Postado em 06/12/2011
Numa realidade cada vez mais voltada ao imagético e ao visual como a de hoje, a tipografia – arte e processo de criação na composição de um texto, cujo principal objetivo é dar ordem estrutural e forma à comunicação escrita – ganha ares de experimentação.
Isso ocorre no design gráfico, na arte de rua – em cartazes, grafites e pichações, nos estênceis e lambe-lambes –, nas capas de livros e revistas. A ordem atual é buscar novas significações nas formas, cores, texturas e suportes. “A tipografia tem um caráter artesanal muito interessante. A impressão com uma técnica que tem um resultado rústico, em que se pode dar baixo relevo, de desgaste dos tipos, não dá para ser reproduzida pelo ambiente digital”, afirma o designer e diretor da Oficina Tipográfica São Paulo, Cláudio Rocha.
Autor de livros como Tipografia Comparada e Projeto Tipográfico (ambos pela Edições Rosari), o designer conta que a técnica se presta, atualmente, a livros de pequena tiragem, xilogravuras, cartões e cartazes, destinados a um público restrito, porém exigente. “Virou um nicho de mercado, mais voltado à área cultural”, acrescenta.
A tipografia (dos vocábulos gregos typos – “forma” – e graphein – “escrita”) reinou absoluta desde o século 15, quando Johannes Gutenberg inventou, por volta de 1440, a prensa mecânica para papel, os tipos de chumbo e também uma tinta mais densa, de boa fixação no papel.
A genialidade estava na possibilidade de reutilizar os tipos, tornando reproduzível um produto tão raro quanto o livro na época. Da Alemanha, a “invenção do milênio” se espalhou rapidamente pela Europa, fazendo surgir ao longo do tempo diversos mestres tipógrafos, como Nicolas Jenson (1420-1480) na Itália, Claude Garamond (1480-1561) na França e John Baskerville (1706-1775) na Inglaterra, cada um criando e “batizando” a própria família de fontes e contribuindo para a popularização dos textos impressos.
Com o desenvolvimento da técnica, foi possível perceber a força expressiva da tipografia. A publicidade, por exemplo, desde cedo criou tipos com o objetivo de valorizar a mensagem. Vanguardas artísticas do século 20, como o futurismo e, mais adiante, o concretismo, também souberam empregá-los de modo criativo. “Há sempre uma relação entre os movimentos artísticos e os tipos.
No futurismo temos a tipografia futurista, no modernismo a tipografia modernista, e assim por diante. Não dá para fazer um movimento concretista com uma fonte gótica”, comenta o professor do curso de editoração da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Plínio Martins Filho, também diretor da Edusp.
O estudioso acredita que poucas fontes chegam ao patamar das criadas nos primeiros 200 anos de existência da tipografia, pelo menos para os livros. “Brincamos que um bom designer precisa de apenas dez tipos de fonte, nada mais”, diz. “O desafio é voltar a pensar a página do livro como um desenho. É uma arte que, com a vinda do computador, tornou-se muito padronizada.”
Universo dos tipos
Projeto A Forma da Palavra reúne diversas atividades em torno da tipografia e da confecção do livro
A tipografia foi tema de um workshop no Sesc Pompeia nos dias 19 e 20 de novembro. Ministrado por Cláudio Rocha, da Oficina Tipográfica São Paulo (OTSP), o minicurso Estampa Tipográfica sobre Tecido abordou o universo dos tipos e da composição.
Os alunos também partiram para o trabalho manual, utilizando a grande variedade de tipos móveis provenientes tanto do acervo da OTSP como também da antiga oficina tipográfica do Sesc, desativada com a chegada da gráfica digital.
A Oficina é parte do projeto A Forma da Palavra, que durante todo o mês de novembro tratou de linguagens que usam letras e palavras de forma expressiva e artística e dos processos de produção dos suportes tradicionais. Entre as atividades programadas, também foi realizado o workshop Caligrafia Artística Experimental, nos dias 19 e 20, do artista plástico Cláudio Gil, que abordou desde a história do alfabeto e suas construções gráficas até os processos de experimentação e criação atuais.
Fernanda Brito foi a responsável pelos cursos Encadernação, entre os dias 11 e 16, e Meu Primeiro Livro, no dia 27, nos quais pais e filhos puderam aprender a técnica da encadernação japonesa e construíram seu primeiro livro. Na mesma linha, Gabriela Pás e Henrique Nardis ministraram Meu Primeiro Alfabeto, nos dias 12 e 13, cujo objetivo foi contar aos participantes um pouco da história das letras e fazê-los criar seu próprio alfabeto.
Os tipos móveis, que são letras, figuras e espaços usados para compor uma página, ficam guardados nas chamadas gavetas de tipos. O primeiro passo da técnica de impressão tipográfica consiste em montar os tipos, que podem ser de chumbo ou madeira, de forma alinhada sobre uma base, em um processo conhecido como composição. Depois, uma camada de tinta é passada na matriz pronta que vai para a prensa manual ou elétrica. Após a impressão, os tipos são distribuídos novamente em suas respectivas gavetas.
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