Postado em 03/06/2011
Desde que José Renato Pécora, junto com parceiros e idealizadores, fundou o Teatro de Arena, em 1954, a história cultural do país tomou novos rumos. Um teatro de caráter revolucionário, já que seus integrantes, especialmente Oduvaldo Vianna Filho (Vianinha) e Gianfrancesco Guarnieri, faziam parte da Juventude Comunista.
A primeira montagem de Eles Não Usam Black-Tie, texto de Guarnieri e direção de José Renato, em 1957, foi sucesso imediato no pequeno espaço da Rua Teodoro Baima, 94 – além de ser a primeira peça a levar a temática operária para os palcos brasileiros, o formato arena permitia maior aproximação dos atores com o público, inaugurando uma nova forma de encenação no Brasil.
“De repente o homem comum, a favela, a luta sindical, as convicções políticas de simples operários e suas paixões, anseios e dificuldades, tudo isso passava a ocupar o palco da cena brasileira. O espectador passou a se identificar com os temas e o jeito de representar que Zé Renato inventava”, relembra o ator e autor Juca de Oliveira, que ingressou no Arena em 1961 com a remontagem de Eles Não Usam Black-Tie.
Na década de 1950, o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) representava o que de mais moderno havia no país, com encenação de grandes dramaturgos, a exemplo de Tennessee Williams. Mas ainda estava vinculado a encenadores estrangeiros e a um teatro mais global. O surgimento do Arena foi, de fato, um marco. “O Arena ofereceu uma alternativa de espaço, um modo de trabalhar em oposição ao TBC.
Em muitos aspectos foi pioneiro. Na forma de organização, no tratamento político da dramaturgia, trazendo para o teatro brasileiro um tom épico. Para mim, mais importante foi ter trazido a cozinha da casa do pobre brasileiro para a cena. Porque até então tudo acontecia na sala de visitas da burguesia paulista”, afirma Amir Haddad, que foi integrante do Teatro Oficina, também representante de um novo movimento da cena paulistana.
As primeiras apresentações do grupo Oficina, comandadas por Zé Celso Martinez Corrêa, ocorreram no Teatro de Arena, apesar da diferença ideológica que marcava os dois grupos. “Nós do Oficina éramos muito mais ligados ao TBC, embora tivesse sido inevitável nos apresentarmos no Teatro de Arena. A postura política do Zé Celso nunca foi uma postura de militância partidária como era no Arena, com os jovens do Teatro Paulista do Estudante (TPE)”, diz Haddad. Militância que, com a Revolução de 1964, foi obrigada a arrefecer-se, principalmente com a prisão e exílio de Augusto Boal em 1971, já integrante do Arena e que dividia com Zé Renato a concepção e direção das peças.
Muitos dizem que o país tem memória curta, mas recentemente o nome de Zé Renato, tão importante para a história cultural brasileira, voltou a ser lembrado. Aos 85 anos, sua participação na peça 12 Homens e uma sentença, como personagem número 9, permitira a ele enorme sucesso – era visto como um dos mais carismáticos no palco. Com direção de Eduardo Tolentino Araújo, do TAPA, o convite para retornar à cena foi recebido com alegria e surpresa.
“Liguei e falei: ‘Zé quero te fazer uma proposta indecente: você topa fazer o papel do número 9 em 12 homens e uma sentença?’ Ele disse: ‘puxa, eu adoraria, porque sempre que piso no palco é pra substituir um ator de um espetáculo meu, não atuo há 50 e poucos anos’. E foi assim que nasceu nossa parceria”, conta Tolentino. Zé Renato cumpriu seu papel até a sessão de domingo, quando, ao sentir o coração, foi levado ao hospital. Faleceu no dia seguinte, 2 de maio de 2011.
Para Tolentino, que o acompanhou nos últimos dias de sua vida, estava realizado. “Ele morreu feliz. Foi de repente, pra gente é um susto, mas ele não sofreu. Estava saindo de um momento muito bom em que as pessoas voltaram a falar do Zé. Porque o Brasil é um país de memória muito curta. Sem dúvida a importância dele e do Teatro de Arena é fundamental pro teatro brasileiro. Mas as pessoas esquecem”, finaliza.
