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Os Melhores em Cartaz

Postado em 15/04/2009

Os melhores em cartaz há 35 anos

Festival realizado pelo Sesc São Paulo chega à 35ª edição consolidando-se como mostra de cinema mais antiga da capital

Era 1975 e, na sala do cine-teatro Anchieta – hoje Sesc Consolação – uma seleção com os filmes consagrados no ano anterior tomava conta da programação entre os dias 20 de janeiro e 3 de fevereiro. A seleção, feita por críticos de destaque na época, incluía produções como Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman, na categoria estrangeiros, e A Herança, de Ozualdo Candeias, entre os nacionais. Era a primeira edição do Festival Sesc Melhores Filmes, ou simplesmente Melhores, como ficou conhecido entre o público que, até hoje, vem lotando as edições do evento, sempre com exibições realizadas no primeiro semestre de ano. Em entrevista concedida em 2005, na XXX, o técnico do Sesc José Saffioti Filho, dos responsáveis pela concepção e organização do evento, conta o início dessa história: “Criamos o Festival Sesc dos Melhores Filmes em 1974 [ano-base usado para a comemoração dos 35 anos]. A turma se reunia para curtir o equipamento de cinema com projeção em 35 mm.

Nos melhores anos da democracia e nos piores anos da repressão, nosso grupo descobriu filmes, diretores, atores e alertamos colegas e espectadores sobre a importância de cada obra que corria o risco de permanecer ignorada”. A 30ª edição dos Melhores foi uma das últimas edições que Saffioti acompanhou antes de sua morte, em 2006.

Em 2009, e em sua 35ª edição (veja boxe Melhores do Ano 2009), o festival comemora também o fato de ser uma das mostras mais antigas do país. “O Melhores sempre foi objeto de estima dos cinéfilos paulistanos”, define a jornalista e pesquisadora Maria do Rosário Caetano, uma das juradas da mostra. “Seus belos catálogos, o conforto da sala – que é um marco na história cultural da cidade –, a simpatia e simplicidade da premiação, sempre com uma pré-estréia brasileira nos mobilizam e sensibilizam”. Para o atual gerente do Cinesesc, Gilson Packer, olhar para os 35 anos do Melhores é acompanhar não só o desenvolvimento da cidade de São Paulo, mas do país. “Basta consultar a lista de ganhadores da mostra para deparar com altos e baixos, assim como com a demonstração, por meio do cinema, da insatisfação com a realidade social brasileira”, afirma. 

Anos de chumbo

No período de ditadura, entre os ganhadores sempre figuravam obras desafiadoras, como O Amuleto de Ogum, de Nelson Pereira dos Santos, melhor filme nacional de 1975. O longa se tornou famoso por abordar de maneira crítica a situação do estado Rio de Janeiro versus o Estado da Guanabara (atual cidade do Rio de Janeiro). Já naquela época, a hoje capital fluminense convivia com um mundo paralelo formado pelos municípios de seu entorno, onde se vivia uma realidade à parte, comandada pela contravenção e seguindo leis próprias. O Passageiro – Profissão Repórter, de Michelangelo Antonioni (melhor estrangeiro de 1976) também pode ser enquadrado nessas escolhas “ácidas” feitas pelo júri do festival. O longa conta a história de um repórter que decide abandonar sua profissão e assumir a identidade de seu vizinho de quarto do hotel onde estava hospedado na África. Considerado pela crítica como um filme de teor político, traz uma cena de execução – real – de um inimigo do Estado. Outros filmes considerados como escolhas de protesto do júri no período são Face a Face, de Ingmar Bergman (melhor estrangeiro de 1977), Pai Patrão, dos irmãos Tavioni (melhor estrangeiro de 1978) e Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia, de Hector Babenco (melhor nacional de 1978).

Sem verde-amarelo

Uma retrospectiva das edições passadas também revela períodos de instabilidade e apreensão em relação ao cinema brasileiro. Nos anos de 1993 e 1994, por exemplo, não houve indicados para a categoria nacional. A ausência espelha a crise do cinema brasileiro causada principalmente pelo fechamento da Embrafilme, empresa estatal que produzia e distribuía títulos nacionais desde 1969. A medida fez parte do Programa Nacional de Desestatização, levado a cabo pelo então presidente Fernando Collor de Mello. A jornalista Ana Maria Cerqueira Leite, membro do júri desde os primeiros anos do festival e quem estava à frente da organização do Melhores na época, conta que o período pós-Embrafilme foi “desolador” e exigiu mudanças nas regras do festival.

