Postado em 30/07/2009
Bem-estar ao ar livre
A corrida é uma das atividades físicas de maior acesso aos interessados em melhorar o condicionamento físico e aumentar a qualidade de vida
Não é difícil estar na frente da sala do cinema ou na mesa de um bar na calçada e, de repente, ver alguém correndo ao seu lado. Claro, numa cidade como São Paulo, seria fácil dizer que lá estaria indo mais um apressado acompanhando o ritmo da metrópole. Mas, muitas vezes, se olharmos bem, veremos que os trajes não condizem com essa hipótese. No lugar do sapato, um confortável par de tênis, que compõe com um short e uma camiseta o típico figurino de atleta.
É que correr virou moda – mas no melhor sentido do termo, já que estamos falando da popularização de uma atividade física que demanda pouquíssima estrutura no que se refere ao espaço e equipamentos e que, sob a orientação adequada, pode ser praticada pelos mais diferentes perfis de pessoas. “A corrida é um esporte muito fácil, muito democrático”, explica Luiz Eduardo Rodrigues Coelho, técnico do Sesc Campinas e especialista em treinamento esportivo. “Para correr você precisa, em linhas gerais, de um tênis e da vontade de fazer a atividade, que, por sua vez, é excelente para ajudar na melhoria da capacidade física e qualidade de vida. Ou seja, há muitos benefícios fisiológicos e psicológicos.”
O professor-doutor Antonio Carlos da Silva, chefe da disciplina Neurofisiologia e Fisiologia do Exercício do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), acrescenta que uma das razões para a corrida ter se tornado uma atividade física cada vez mais praticada pelos moradores de grandes cidades é o próprio estilo de vida atribulado das metrópoles. “As pessoas estão cada vez mais ocupadas e com disponibilidades individuais cada vez mais incompatíveis para fazer atividades em grupo”, observa o especialista. “Portanto, é uma prática esportiva democrática nesse aspecto.” No entanto, lembra que há aspectos a serem cuidados. “Como o calçado, a vestimenta, questões alimentares, condições climáticas (por exemplo, a poluição), mas esses são pontos que devem ser levados em conta na maioria das outras modalidades esportivas”, alerta. Mesmo assim, o especialista em treinamento desportivo e pesquisador do Centro de Estudo de Fisiologia do Exercício (Cefe) – órgão ligado à Unifesp –,?Dilmar Pinto Guedes, ressalta que o mais sofisticado material recomendado ao corredor “custa menos do que aquele utilizado em outras modalidades”.
Benefícios
O professor Antonio Carlos da Silva esclarece também que a corrida, um exercício aeróbio – ou seja, que eleva o consumo de oxigênio –, além de melhorar a capacidade cardiorrespiratória e muscular, aumenta a tolerância às exigências físicas, tornando as atividades da vida diária mais leves. “Considerando que a sensação de fadiga geral ou específica está associada a um grau de exigência superior à capacidade do indivíduo, a corrida reduz o cansaço físico resultante das exigências do dia a dia”, explica, ressaltando ainda que os benefícios também podem ser percebidos no que tange ao humor, à ansiedade e até em quadros de depressão. “Uma vez que faz com que o indivíduo melhore sua autoconfiança, autoimagem, sociabilidade e diminua o estresse.”
Essa sensação de bem-estar é gerada pelos hormônios que são liberados durante a atividade. “Os hormônios corporais reagem a estímulos internos e externos”, explica o professor Dilmar Pinto Guedes. “Eles atuam no funcionamento de células, tecidos, órgãos e sistemas corporais. Alguns hormônios atuam diretamente no sistema nervoso central, proporcionando sensações e, como consequência, alguns comportamentos.” Entre os associados ao movimento está um neurotransmissor chamado endorfina – betaendorfina, para usar um termo mais apropriado.
Antonio Carlos explica essa relação: “Dados científicos sólidos para essa hipótese ainda não estão disponíveis, mas as betaendorfinas teriam uma ação sobre regiões do sistema nervoso central relacionadas com a sensação de bem-estar, a diminuição da sensibilidade dolorosa, o humor, a depressão etc.”. Segundo o pesquisador, outros hormônios que exercem a função de neurotransmissores também entram em cena na hora da corrida, como a serotonina. “Ela possui ação comprovada sobre o humor, a ansiedade e a depressão, e também tem a produção aumentada quando o indivíduo pratica exercícios físicos.” Mas, segundo os especialistas, a ligação não é apenas química. “Fatores psicológicos podem influenciar [o aumento do interesse pela corrida]. Principalmente quando a corrida é realizada em locais abertos, como praias, bosques, parques etc.”, afirma o professor Guedes, referindo-se ao bem-estar extra que a atividade pode proporcionar quando é praticada em ambientes naturais.
