Fechar X

Pátria distante

Postado em 01/11/1999

3brazucas.jpg (41743 bytes)

Falta de perspectivas leva pelo menos 2 milhões de brasileiros a tentar a sorte em outras terras

RODRIGO ARCO E FLEXA

"Brasil, um dia eu volto." A frase, cheia de emoção, está estampada num punhado de camisetas expostas numa das barraquinhas da festa. Outro dos modelos à venda destaca uma dura pergunta: "Brasil, o que ainda estou fazendo aqui?" São sentenças que apenas ganham sentido no seu contexto: Dia do Brasil, Nova York, 5 de setembro de 1999. A comemoração reuniu mais de 50 mil brasileiros (mineiros, paranaenses, paulistas e até mesmo representantes do Acre e de Rondônia) que moram e trabalham nos Estados Unidos. Realizada desde 1986, é o maior evento brasileiro no exterior. A data que inspira a festa é o Sete de Setembro. Mas a comemoração sempre acontece no primeiro domingo do mês.

Como manda a tradição, a festa tomou a Rua 46 – a Little Brazil, status reconhecido em placa doada pela prefeitura nova-iorquina –, fincada no centro de Manhattan. Apesar de ter chovido o domingo inteiro, o público não desanimou, entregando-se ao samba, além de degustar toda a variedade de comidas e bebidas genuinamente "nacionais". A animação da festa, no entanto, é apenas uma das múltiplas faces de um fenômeno que, a cada dia que passa, ganha dimensões mais dramáticas: a saída de brasileiros para o exterior diante da falta de perspectivas em seu país.

"Essencialmente, essa é uma massa de cidadãos sem alternativas de trabalho no Brasil. Cansados, eles vislumbram outra chance fora do país", diz o historiador José Carlos Sebe Bom Meihy, da Universidade de São Paulo. Autor de uma ampla pesquisa sobre a vida dos brasileiros nos Estados Unidos, especialmente em Nova York, ele lança em novembro o livro O Brasil fora de si. "Existem ainda as pessoas que saem do país devido a problemas pessoais, traumas familiares e mesmo doenças", acrescenta o historiador.

Terra estrangeira

O conjunto da população brasileira no exterior ainda não foi alvo de um levantamento oficial. Mas as estimativas de pesquisadores do assunto apontam para números espantosos. De acordo com as avaliações mais modestas, cerca de 2 milhões de brasileiros moram atualmente em outros países. O maior contingente, em torno de 1 milhão de pessoas, está concentrado nos Estados Unidos. Desse universo, entre 70% e 80% estão em situação ilegal.

A força da economia dos EUA explica a sua atração sobre tantos brasileiros. No caso do Japão, o aspecto econômico é reforçado pela ascendência. Aproximadamente 220 mil brasileiros descendentes de japoneses vivem no Japão. Com a crise asiática, a procura pela terra dos ancestrais havia arrefecido. Mas o embarque voltou a crescer este ano, com o reaquecimento da economia japonesa. "Muitas vezes eles são procurados com ofertas de emprego ainda no Brasil" (ver PB 319, janeiro-fevereiro de 1997, pág. 41), diz Rossana Rocha Reis, doutoranda em ciência política pela USP, que pesquisa os movimentos de imigração.

O segundo país a abrigar brasileiros, no entanto, é o Paraguai. A estimativa é de que 600 mil vivam na região fronteiriça paraguaia – quase todos trabalhadores rurais do sul do país e do Mato Grosso. "Como eles estão mais preparados para o trabalho na terra, acabaram formando uma espécie de elite produtiva, representando cerca de 5% da população do Paraguai", diz Sebe. Os chamados brasiguaios, no entanto, vivem numa região em constante conflito, sendo até vítimas de invasões por parte de sem-terra do Paraguai.

Já a Europa está se transformando no porto de destino dos brasileiros que detêm melhores recursos. Especialmente no caso dos descendentes de italianos que obtêm a dupla nacionalidade, o que também lhes permite fazer da Itália um trampolim para outras nações européias. Somente na Itália, vivem atualmente cerca de 40 mil brasileiros. Em Portugal, 30 mil, na Inglaterra, mais 20 mil, além da França, onde estão outros 10 mil.

Esses números, no entanto, podem ser ainda maiores. "É possível que a população brasileira no exterior chegue a 5 milhões de pessoas", afirma Sebe. "Mesmo as estimativas mais modestas são assustadoras. Elas revelam a incapacidade do Brasil de absorver o seu próprio cidadão", diz o historiador.

