Postado em 01/01/1998
Iniciativa empresarial contra o uso de tóxicos surte bons efeitos
Uma mulher, jovem e atraente, invade o vídeo e se apresenta sem cerimônia: "Meu nome é cocaína". Com gestos envolventes, ela convida o espectador a conhecê-la melhor. Uma impressionante seqüência de imagens mostra a seguir o resultado dessa intimidade: o rosto adquire palidez cadavérica, o batom transforma-se em sangue, o corpo se desfigura em estertores de desespero.O filme, de 60 segundos, foi produzido para a Associação Parceria Contra as Drogas e é uma das 24 peças criadas por agências de propaganda e produtoras de filmes publicitários e jingles, entre outras empresas que uniram forças para chamar a atenção da opinião pública para o perigo crescente do uso de drogas.
Com o apoio financeiro da iniciativa privada, essas mensagens, após um ano de veiculação, parecem estar dando bons resultados. As peças alcançaram um expressivo índice de recall (termo utilizado pelos publicitários para definir o grau de lembrança que as pessoas têm de uma propaganda veiculada). Uma pesquisa do Ibope, realizada em cinco capitais do país, registrou que 84% dos entrevistados tinham visto alguma campanha sobre drogas, 37% viram as peças da Parceria e 27% já tinham ouvido falar do trabalho da associação. Nada mau para um trabalho que começou há apenas um ano.
A pesquisa revelou também que os jovens conhecem muito bem o assunto. A maioria (78%) consegue citar, sem estímulo, pelo menos um tipo de entorpecente. As drogas mais lembradas são a maconha (57%), cocaína (42%) e crack (26%). Os maiores índices de citação concentram-se entre os jovens de mais idade, mais instruídos e que pertencem a famílias de classe mais alta.
O índice de conhecimento cresce expressivamente quando a abordagem passa de espontânea a estimulada. Ao verem mencionados os diversos tipos de drogas, a imensa maioria dos entrevistados com idade entre 9 e 12 anos declarou ter ouvido falar de maconha (95%), cocaína (88%), crack (79%) e cola (81%). Em relação à pesquisa anterior, feita em abril de 1996, esses números cresceram, com exceção do lança-perfume.
Justificativas
Como os jovens justificam o uso de drogas? Essa questão motivou respostas múltiplas, mas a principal delas, tanto em 96 como em 97, foi a necessidade de fugir de problemas com a família (27%). Outros 18% querem apenas ser aceitos num grupo de amigos, enquanto 11% preferem justificar o vício com a experiência de sensações novas e agradáveis. Outras explicações dos jovens: sentir-se mais solto, contrariar as regras, ficar mais à vontade em festas e programas, ou simplesmente fazer alguma coisa no tempo livre. Apenas 5% declararam que não sabem como justificar o uso da droga.
Quanto às medidas para prevenir o uso de drogas, os jovens valorizam o papel desempenhado pela família (61%) e pelos professores (50%). A propaganda no rádio e televisão também foi citada (46%), bem como a visita de especialistas às escolas, para palestras sobre o assunto (42%). Os jovens também acreditam em material informativo distribuído nas ruas (40%) e até mesmo na repressão nas escolas e em locais públicos (29%).
Próximos da droga
A pesquisa mostrou ainda que os jovens estavam mais expostos à droga em 1997 (35%) do que em 1996 (29%). Paralelamente, cresceu o número de pessoas que têm amigos ou conhecidos que tomam drogas. Dos entrevistados, 30% afirmaram que conhecem alguém que fuma maconha de vez em quando, em festas ou programas.
Colabora para isso a facilidade em obter as drogas. Em abril de 96 eram 42% os que achavam fácil ou muito fácil conseguir drogas, índice que cresceu em 97 para 49%. Esse crescimento concentra-se mais em São Paulo, onde o percentual passou de 38% para 50%. Entre os jovens pertencentes às classes A e B, a mudança foi de 47% para 59%. Neste último grupo, a facilidade para obter crack subiu de 15% para 50%.