Onde está a beleza?
O Sesc Pompeia apresentou, de 5 a 29 de maio, o festival Jazz na Fábrica, que reuniu nomes nacionais e estrangeiros do gênero surgido há um século na mítica e musical cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos.
Entre os destaques vindos de fora, os holofotes brilharam forte para a cantora Dee Dee Bridgewater. Vencedora do Grammy Awards como melhor cantora de jazz em 1998, a artista iniciou sua carreira em Nova York, em 1970, e já participou de diversos musicais da Broadway. Assumidamente inspirada em Ella Fitzgerald, Dee Dee subiu ao palco, nos dias 07 e 08, acompanhada dos músicos Edsel Gomez (piano), Kenny Davis (baixo), Lewis Nash (bateria) e Craig Handy (sopros).
“É a segunda vez que venho ao Brasil, desta vez com minha banda. E este é um show em homenagem a Billie Holliday, cujas músicas enfrentaram com coragem a questão do racismo”
Dee Dee Bridgwater, dentro do projeto Jazz na Fábrica, no Sesc Pompeia, dia 7 de maio
“Lá nos anos 70, quando eu e Roberto [Carlos] falávamos de preservar a natureza ninguém ligava. Hoje Sting e Bono falam e todos dão ouvidos. Eu acho que sei a razão. É que nós falamos em português”.
Erasmo Carlos, que se apresentou no Sesc Belenzinho, no dia 12 de maio
“Recebi um telefonema que perguntava se eu poderia filmar os Beatles em Nova York. O que são Beatles? Por sorte meu irmão sabia quem era o grupo. Ficamos juntos uma semana, na primeira vez que o conjunto foi aos Estados Unidos”
Albert Maysles, cujo filme What’s Happening! The Beatles in USA, realizado em 1964, codirigido com seu irmão David, foi exibido no CineSesc dia 05 de maio
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Laços fraternos
No dia 6 de maio, o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, esteve no Goethe Institut para participar de uma recepção com o Presidente da Alemanha, Christian Wuff. Na ocasião, agradeceu a autoridade pela condecoração da Grande Cruz da Ordem do Mérito do Governo Alemão, oferecida no dia 2 de maio pelo Embaixador Wilfried Grolig. Os laços institucionais do Sesc São Paulo com a Alemanha são fortalecidos pela disseminação da cultura entre os dois países, por meio da programação internacional da entidade.
Casa nova
No dia 4 de maio foi anunciado pela Prefeitura de São Paulo o lançamento do Projeto de Revitalização do Parque Dom Pedro II. Na ocasião, foi assinado um protocolo de intenções entre a Prefeitura, o Sesc e o Senac para a construção de unidades das duas instituições na área, que envolve o terreno dos edifícios, demolidos recentemente, São Vito e Mercúrio. No evento, entre as autoridades presentes, estiveram o prefeito Gilberto Kassab, o presidente da Fecomércio, do Sesc e do Senac, Abraham Szajman, e o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda.
Quem somos?
Apresentado no Sesc Pinheiros, de 14 de abril a 15 de maio, o espetáculo DNA – somos todos muito iguais, do Circo Roda Brasil, aborda grandes questões da humanidade, como: De onde viemos e para onde vamos?. Por meio de acrobacias, malabarismos, saltos e voos, a peça narra a aventura de Inadequado, um sujeito que sofre reviravoltas quando tenta ajudar uma “anja” que despencou do céu. Com auxílio do Homem Original (meio homem meio macaco), Inadequado luta contra o tempo e, em vez de envelhecer, rejuvenesce a cada cena. A direção é de Hugo Possolo.
Tensão em cena
O objetivo da pesquisa para Em Redor do Buraco Tudo é Beira, espetáculo que a unidade São Carlos apresentou no dia 28 de abril, dentro do Circuito Sesc de Dança, foi chegar a uma coreografia composta de fragmentos performáticos que em nada lembrassem uma narrativa linear. O resultado foi um duo – os bailarinos Frederico Paredes e Marcela Levi em cena – no qual os gestos são “curtos” e secos, num ciclo de atração e repulsa entre os dois.