Troca de papéis

Ao longo da sua história, o Brasil sempre foi uma nação que recebeu povos estrangeiros, como portugueses, italianos, alemães, espanhóis e japoneses. Nas últimas décadas, porém, esse processo foi invertido, tornando-se o Brasil um exportador de gente. Apesar da imprecisão numérica que ainda caracteriza as informações sobre os fluxos migratórios, os especialistas garantem que há mais brasileiros fora do país que estrangeiros em nosso território – estimados em pouco mais de 1 milhão.

As dificuldades econômicas dos anos 80 – a chamada década perdida, marcada por sucessivos pacotes governamentais – levaram milhares de brasileiros a tentar uma nova sorte no exterior. No começo da década de 1990, foi a vez do Plano Collor provocar uma nova explosão de saída de brasileiros. Desde então, mesmo que com variações, o movimento para fora não cessou.

"Não existe ainda um conjunto de políticas para resolver esse problema", atesta Rossana Reis. "O Brasil está perdendo pessoas em idade produtiva, que geram riquezas em outros países. Sem falar nos gastos que o país teve na formação dessas pessoas", acrescenta.

Mas nem tudo são perdas. É o que aponta a pesquisadora: "Não deixa de ser uma forma de exportar descontentes. Afinal, quem sai é porque estava, de alguma maneira, insatisfeito com a situação". A presença brasileira no exterior, por outro lado, tem um significado econômico. "Uma das principais entradas de capital estrangeiro no Brasil é constituída pela remessa de dinheiro dos imigrantes", diz.

Rossana Reis é co-organizadora do livro Cenas do Brasil migrante, uma coletânea de artigos sobre a emigração de brasileiros para os Estados Unidos e o Japão. A obra foi elaborada em conjunto com Teresa Sales, professora de sociologia da Unicamp, que é também autora do livro Brasileiros longe de casa, outra pesquisa de fôlego sobre o assunto.

Este último livro traça um perfil dos "brazucas" de Framingham, na região metropolitana de Boston, costa leste dos EUA. Lá, segundo as informações de Teresa, apenas 20% dos brasileiros atingiram uma situação melhor que a que tinham no Brasil. A exemplo de Nova York, as ocupações que se tornaram especialidade de brasileiros não são exatamente "nobres": arrumadeiras de hotel e lavadores de louça em restaurantes, entre outras afins.

"Um dia, eu volto"

Os pesquisadores têm demonstrado esse interesse comum em saber como vivem os brasileiros emigrantes, assim como compreender as transformações que eles estão sofrendo. É verdade que existem diversas narrativas sobre brasileiros bem-sucedidos no exterior, que se estabeleceram com um negócio próprio. Mas há também histórias dramáticas, de gente que se encontra sem alternativas numa terra distante.

"É necessário enxergar a floresta, e não apenas a copa das árvores. Ou seja, o fenômeno da saída de brasileiros deve ser compreendido no seu conjunto", destaca Sebe. "Para muitos, o exterior representa uma segunda chance. Mas dificilmente essas pessoas se dizem imigrantes", afirma o historiador. "Elas não querem deixar de ser brasileiras", diz.

A idéia básica que alimenta a saída de grande parte dos brasileiros, embora não seja uma regra, é permanecer fora apenas o tempo necessário para obter uma soma razoável de dinheiro. Daí, o retorno à pátria.

Mas não é fácil juntar dinheiro, ainda mais quando se mora em um país altamente consumista como é o caso dos Estados Unidos. "O brasileiro, mesmo quando trabalha em serviços manuais, acaba adquirindo uma capacidade de consumo que não tinha antes", aponta Rossana Reis. A situação fica mais complicada no caso de famílias cujos filhos são educados no exterior.

Já existem famílias de brasileiros que contabilizam uma segunda ou mesmo terceira geração de descendentes crescendo em outros países. Assim, a tão desejada volta à pátria não acontece. "Muitos passam a viver o mito do retorno, que é sempre prorrogado", diz a pesquisadora.

Essa situação tende a se agravar especialmente na comunidade brasileira dos Estados Unidos. "Estamos percebendo uma diminuição da cultura formal dos brasileiros que vão para os EUA. O perfil é cada vez mais de pessoas pobres, que perderam o emprego, não falam inglês e têm uma família para sustentar", alerta Sebe. "Elas têm grande dificuldade para encontrar trabalho", diz.

Vivendo em situação ilegal, o imigrante chega a se ver impossibilitado de uma "simples" visita ao Brasil. É o caso de quem está nessa condição nos EUA e teme a possibilidade, bastante concreta, de não poder mais voltar ao país depois de viajar para o Brasil. Existem ainda as pessoas que pretendem voltar ao Brasil, mas nem podem pagar a passagem, e que apelam então aos consulados brasileiros no exterior, os quais pouco podem fazer diante do problema.