Em compensação, cresceu também o grau de percepção sobre os efeitos nocivos da droga sobre o organismo. A influência negativa sobre o rendimento escolar, por exemplo, foi considerada por 77% dos jovens de 13 anos ou mais, em abril de 96, índice que subiu para 85% em outubro de 97. Felizmente, decresceu a crença em que a maioria das pessoas pode deixar a droga quando quiser (de 42% para 40%). Caiu também, de 19% para 13%, o número dos que acreditam que é divertido se animar com alguma droga numa festa.
A pesquisa do Ibope detectou também que o estereótipo do usuário de drogas era mais negativo em 97 que em 96, especialmente entre os jovens de 13 anos ou mais. Exemplo: em 96 o usuário era descrito como alguém que gosta de aventuras por 25% dos entrevistados. Esse número em 97 caiu para 21%. Em 96, 57% diziam que o drogado não tem futuro. Em 97 65% disseram pensar assim.
Detalhe: as mulheres jovens vêem o típico usuário de drogas como alguém nervoso, deprimido, agressivo, perdedor, inseguro, solitário e vazio, em proporção maior do que seus colegas do sexo masculino. Outra curiosidade: entre os jovens de São Paulo e de Salvador subiu o percentual de citações para "agressivo", enquanto cariocas e gaúchos citam mais o atributo "vazio" para qualificar o usuário.
Entre os mais jovens (9 a 12 anos), tanto meninos como meninas passaram a qualificar o usuário de drogas menos como "popular" e mais como "chato".
Diálogo
Qual a pessoa ideal para conversar a respeito de drogas? A resposta a essa pergunta indicou uma preferência pela mãe (58%), seguida pelo pai (49%). Na seqüência, vêm os amigos ou colegas (38%), palestras na escola (31%) e somente depois os professores, com 25%.
Nesse aspecto, é clara a diferença entre faixas etárias. Dos 9 aos 12 anos, eles preferem falar com os pais ou parentes, enquanto os mais velhos preferem conversar com o namorado ou namorada ou discutir o assunto em aulas ou palestras.
O trabalho da Associação Parceria Contra as Drogas já é conhecido por 27% dos jovens, número que sobe para 32% entre os que têm nível colegial ou superior. Entre os que já ouviram falar da Parceria, 91% aprovam a iniciativa.
Esse conhecimento, aliado às mudanças de atitude comprovadas pela comparação entre os dados de 96 e de 97, evidenciam que o trabalho tem sido positivo. E, diante da gravidade do tema, ele se faz cada vez mais necessário.
Quem são os parceiros
A Associação Parceria Contra Drogas é uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, formada por agências de propaganda, veículos de comunicação, institutos de pesquisa, produtoras de filmes publicitários e empresas da iniciativa privada. O objetivo é criar, produzir e veicular campanhas que estimulem atitudes contrárias ao uso de drogas. A idéia é provocar a reflexão e tirar dos tóxicos aquela imagem de glamour, aventura ou felicidade, mostrando sua verdadeira face, perigosa e fatal.
A criação das campanhas é supervisionada por uma comissão formada por psiquiatras, educadores, psicólogos e advogados, a quem cabe analisar o conteúdo e eficácia das mensagens.
Dirigem a Parceria importantes empresários do país, sob a presidência do publicitário Paulo Heise, da De Carli Publicitas, e direção executiva do advogado Adelpho Longo. São eles: Luiz Furlan (Sadia), Abram Szajman (Grupo VR), Luiz Fernando Furquim (consultor), Hiran Castello Branco (HCA), Horácio Lafer Piva (Klabin), Luiz Roberto Ferreira Valente Filho (Central de Outdoor), Lincoln da Cunha Pereira (advogado) e Luiz M. Dias Sales (consultor).
A Associação Parceria Contra Drogas funciona em São Paulo, na Av. Pacaembu, 1739, telefone (011) 873-3111/3000, fax (011) 873-1333. As doações para a campanha podem ser feitas por telefone. Basta discar 0900-112635 (R$ 5), 0900-112640 (R$ 10) ou 0900-112645 (R$ 15).
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