Postado em 29/01/2010
Acessibilidade e inclusão
vivências sociais e estéticas
por Sueli Guimarães
Há mais de sessenta anos o Sesc São Paulo dialoga com a sociedade e, juntos, constroem seus programas de responsabilidade social, de ações educativas e artísticas que objetivam a participação das pessoas - crianças, jovens, adultos, idosos - em suas atividades.
Ao longo dos anos, olho em especial para a década de 80, quando realizamos projetos artísticos como a Jornada Sesc de Teatro (1983) e Movimentos Sesc de Dança (1987) que levaram ao palco do Teatro Sesc Anchieta experimentos e montagens inovadoras propostas por jovens artistas, estudantes ou grupos iniciantes nessas linguagens, em uma São Paulo que apresentava espaços bastante restritos, principalmente para a dança contemporânea. Desse período também destaco o surgimento do programa Curumim, proposta de educação integrada para crianças de 7 a 12 anos, e a criação de metodologias de aperfeiçoamento das ações físico-esportivas que visavam à conscientização e a autonomia do indivíduo em sua prática cotidiana.
Por que esse recorte? Estamos falando de ações de integração, incentivo a expressividade, de profissionalização e desenvolvimento de áreas artísticas, ações de formação e educação de pessoas, incluindo o terreno da saúde em sua concepção ampla e integrada. E estamos, com certeza, nos reportando à gênese dessa instituição preocupada desde sempre com a inclusão, reflexão e criação.
Olhar hoje para essas ações nesse tempo que já se traduz em história é constatar que muitas pessoas que estavam naquele palco são hoje artistas ou pesquisadores respeitados nacional e internacionalmente – ainda parceiros de jornada. Parte significativa daquelas crianças do programa Curumim são os adultos que nos relatam valores éticos e críticos pinçados no brincar e que hoje nos apresentam seus filhos. É, ainda, a presença cotidiana na prática regular das atividades físico-esportivas de um número cada vez maior de pessoas. Este relato nos leva a refletir que, no diálogo permanente, os fazeres ganham sempre outros e novos contornos e é no “ouvir” que praticamos a inclusão, em termos de educação, desenvolvimento social e cultural. Enfim o pleno exercício da cidadania – construirmos nossa própria história de acessibilidade e inclusão.
Nesse contexto de responsabilidade consciente e prazerosa vimos as escadas se transformando em rampas, elevadores especiais sendo instalados para acesso a piscinas, teatros, a discussão e a prática da arquitetura da acessibilidade na cidade para a inclusão da pessoa com deficiência.
Mas, quantas pessoas com deficiência são contempladas nessa acessibilidade e, mais do que quantas, de que acessibilidade estamos falando? Se acreditamos em participação, experimentação, reflexão e aprendizado, estamos em um universo pouco explorado. Temos um grande desafio! Nas unidades do Sesc, há mais de 15 anos, a acessibilidade se tornou possível em apresentações artísticas, oficinas, em atividades físico-esportivas onde o atendimento individualizado permite adaptações construídas junto à pessoa com deficiência e em programações de caráter eventual, contando com parcerias especializadas para a efetiva reflexão e inclusão social e cultural desse público.
Estamos naquele instante no qual nos apercebemos, com interrogações por vezes maiores do que a realidade nos apresenta, mas certos desse caminho da inclusão pela arte, pelas ações sociais, pela diversidade e, principalmente, pela ética de se reconhecer nos outros, sempre limitados e magnânimos em nossos potenciais.