A Grande Maçã

O livro de Sebe é a maior pesquisa já realizada sobre a vida dos brasileiros nos Estados Unidos. O trabalho é o resultado de um projeto de história oral – técnica de investigação historiográfica baseada em depoimentos de histórias de vida – sobre os sonhos de mulheres imigrantes em situação ilegal nos EUA.

A pesquisa foi desenvolvida com o apoio da Universidade de Columbia entre 1998 e 1999. Durante o trabalho de campo, porém, o historiador entendeu que deveria estudar o conjunto da comunidade brasileira. "Logo percebi que não era possível fazer uma pesquisa apenas sobre as mulheres. Se o trabalho não abrangesse também os homens, pouca coisa seria explicada", lembra o historiador.

A escolha de Nova York não foi ao acaso. "A cidade exerceu um papel catalisador sobre os brasileiros que iam para o exterior", diz Sebe. "Esse processo remonta à década de 1960, quando eles começaram a deixar o país, insatisfeitos com o rumo dos acontecimentos políticos", afirma. O movimento foi adensado na época do "milagre econômico", quando a classe média brasileira passou a viajar em grande número para os Estados Unidos. "Para compreender a presença brasileira nos EUA, é necessário entender como esse processo aconteceu em Nova York", diz.

O historiador realizou mais de 400 entrevistas com brasileiros que moram em Nova York, especialmente em Queens, uma das cinco grandes regiões da metrópole (as outras são Manhattan, Brooklyn, Bronx e Staten Island). Os depoimentos abrangem os mais variados perfis profissionais, desde empresários até a grande maioria que exerce funções manuais, além de dançarinos e dançarinas de bares noturnos. Metade dos entrevistados era de Minas Gerais. "Quanto mais entrevistas fazia, mais essa média ia se reafirmando", diz. "Outra presença significativa em Nova York é a de paranaenses, um fenômeno recentíssimo."

Engraxates e manicures

A pesquisa constatou uma crescente associação entre o brasileiro e determinados ramos de trabalho em Nova York. "Os mexicanos vendem flores. Os coreanos trabalham nos ‘salad bars’. Os gregos, por sua vez, têm as barraquinhas de sanduíches. Já os brasileiros estão se firmando no negócio da graxa", explica Sebe. Trata-se de um setor em crescente organização, que já mobiliza cerca de 600 engraxates brasileiros, a grande maioria mineiros. A concentração da atividade acontece nas cercanias do famoso World Trade Center, na Quinta Avenida, além das estações de metrô.

Os engraxates estabelecidos há mais tempo chegam até a sublocar trabalho, compondo uma espécie de hierarquia na atividade. É o que atesta o mineiro Elsinho Alves Guimarães, de 29 anos, "sendo dois de graxa": "Os brazucas (apelido dos brasileiros) dominam a praça. Mais de 90% dos engraxates de Nova York são brasileiros e, deles, mais da metade é de mineiros, graças a Deus".

Em seu depoimento para o livro O Brasil fora de si, o engraxate conta como se deu a ascensão dos brasileiros no ramo da graxa. "Fomos tomando conta do negócio, primeiro substituindo os antigos, que eram os negros de Nova York, e depois fomos pegando os melhores pontos e chegamos a criar um novo sistema de atendimento, nos prédios", diz Guimarães. Sobre a destacada presença mineira, ele formula uma hipótese: "Mineiro é simples e não tem medo do batente".

Outro negócio crescente é a procura por manicures brasileiras. "Elas são muito requisitadas pelas mulheres americanas pois fazem um serviço de bastante qualidade. Entre os seus atributos, está o fato de as brasileiras tirarem a cutícula, o que não é feito pelas manicures de lá", diz Sebe. O ingresso da mulher no mercado de trabalho de Nova York, aliás, tem sido muitas vezes mais bem sucedido do que o do homem.

"É comum a brasileira exercer funções que são ligadas ao que fazia no Brasil, onde era dona de casa", conta o historiador. Muitas vezes, a brasileira trabalha em casas de famílias americanas, cuidando de atividades domésticas. "O trabalho junto com a mulher americana, por sua vez, quase sempre facilita a integração da brasileira", acrescenta.

Já os homens se vêem diante de papéis bem diversos dos que desempenhavam no Brasil, como lavar pratos, limpar banheiros e cuidar de jardins. "Esses serviços são vistos pelos brasileiros como uma perda da sua reputação masculina. Essa redefinição de papéis acaba comprometendo não apenas a identidade cultural, mas a de gênero, a chamada honra masculina." O resultado disso se reflete em crises familiares, além de problemas com álcool e drogas, diz o historiador.