“Anteriormente eram indicados dez títulos nacionais”, lembra. “Diminuímos para cinco, porque a produção nacional era quase nada em contraponto à estrangeira, quase sempre em torno de 250 filmes em média. Ou seja, um riacho engolido pelo Amazonas.

Muda o palco

 

No segundo semestre de 1979, o Sesc adquiriu o então Cinema I, sala de projeção famosa na capital paulista, localizada ao número 2.075 da rua Augusta. O espaço de projeção dava início a um novo período na história do Melhores que, a partir de 1980, mudou-se da Consolação para o novo endereço, nos Jardins. Desde então, há 30 anos que a mostra acontece, anualmente, na unidade do Sesc dedicada exclusivamente à sétima arte, o CineSesc. Foi na nova casa que, durante o Melhores de 1980, o público foi chamado, pela primeira vez, a participar da escolha dos filmes, representado, inicialmente, por um grupo de comerciários convidados. Logo em 1981, público e crítica premiaram, pela primeira de muitas vezes, a mesma produção. Eles Não Usam Black Tie, de Leon Hirszman, inspirado na peça teatral homônima de Gianfrancesco Guarnieri. Mais tarde, na eleição dos melhores de 1986, a escolha foi aberta ao público em geral, em votações realizadas em urnas instaladas no próprio CineSesc. “

Em determinadas ocasiões, para minha surpresa, o público votava de acordo com a crítica e por outras vezes meu filme predileto era escolhido pelos espectadores”, brinca a jornalista Ana Maria. “Como eu estava na organização, me abstinha de votar, mas sempre estava torcendo pelas minhas escolhas”. E ao contrário do que muita gente pode imaginar, na história do festival há diversas edições em que a opinião do público e da crítica coincide. Os melhores de 1993 são prova disso, com os mesmos escolhidos em todas as categorias estrangeiras: filme, diretor, ator e atriz [QUEM FORAM?]. Discordâncias, discrepâncias, altos e baixos, filmes inesquecíveis.

Tudo isso está registrado nos 35 anos do Festival Sesc Melhores Filmes. E, em abril, o público terá a oportunidade de não apenas rever os filmes de 2008, mas também de reencontrar e relembrar o passado do próprio festival que começou quando muitos dos atuais freqüentadores do Cinesesc não tinham nem nascido. 


Mellhores do Ano 2009

Edição que comemora 35ª aniversário do festival chega com uma semana a mais de duração.

Realizado de 8 a 30 de abril, o Festival Melhores do Ano de 2009 reunirá 21 produções nacionais e 32 estrangeiras – de um total de 74 filmes brasileiros e 260 internacionais lançados em 2008. Outra novidade é que, além das categorias tradicionalmente avaliadas – filme, diretor, atriz e ator – outras duas foram incluídas: melhor fotografia e melhor roteiro. Para Gilson Parker, gerente do CineSesc, a inclusão das duas categorias busca não apenas reconhecer essas duas áreas, tão importantes na produção audiovisual, mas também mostrar “o amadurecimento de público e crítica para a realização dessa escolha”. O ano de 2009 também marca um aumento significativo no número de avaliadores. Entre o público em geral, a votação, que há três anos é feita pela internet, deu um salto: passou de 4.280 votos em 2008 para 7.893 neste ano. Já entre os críticos, buscou-se uma maior participação de jurados de fora de São Paulo. Serão 15 estados representados pelo voto de 96 convidados. A expansão do Melhores não aconteceu apenas na participação do júri, mas também na itinerância do festival que, pela primeira vez, irá circular por outras unidades do Sesc como São José, Santos, Araraquara, Rio Preto e Ribeirão Preto.

Os melhores filmes nacionais e estrangeiros de 2008 só serão conhecidos de fato no primeiro dia da mostra, mas o público já pode ir se preparando para as surpresas programadas para a 35ª edição. No comando da cerimônia, estarão as irmãs Marina e Domingas Person, filhas do cineasta Luís Sérgio Person, diretor que se consagrou por dois clássicos do cinema brasileiro: São Paulo, S/A (1965) e O Caso dos Irmãos Naves (1967).

Durante a cerimônia de abertura, além da entrega dos prêmios, haverá a exibição de um filme inédito. O escolhido do ano é o longa-metragem A Festa da Menina Morta, que marcou a estréia de Matheus Nachtergaele como diretor e roteirista. Haverá ainda mesas de debate sobre a cena audiovisual brasileira e internacional, com convidados como o cineasta Carlos Reichenbach e o ícone do cinema trash brasileiro José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Pra saber mais? “Só na mostra”, brinca Gilson Paker. “Os ganhadores ficam guardados a sete chaves até lá”.

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