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Postado em 02/12/2009

Curta no ar

por Regina Gambini

Os suportes digitais nos colocam em uma nova realidade. A palavra “película” é cada vez mais rara e o termo “plataforma digital” cada vez mais frequente.

A questão não é apenas de ordem tecnológica, mas envolve uma alteração radical no modo de se produzir.

Nesse modelo, os meios de produção, muito mais acessíveis e descentralizados, são responsáveis pela intensificação dos processos de comunicação, afinal estamos em rede. Por outro lado, o mercado da tecnologia tenta nos convencer de que nunca fomos tão criativos. O fato é que qualquer um que tenha um celular com dispositivos pode produzir imagens, pequenos filmes, e disponibilizar esse conteúdo para muitos outros dispostos a assistir a esses fragmentos.

Tecnologia e criação caminham em mão dupla e se fundem, e os produtores audiovisuais sempre se apropriaram da técnica para desenvolver narrativas, mesmo quando optam por uma estética mais crua.

Na natureza dessa produção, os diversos suportes digitais convivem em espaços simultâneos e dissolvem algumas fronteiras, são incluídos atualmente numa mesma categoria dentro de festivais, assim como podem estar presentes em um mesmo programa de televisão, como aqueles que discutem o curta-metragem pelos seus diversos aspectos, seja tema, gênero, linguagem.

Numa discussão atual, que relacione tecnologia e formato, é apropriado utilizar o curta-metragem como referência, essencialmente pela sua natureza, que pode servir de exemplo para outras possibilidades de criação e utilização.

Desde os anos 1970, os curtas estiveram presentes em cinemas e cineclubes, entre longas, e pouco a pouco foram criando um corpo mais definido e consistente, sendo percebido e avaliado por programadores e pelo próprio público. As leis de incentivo fomentaram uma produção mais intensa. E os curtas cresceram – em expressão, em volume, em discussão, em qualidade, em visibilidade.

Algumas emissoras de TV adotaram o curta-metragem como faixa de programação e ainda o exibem acrescentando comentários?e discussões. Podemos ver esse tipo de recorte bastante utilizado pelas TVs educativas, públicas, e pelos canais culturais, como a TV Cultura, TV Brasil, Futura, SescTV, Canal Brasil.

Mas se o curta-metragem é um formato, ele é especialmente interessante nesses tempos atuais, marcados pela intersecção dos suportes tecnológicos e pela simultaneidade de informações, pela velocidade, pela fragmentação e pelo acesso aos meios de produção.

No meio televisivo, o curta é discutido em programações especiais, ciclos ou séries, mas sobretudo nos canais que exercem suas atividades sem a obrigatoriedade dos intervalos comerciais, o curta  pode ser utilizado como referência para a criação dos  “interprogramas”, elaborados como proposta de programas de menor duração. Vale a pena mencionar que o “mercado” discute a redução no tempo dos formatos, enquanto o público passa a ser avaliado pela sua mudança de comportamento, na maneira de ver e de interagir.

No SescTV, além das séries, temos desenvolvido alguns gêneros de “curtas” ou “interprogramas” que estão na programação diária, em diversas inserções durante as 24 horas. Eles aparecem em pequenas biografias de personalidades nacionais e internacionais ou fatos históricos; em fragmentos de poemas de origens e épocas diversas, interpretados por atores brasileiros em cenários urbanos; há ainda os filmes de animação; os documentários e ficção; os premiados e licenciados durante o Festival Internacional de Curtas-Metragens.

Os curtas, inseridos como “interprogramas”, são responsáveis pela dinâmica televisiva. Ao serem programados de forma orgânica geram pulsações, intervenções e ritmo. Eles trazem informação e despertam reflexão, criam conexões temáticas com os programas de maior duração, surpreendem o telespectador pela ruptura, dão personalidade e identidade ao canal, permitem a realização de um exercício estético, e, acima de tudo, dialogam bem com o poder de síntese da televisão.



Regina Gambini, radialista, é gerente-adjunto do SescTV.

 

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