Em muitos casos, a igreja é o único socorro que o brasileiro encontra para os seus problemas pessoais em Nova York. "Não existe uma liderança para a comunidade, nem ao menos uma Casa do Brasil. Esse papel acaba sendo desempenhado, e com eficiência, pelas igrejas evangélicas e católicas", aponta.

E são muitos os problemas enfrentados pelos brasileiros na metrópole americana, especialmente nos casos dos que estão em situação ilegal. A pesquisa revela dados alarmantes. Somente em Nova York, cerca de 120 brasileiros desembarcam diariamente com o objetivo de trabalhar no país. Cerca de 40 nem conseguem sair do aeroporto, por serem pegos em contradições durante a entrevista do controle de imigração. Outro problema detectado é o dos brasileiros portadores de Aids, que já são mais de 250, somente em Nova York.

Reinventando o Brasil

A maioria dos brasileiros entra com o visto de turista em Nova York. Muitos compram pacotes de excursão, aproveitam o hotel até o último dia, e então vão para pensões de brasileiros. Essa também é a história de dona Conceição Barbosa, de 61 anos, e de sua filha, Marisa Lopes, de 27 anos, fluminense de Barra do Piraí. Elas desembarcaram na Flórida por meio de um pacote de viagem, e de lá esticaram a viagem até Nova York. "Quando chegou a hora da partida, saímos antes para uma pensão em Queens, onde todo mundo começa", conta Marisa.

Segundo Sebe, a melancolia pela distância da pátria é constante entre os brasileiros em Nova York. Eis um nó do problema: "A pessoa não se reconhece como imigrante e passa a viver uma saudade crônica do Brasil", diz o historiador. Isso gera um grande problema de identidade. Mesmo o acesso à sociedade de consumo não resolve essa questão. "Ao adquirir capacidade de consumo, a pessoa se sente mais respeitada. Mas o preço disso é a sua identidade. Passa-se a viver um debate interno de afirmação: é melhor ser brasileiro ou ser um cidadão digno?", explica Sebe, salientando que "dificilmente esse problema é resolvido". Nesse embate, os brasileiros acabam "reinventando" sua pátria no exterior.

Isso significa viver um grau de brasilidade que, muitas vezes, nem existia no Brasil. Como se descobrir um entusiasta do samba e do churrasco aos sábados, mesmo que esses não fossem os próprios hábitos no Brasil. "É comum também pendurar um berimbau na sala, além de vestir os filhos como ‘baianinho’ ou ‘gauchinho’", diz o historiador. "Tudo isso é uma coisa meio fora de espaço e tempo, mas que representa uma reinvenção do país", afirma.

 

Greencard: o sonho americano

O greencard – visto de residência permanente – é o sonho de todos aqueles que buscam uma nova sorte nos Estados Unidos. Regularizado como imigrante, o portador do documento pode trabalhar legalmente nos EUA. Além de encontrar serviços mais bem remunerados, a pessoa fica livre de aborrecimentos jurídicos para visitar a sua terra natal durante as férias. Obter o documento, no entanto, é bastante complicado. Mesmo em situações específicas, como quando um profissional brasileiro é contratado por um empregador americano, o processo costuma ser demorado. O visto também é concedido a quem se casa com um cidadão dos EUA. Obviamente, os casamentos arranjados estão na mira do serviço de imigração.

Existe outra possibilidade: a loteria de vistos que os Estados Unidos promovem com o objetivo de aumentar a diversidade de imigrantes. O Brasil é um dos países qualificados para participar da loteria. A lista é grande, sendo excluídos do sorteio os nascidos no Canadá, China, Colômbia, Haiti, Índia, Jamaica, México, Filipinas, Polônia, Coréia do Sul, El Salvador, República Dominicana, Reino Unido e Vietnã. São países que, nos últimos cinco anos, enviaram mais de 50 mil pessoas, cada um, para os EUA.

Os requisitos para a inscrição são o segundo grau completo, ou nível equivalente, ou ainda dois anos de experiência profissional em atividades que exijam dois anos de treinamento. O sorteio é realizado por computador, e são distribuídos cerca de 55 mil vistos. Mas a concorrência é enorme: entre 6 milhões e 8 milhões de pessoas. Em 1998, foram sorteados cerca de 300 brasileiros. Para a loteria deste ano, o período de inscrição encerra-se em 3 de novembro. Os sorteados deverão ainda passar pelos trâmites regulares do serviço de imigração dos EUA, até a obtenção do visto. A loteria deste ano visa a emigração para o ano 2001. É esperado um novo sorteio para o próximo ano, mas ele ainda não foi confirmado pelo Consulado dos Estados Unidos em São Paulo.

