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Postado em 15/04/2009

Joffre Dumazedier: uma grande influência francesa

por Sérgio José Battistelli
 
Depois do Ano do Brasil na França, em 2005, este ano é a nossa vez de sermos anfitriões no Ano da França no Brasil. De acordo com a declaração conjunta dos presidentes do Brasil e da França, o objetivo do evento é “aperfeiçoar e consolidar” a presença francesa no Brasil, “valorizando a competência e o know-how da França contemporânea”.

É uma presença que tem tudo a ver com a nossa história. E, muito a propósito, as datas do início e término do evento são 21 de abril e 15 de novembro, Inconfidência Mineira e Proclamação da República, momentos políticos que, sem dúvida, também refletem a influência do pensamento francês na formação da vida social brasileira.

Embora a presença francesa no Brasil se faça sentir também em outras áreas da vida nacional – como a tecnologia e a pesquisa científica, por exemplo –, talvez seja no campo da cultura, das artes e da vida social que tendemos a percebê-la mais claramente. Nosso modelo universitário sempre foi fortemente influenciado pelo francês e é bom que se recorde que grande parte dos primeiros professores da Universidade de São Paulo (USP), especialmente no campo das ciências humanas, era francesa.

Mas há outros bons exemplos que poderíamos levantar. Dentre eles um em especial que desejo apresentar neste post-scriptum e que tão bem ligou o Sesc ao destacado pensador francês Joffre Dumazedier, de quem tive o privilégio de ser aluno na segunda metade da década de 1970. Neste ano especialmente devotado à atualização de nossos laços com a França, minha memória se volta, invariavelmente, ao professor Dumazedier e à boa herança que, incorporada no dia a dia de trabalho, mantém suas ligações com o Sesc.

Também conhecido como “pai da civilização do lazer”, foi seu grande defensor e pela abordagem sociológica acerca do chamado “tempo livre” expressou sua grande importância ao trabalhador na sociedade industrial e as melhores oportunidades geradas pelas atividades escolhidas livremente para o lazer. Lazer este que aprendemos com ele a definir como “um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais”.

Dumazedier foi uma pessoa extraordinária. Envolvido, na juventude, com o movimento operário francês, especialmente com o movimento Auberges de la Jeunesse, uma resposta ao tempo livre crescente que reivindicava o direito dos operários ao lazer. Durante a Segunda Guerra Mundial, participou da Resistência Francesa, como combatente e também reunindo informações meteorológicas para os aliados.

Suas reflexões sobre a realidade e o cotidiano da sociedade industrial teve, a partir da década de 1970 – e continua tendo até hoje –, um grande impacto sobre seus alunos e seguidores. E também sobre o trabalho do Sesc, motivando a instituição a se colocar no rumo do trabalho social e cultural a serviço da criatividade e do crescimento individual, da democracia cultural, da participação social e do exercício da cidadania.

Embora seja limitadamente conhecido em nosso país, Dumazedier é sem dúvida parte da “influência francesa” a comemorar neste Ano da França no Brasil. Uma influência que se faz sentir não apenas por nós, que trabalhamos no Sesc, mas ainda pelo imenso público ao qual nos dirigimos, ecoando sempre a pergunta que ele nos fazia constantemente: “O que você tem feito ultimamente para se desenvolver?”.
 

Sérgio José Battistelli é sociólogo e coordenador da Assessoria Técnica e de Planejamento do Sesc São Paulo

 

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