Sintonizado com a importância do acesso e de orientação no que diz respeito às mais diversas práticas esportivas, o Sesc promove, desde 2005, o Circuito Sesc de Corridas. O principal objetivo é estimular a prática não somente entre os frequentadores das unidades, como também entre os diversos segmentos da população – empresas, associações e público em geral. Uma forma de manutenção da saúde e do bem-estar. “A corrida é uma das práticas esportivas mais democráticas, e a cada ano cresce significativamente o número de adeptos”, constata Afonso Elísio Corrêa Alves, técnico da Gerência de Desenvolvimento Físico Esportivo (GDFE) do Sesc São Paulo. “O incentivo aos alunos [com a realização do circuito] é para que possam aprimorar seu condicionamento físico enfatizando a questão do autoconhecimento, pois participar de uma corrida é, sobretudo, aprender a conhecer seu limite para procurar alcançá-lo ou então colocar metas possíveis para conseguir este objetivo.” É esse o caso de Iara Aparecida Barbosa, de 45 anos, frequentadora do Sesc Pompeia. “Eu fui procurar o Sesc, em janeiro de 2008, para fazer musculação, a pedido do médico”, conta. “Mas quando eu vi o grupo de corrida, tão animado, entrosado, eu fiquei com muita vontade de participar daquilo.” Como sempre é mais indicado, Iara começou aos poucos. Primeiro tratou de fortalecer os músculos com caminhadas na esteira, que iam ficando cada vez mais aceleradas. “Eu cheguei a participar de uma prova, do Sesc Ipiranga, mas caminhando.” Depois disso, Iara acelerou um pouco mais o ritmo e passou a intercalar a caminhada com a corrida. “Hoje eu corro de cinco a oito quilômetros”, orgulha-se. Para mim é um grande prazer, não só pela corrida, mas por fazer parte do grupo, que é uma grande família. Para mim, vai além do esporte, é uma questão de sociabilização mesmo.” Para concluir, Iara avisa: “Meu sonho agora é conseguir completar a São Silvestre”.
Já Junio Lima de Sousa, de 24 anos e frequentador do Sesc Campinas, não vê nenhuma grande prova no seu caminho de corredor, mas afirma que não pretende largar o esporte. “Você não tem noção do quanto é legal”, anima-se o jovem que, quando conversou com a reportagem, tinha acabado de chegar de uma corrida de sete quilômetros, realizada com o Clube da Corrida da unidade, ao redor da Lagoa Taquaral, que fica no município. “O grupo é muito bom, começamos com umas 15 pessoas [em janeiro de 2009], hoje já temos umas 30.” Junio já frequentava o Sesc há três anos praticando musculação, mas, quando a equipe técnica da unidade começou a chamar alunos para formar o Clube da Corrida, o rapaz não pensou duas vezes em trocar de atividade. “Eu sempre admirei quem corria”, conta. “Mas nunca tive oportunidade de correr, nunca tinha encontrado nenhum grupo ou ninguém que me acompanhasse.” Atualmente, Junio orgulha-se ?de sua marca de sete quilômetros em 34 minutos e já tem no currículo uma prova de dez quilômetros, parte do Circuito Sesc de Corridas, realizada na unidade Rio Preto.
Segundo Afonso Elísio Corrêa Alves, as provas do Circuito Sesc de Corridas têm estrutura e características bem diferenciadas, por isso podem agregar perfis igualmente diferentes de corredores. “Temos a corrida rústica dentro de Interlagos, provas de rua com distâncias diferentes, meia maratona na qual os corredores correm em grupo, corrida na praia, entre outras”, lista o técnico. “São opções que os alunos e os comerciários têm para começar a treinar e vivenciar uma nova opção de lazer saudável.” O técnico da unidade Campinas Luiz Eduardo Rodrigues Coelho comprova que as diferentes modalidades de provas dão conta de agregar diversos públicos. “Há as categorias de dez quilômetros, geralmente para pessoas que já correm, a de cinco quilômetros, para quem está começando, e uma caminhada. Ou seja, você consegue juntar várias pessoas num mesmo evento.”
As datas e os locais das próximas provas do Circuito Sesc de Corridas podem ser conferidos nas próximas edições da Revista na seção Em Cartaz.