunitários, etc.) que tragam ações e reações mais favoráveis para sua saúde.
No intuito de analisar se havia manifestações de empowerment e autonomia nos idosos participantes do programa do SESC, Santos (2009) realizou um estudo fundamentado na Epistemologia Qualitativa, referenciada nos pressupostos teóricos de González Rey sobre a subjetividade (1997, 2002, 2005). A autora verificou que foi expresso pelos idosos o sentido de poder agir em favor de questões relacionadas à saúde, no caso a prática de atividades físicas, porém essa configuração estava associada a ações individuais e dentro do próprio grupo, o que pode ser apontado como incremento do empowerment dessas pessoas. Isso, por sua vez, pode ser refletido em ações consideradas autônomas, mesmo que limitadas apenas ao ambiente da atividade.
Essas iniciativas demonstram que, mesmo não tendo alcançado o empowerment coletivo, foi possível atingir a instância fundamental para esse objetivo: o empowerment individual, pois de acordo com Freire (1986), em um diálogo com o educador norte-americano Ira Shor, mesmo que o empowerment individual não seja suficiente para a transformação da sociedade de modo geral, é “absolutamente necessário” para a transformação social. De acordo com o educador, a percepção crítica da realidade faz-se necessária para a transformação social, mesmo não sendo por si suficiente.
Acreditamos que a prática profissional com idosos requer um olhar ampliado para o sujeito idoso, cujo envelhecimento é constituído por um processo que inclui não apenas alterações biológicas, mas também todo um processo complexo de adaptações e de desenvolvimento. Assim, parece-nos fundamental que sejam desenvolvidos programas educacionais com o objetivo de criar ambientes favoráveis para o desenvolvimento daautonomia perante as questões relacionadas à sua saúde, por meio do empowerment. Embora ainda seja difícil a implantação e o desenvolvimento de estratégias e avaliações de programas de empowerment, uma característica parece ser fundamental para caracterizar programas com esse objetivo: a utilização de uma metodologia participativa, baseada numa educação dialógica.
Assim, a Educação Física como área para a Educação em Saúde não pode reduzir sua intervenção ao mero treinamento das capacidades físicas, ao “repasse” de informações, especialmente entre a população idosa, que, muitas vezes, tem seus direitos limitados pela diminuição de sua rede social e por processos associados ao envelhecimento. Ou seja, simplesmente “aplicar”, “informar” um conteúdo, esperando que as pessoas compreendam e incorporem às suas vidas não atende às expectativas educacionais para o desenvolvimento da autonomia. Para isso é necessário que espaços sejam desenvolvidos com os idosos, a comunidade científica e a sociedade em geral, com a presença de mecanismos de diálogo entre essas esferas. Esse quadro engloba todo um processo de mudança que passa pelo educador, pela comunidade e pelo Poder Público.
Ampliar o olhar para o ser idoso além das questões biológicas, reconhecer essa população como parte fundamental no desenvolvimento da sociedade e rediscutir a formação na área da Educação Física e o conceito de saúde parecem ser questões importantes numa possível mudança do quadro atual para outro, envolvendo uma intervenção mais próxima dos objetivos do ideário da Promoção da Saúde.
BAGRICHEVISKY, M.; PALMA, A. Questionamento e incertezas acerca do estatuto científico da saúde: um debate necessário na Educação Física. Rev. da Educação Física da UEM, v. 15, n. 2, p. 57-66, 2005.
BECKER, D.; EDMUNDO, K.; NUNES, N. R.; BONATTO, D.; SOUZA, de R. Empowerment e avaliação participativa em um programa de desenvolvimento local e promoção de saúde. Ciência e Saúde Coletiva, v. p, n. 3, p. 655-667, 2004.
CARVALHO, S. R. Os múltiplos sentidos da categoria “empowerment” no projeto de promoção à saúde. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 4, jul./ago. 2004.
_________. Saúde coletiva e promoção da saúde: sujeito e mudança. São Paulo: Hucitec, 2005.
CARVALHO, S. R.; GASTALDO, D. Promoção à saúde e empoderamento: uma reflexão a partir das perspectivas crítico-social e pós-estruturalista. Revista Ciência e saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, supl. 2, 2008.
FARINATTI, P. T. V.; FERREIRA, M. S. Saúde, promoção da saúde e Educação Física: conceitos, princípios e aplicações. Rio de Janeiro: Eduerj, 2006.
FAZENDA, I. Empowerment e participação, uma estratégia de mudança. Centro Português de Investigação e História e Trabalho Social, 2003.
FRACHI, K. M. B.; MONTENEGRO JR., R. M. Atividade física: uma necessidade para a boa saúde na Terceira Idade. Revista Brasileira de Promoção da Saúde, v. 18, n. 3, p. 152-156, ago. 2005.
FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Tradução de Adriana Lopez. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1986.
GEREZ, A. G. A prática pedagógica em Educação Física para idosos e a educação em saúde na perspectiva da promoção da saúde: um olhar sobre o Projeto Sênior para a Vida Ativa – USJT. 2006. Dissertação (Mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo.
GEREZ, A. G.; MIRANDA, M. L. J.; CAMARA, F. M.; VELARDI, M. A prática pedagógica e a organização dos conteúdos de Educação Física para idosos no Projeto Sênior para a Vida Ativa na USJT: uma experiência rumo à autonomia. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 28, n. 2, p. 221-236, jan. 2007.
GOLDFARB, D. C. Velhices fragilizadas: espaços e ações preventivas. In: Velhices: reflexões contemporâneas. São Paulo: SESC/PUC, 2006.
GONZÁLEZ REY, F. Epistemologia cualitativa y subjetividad. São Paulo: Educ, 1997.
_________. Pesquisa qualitativa em Psicologia: caminhos e desafios. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002.
_________. Pesquisa qualitativa e subjetividade: os processos de construção da informação. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
LUZ, Madel T. Novos saberes e práticas em saúde coletiva: estudos sobre racionalidades médicas e atividades corporais. São Paulo: Hucitec, 2003.
MATSUO, R. F. O sentido de saúde em idosos do Projeto Sênior para a Vida Ativa da USJT. 2007. Dissertação (Mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo
MIRANDA, M. L. J. Efeitos da atividade física com música sobre os estados subjetivos de idosos. 2001. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.
OKUMA, S. S. O idoso e a atividade física. Campinas: Papirus, 1998.
SESC. DR. SP. Ginástica voluntária. São Paulo: SESC, 1993. 30p.
SESC. O século da Terceira Idade. São Paulo: SESC, 2003. 212p.
SANTOS, C. F. dos. Subjetividade e idosos: empowerment e autonomia na participação em um programa de Educação Física. 2009. Dissertação (Mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo.
SILVA JR., A. P.; NAKAMURA, A. L. L.; LOUZADA, J. C. N.; VELARDI, M. Autonomia e Educação Física: uma perspectiva à luz do ideário da promoção da saúde. Conexões, v. 4, n. 1, p. 13-28, 2006.
TEIXEIRA, M. B. Empoderamento como estratégia de promoção da saúde no campo do envelhecimento. 2002. Dissertação (Mestrado) – Fiocruz, Rio de Janeiro.
VASCONCELOS, E. M. O poder que brota da dor e da opressão: empowerment, sua história, teorias e estratégias. São Paulo: Paulus, 2003.
WALLERSTEIN, N. Powerlessness, empowerment, and health: implications for health promotion programs. American Journal of Health Promotion, v. 6, p. 197-205, jan. 1992.
WALLERSTEIN, N. What is the evidence on effectiveness of empowerment to improve health? WHO Regional Office for Europes’s Health Evidence Network (HEN), 2006.