 

De Divinópolis para o mundo

"Um choque total." A exclamação é de Dreivys Dias, mineiro de Divinópolis, ao comentar o seu retorno ao Brasil este ano. Depois de morar seis anos nos Estados Unidos – na cidade de Bridgeport, estado de Connecticut –, Dreivys, de 22 anos, veio para São Paulo estudar na USP. Mas ele ingressou na faculdade mais disputada do Brasil por uma via incomum: um programa de bolsas do próprio governo americano. A temporada paulistana está sendo cheia de descobertas para o estudante, que não conhecia a cidade. É verdade que algumas das surpresas desafiam sua paciência: "É um absurdo a burocracia que existe para se tirar um documento", protesta. Outras novidades, no entanto, são vistas com empolgação: "Estou assistindo a aulas de excelente nível".

Dreivys viajou para os Estados Unidos em 1993, acompanhado da irmã. O destino era a pequena Bridgeport (que tem cerca de 130 mil habitantes). Lá, eles iriam encontrar a mãe, que já morava nos EUA há três anos. Separada do marido, e à procura de um novo rumo na vida, a mãe de Dreivys havia seguido o mesmo caminho rumo aos EUA trilhado por inúmeros de seus conterrâneos de Divinópolis. Na época, porém, poucos brasileiros moravam em Bridgeport. "Eram umas 20 pessoas. Agora, são 20 mil. E todo dia chega gente", diz Dreivys, que fez escola e universidade nos EUA.

"No começo foi difícil, pois não falava nada em inglês", lembra. Os anos de estudo, porém, deram ao rapaz mais fluência na língua inglesa do que no próprio português. Mesmo assim, Dreivys demonstra não ter perdido o elo com o Brasil. Tanto que abriu mão do direito de obter a nacionalidade americana, a que teria direito, pois sua mãe casou-se com um americano. "Sou muito patriota", afirma. Sua formação no exterior, no entanto, abriu-lhe os olhos para o mundo. Ele planeja estudar em outros países, além de viajar mais pelo próprio Brasil. É a partir dessa perspectiva que Dreivys projeta seu futuro. "Meu objetivo é trabalhar como diplomata para o governo brasileiro", diz.

 

Um pioneiro em Nova York

Trata-se de um pioneiro. No começo da década de 1970, fincou a bandeira brasileira na Rua 46, no centro de Manhattan. Em 1986, realizou o primeiro Dia do Brasil, festa que se tornaria anual em Nova York. Outra das suas criações foi o lançamento do jornal "The Brasilians" (assim mesmo, com s), periódico precursor de dezenas de publicações do gênero. Essas são algumas das histórias do jornalista e empresário Jota Alves, um dos primeiros a marcar a presença da comunidade brasileira na metrópole nova-iorquina. Líder estudantil em Cuiabá nos anos 60, Jota Alves – que havia estudado direito e economia em Moscou – saiu do país depois do golpe militar de 1964. "Fui tentar a vida em Nova York e me candidatei a um emprego na ONU", lembra o jornalista.

"Cheguei a fazer um estágio, mas acabei indo à luta pela sobrevivência. E foi assim que tudo começou", conta. Em dezembro de 1972, lançou a primeira edição do "The Brazilians" (na época, ainda com z). O jornal deu certo, e é publicado até hoje, sem interrupção. Ao longo de sua história, o periódico não informou a comunidade brasileira apenas sobre assuntos cotidianos. Nos anos do governo militar, tratou de temas como a repressão política, dando espaço a fatos que estavam sob o crivo da censura no Brasil. O jornal lançou ainda uma tira de quadrinhos que merece ser mais conhecida por aqui: "As aventuras americanas do Zé Brazuca".

Hoje em dia, no entanto, Jota Alves está longe da agitação nova-iorquina. Vive na "serrana, pequena e agradável" Chapada dos Guimarães, onde fundou o "Jornal da Chapada". Sua bandeira agora é o meio ambiente, e está envolvido com projetos de preservação na região de Mato Grosso, além de escrever para jornais de Cuiabá. Ao falar dos seus 25 anos de Nova York, destaca a relação que o brasileiro desenvolve com sua terra quando está no exterior: "Parece que o brasileiro toma um banho de civismo e de brasilidade, defendendo as cores e as coisas do país de uma maneira como não vemos no próprio Brasil".

Comentários

Assinaturas

Escolha uma rede social

  • E-mail
  • Facebook
  • Twitter

adicionar Separe os e-mails com vírgula (,).

    Você tem 400 caracteres. (Limite: 400)