Postado em 08/01/2010
Corpo em atividade
Edição 2010 do Sesc Verão explora a teoria da corporeidade, pela qual o indivíduo é tomado como ser integral, em comunicação com o mundo por meio do movimento físico
Criado pelo Sesc São Paulo em 1996, o Sesc Verão vem desde então propondo a atividade física como instrumento de difusão de conceitos relacionados ao bem-estar, à qualidade de vida e à cidadania. A partir da sua sexta edição, em 2001, foram inseridas programações específicas e campanhas para a difundir um tema, sob o qual são desenvolvidas as atividades. Naquele ano, o slogan foi Corpo Legal, e, nos seguintes, Corpo Feliz; Escolha Seu Corpo; Corpo Ambiente; Jogos, Brincadeiras e Movimento; Tempo, Movimento e Qualidade de Vida; Esporte: Na Prática Todo Mundo Pode; Esporte e Comunidade; e Exercite Suas Inteligências e Faça Um Verão Diferente, no ano passado.
Em comum, todas as temáticas refletem os princípios do programa. “Independentemente do tema que trabalhe o Sesc Verão, tem alguns valores que fundamentam as atividades fisicoesportivas no Sesc”, explica a assistente da Gerência de Desenvolvimento Físico Esportivo do Sesc Regiane Cristina Galante. “Primeiro é sensibilizar as pessoas para a importância da prática da atividade fisicoesportiva, para os benefícios que essa prática traz à qualidade de vida, ao desenvolvimento das atividades da vida diária.” A partir dessa consciência individual, o Sesc propõe que as pessoas, ao se movimentarem, trabalhem como polos difusores. “A ideia é que todos transmitam isso para as suas famílias, para os indivíduos mais próximos, para os amigos, ou seja, envolvam a comunidade que os cerca”, afirma Regiane.
Ser comunicativo
Em 2010, o Sesc Verão dá mais um passo no estudo da cultura corporal e do movimento como possibilidade de desenvolvimento integral do indivíduo, com o tema Corporeidade. “De maneira simplificada, a teoria da corporeidade diz que o indivíduo é um ser integral e que por meio do movimento ele se comunica com o mundo, por isso ele se desenvolve”, informa a assistente da GDFE, referindo-se ao conceito criado pelo filósofo francês Maurice Merleau-Ponty. “A teoria vem em contraposição ao pensamento cartesiano [do filósofo, físico e matemático francês René Descartes, 1596-1650], que dividia o homem em corpo e intelecto, uma visão dualista, contraposta pela teoria da corporeidade, que diz que não existe corpo sem mente, nem o contrário.”
O professor de educação física da Universidade Federal do Pará (UFPA) e doutor em educação Wagner Wey Moreira, consultor da equipe da GDFE para o assunto, complementa esclarecendo que “o ‘conceito’ de corporeidade foi cunhado por Merleau-Ponty para dar ideia mais adequada do que significa corpo-sujeito e para demonstrar a relação dialógica entre corpo e mundo, pois um sem o outro é inconcebível”. Segundo o especialista, corporeidade seria então a própria consciência. “Só que não como atributo da mente”, ressalta Moreira. “Mas, sim, como um estado de alerta corporal que o indivíduo vai desenvolvendo em relação a si mesmo, aos outros, ao mundo e às coisas.”
Os princípios do conceito
O professor explica ainda que, na prática, uma “atitude” de corporeidade se dá por meio da vivência de seis princípios contidos na proposta. São eles: a percepção, a sensibilidade, a participação e inclusão, a cooperação, a criatividade e a superação. “É por meio deles que a teoria se fundamenta e o indivíduo se desenvolve”, retoma Regiane.
O primeiro deles, o da percepção, diz respeito à pessoa manter a consciência sobre si mesma e sobre o outro durante a prática fisicoesportiva. Em seguida, vem o princípio da sensibilidade, ou seja, estar sensível, também na prática esportiva, às suas necessidades, às suas limitações, sensível à presença do outro. O terceiro, o da participação e a inclusão, busca garantir a presença não somente dos menos habilidosos nessa ou naquela modalidade, mas também daqueles com limitações físicas – e que nem por isso precisam ficar de fora das práticas. O seguinte, o da cooperação, baseia-se no sentido de o indivíduo perceber que precisa do outro para chegar a algum resultado no jogo, na atividade. Já o princípio da criatividade diz respeito a incorporar diversos valores e, com isso, poder realizar novas propostas, novas ações, saídas para situações adversas. Por fim, há o da superação, que, como o próprio nome sugere, está ligada à exploração da capacidade humana de sempre alcançar melhores resultados.
Diversidade
A parte prática de toda essa teoria se traduz na própria programação que as unidades prepararam para esta 15ª edição do Sesc Verão. “Quando a gente fala de uma grade fundamentada nos princípios da corporeidade, falamos de possibilitar que cada frequentador, cada pessoa que participe das nossas atividades, entenda a sua motricidade, as suas possibilidades de movimento, como forma de aprendizagem permanente e de superação – seja de conhecimento, de desenvolvimento e principalmente no seu contato com as outras pessoas”, esclarece Regiane.
De acordo com a assistente, o programa é diversificado, incluindo além das modalidades esportivas e práticas físicas, outras formas de expressão. “Envolve as diversas linguagens presentes na programação do Sesc”, afirma Regiane. “É um princípio do Sesc Verão envolver as diversas linguagens e fortalecer o papel do Sesc como difusor de cultura.”
A assistente da GDFE ressalta que não podemos esquecer da corporeidade do próprio povo brasileiro. “A corporeidade é um conceito individual, mas, como brasileiros, a gente também desenvolve determinadas características comuns”, informa. “A capoeira, por exemplo, é uma das expressões mais características dessa corporeidade brasileira. O samba no pé também. Claro, um samba de um jeito, outro samba diferente, e assim por diante, mas isso porque cada corpo, cada indivíduo, tem a sua corporeidade. E também o futebol. Nenhum outro povo faz o que o brasileiro faz com a bola no pé.”
Da vasta programação que a unidade Thermas Presidente Prudente preparou para o Sesc Verão 2010, algumas atividades surgem como destaques que devem atrair muitos interessados. Entre elas, estão dois espetáculos da companhia ParaladosanjoS, de Campinas.
O primeiro, ParaladiBom, com apresentações no dia 9 – na área de convivência, às 15h, e no gramado ao lado da piscina, às 17h – é um espetáculo aero-acrobático que promete fazer a plateia segurar o fôlego. Já o segundo, Tchu Tchu Tchu (foto), voltado mais ao público infantil e que será apresentado em 10 de janeiro, na área de convivência da unidade, conta a história de um casal de banhistas surpreendidos por um tubarão bem na hora de seu mergulho. Para se proteger da ameaça, o casal recorre a tecidos utilizados para aero-acrobacias com o auxílio dos quais realizarão diversas proezas suspensos no ar.
Na área fisicoesportiva, a unidade destaca a aula aberta de futebol americano programada para 23 e 24 de janeiro, no Parque do Povo.