Deixe de lado o medo e o preconceito, pois a música erudita dos grandes mestres combina com qualquer ouvido
Deque do Sesc Pompéia: "praia urbana"
Verão e férias. Essa combinação de palavras, ainda mais em um país tropical, significa uma festa regada a bebida gelada, mergulhos e, claro, aquela corzinha. No entanto, a despeito da imagem da pele bronzeada como símbolo de saúde, saudável mesmo é a atitude de se cuidar na hora de tomar sol, principalmente nessa época em que a tendência é manter braços, pernas e barriga de fora.
"Pelo fato de a camada de ozônio [que protege a terra dos raios ultravioleta do sol] vir afinando, a passagem da luz é mais intensa", explica a dermatologista Denise Steiner, graduada pela Universidade de São Paulo (USP) e doutora em ciências médicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Com isso, a pele recebe mais radiação negativa." Segundo a especialista, entre os problemas que a exposição excessiva ou inadequada ao sol pode causar à pele estão a queimadura solar, alergias (como urticária ao sol), a chamada fitofotodermatose (aquela "mancha do limão") e, o que vem gerando cada vez mais preocupação, o câncer de pele.
Para alguns a música erudita exige um conhecimento aprofundado ou até mesmo uma sensibilidade especial, para que sua estrutura sofisticada possa tocar não somente os ouvidos, mas também a alma do assoberbado homem contemporâneo - invadido por sons e imagens em tempo integral. No entanto, se, por um lado, o gênero é enaltecido pela capacidade de sensibilizar e intrigar platéias, por outro, seu passado guarda momentos de intensa popularidade. "A ópera, por exemplo, na Itália, era quase como o futebol", informa o maestro paulistano João Maurício Galindo, que mantém o programa Pergunte ao Maestro, na Rádio Cultura FM - voltado justamente para desmistificar a música erudita. "Havia torcida na platéia e era uma festa", conta. A diferença, explica Galindo, é que na época do alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827) e do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) o público tinha outras características. "Quando surgiram os concertos, a platéia era de músicos, pois naquela época todo mundo tocava um instrumento, fazia parte da educação." O maestro, regente titular da Orquestra Jazz Sinfônica e da Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, explica que, com exceção dos analfabetos - então a maioria -, todos com algum grau de educação tinham um instrumento em casa. "A gente vê resíduos disso ainda no Brasil com os conservatórios de piano espalhados por aí", exemplifica. Com a chegada do século 20, e de suas evoluções tecnológicas, a música sofreu um sobressalto. "No século 20 surgem o rádio e o fonógrafo", diz Galindo. "Aí ficou mais cômodo comprar o disco ou ouvir rádio do que ficar horas por dia estudando violino, piano ou flauta." Ou seja, em vez de propiciar uma difusão maior do estilo, o tiro saiu pela culatra. "Criou-se um público de 'analfabetos musicais', por isso a música erudita ficou difícil", completa.
Maior acesso
Perder o medo não é difícil, segundo o maestro. Ele recomenda "curiosidade e contato com vários estilos musicais". Em outras palavras, experimente. Quem sabe você não se torna um grande apreciador das sonatas do alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750)? "Em todas as minhas apresentações, pessoas vêm me falar que não gostavam desse tipo de música, mas que saíram de lá com outra idéia", conta a pianista Marina Brandão, curadora, ente outos, do projeto Erudito Encontra o Popular, realizado pelo Sesc Ipiranga, em 2002. "As pessoas acham que se trata de uma música elitista. Já conheci até quem tivesse medo de entrar no Theatro Municipal. Por isso a chave é saber como formar um público, como montar um programa com peças mais acessíveis sem perder o nível." Atualmente, entre as iniciativas da instituição na área, um destaque são as atividades realizadas pelo Centro Experimental de Música (CEM) da unidade Consolação. Além dos cursos regulares de orquestra e coral, o CEM realiza, anualmente, uma apresentação que envolve os alunos e também músicos profissionais. A cada ano o espetáculo tem um tema diferente. Em 2007, o escolhido foram as óperas mais famosas do compositor italiano Gioachino Rossini (1792-1868) - ou os Rossini Hits, como se chamou o evento. "Foi montada uma história com árias de diversas óperas de Rossini", explica o maestro Leonel Gonçalves Dias, regente da orquestra e professor de violoncelo no CEM. Entre os "hits", a ária Fígaro, da ópera O Barbeiro de Sevilha (1816), e Dom Magnífico, de A Cinderela (1916). Trechos do espetáculo serão apresentados no hall da unidade no dia 21 deste mês.
Público escasso
No entanto, para o maestro Lutero Rodrigues, coordenador musical e regente da orquestra Sinfonia Cultura, ainda não é o caso de dizer que o gênero goza de plena difusão entre os ouvidos brasileiros. "Evidentemente, a música clássica no Brasil não tem o mesmo mercado que a música popular", afirma. "Na verdade, nem sequer chega perto." De fato, os números mostram que não há patamares de comparação. Enquanto a música nacional abocanhou 76% dos R$ 615,2 milhões que o mercado fonográfico movimentou em 2005 - segundo dados fornecidos pela Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) -, a música clássica aparece com ínfimos 2%.
O maestro avalia que o público da música erudita no Brasil não é só restrito no número, mas também no perfil. "Na grande maioria dos casos, é um público com mais de 30 anos. Os jovens nem sempre têm poder aquisitivo para comprar gravações de música clássica, geralmente mais caras." A questão da (falta de) divulgação da música clássica por parte da mídia - sobretudo, o rádio e a televisão - também é levantada pelo maestro como uma das responsáveis pelo estranhamento reinante entre a música erudita e novos ouvintes. "O espaço existente está sempre relacionado ao lançamento de algum produto. Ou é um CD de música estrangeira que chegou ao Brasil ou uma orquestra de fora de passagem por aqui", analisa Rodrigues. Ele cita ainda um exemplo curioso: "Quando uma peça de música erudita é ouvida em um veículo de comunicação, um filme, uma novela ou um comercial de TV, as pessoas até admitem gostar do que estão ouvindo, só não sabem dizer se aquilo é do compositor x ou y. Ou seja, esse estilo é mais acessível do que elas poderiam imaginar. Assim os ouvintes baixam a guarda e perdem um pouco a resistência".
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Clássico pop
Filmes de grande sucesso e até mesmo desenhos animados mostram como a música erudita é acessível
O maestro Lutero Rodrigues, coordenador musical e regente da orquestra Sinfonia Cultura, acredita que um bom meio de "perder a resistência" à música erudita é procurá-la onde ela possa aparecer da maneira mais acessível. "Cedo ou tarde, a pessoa acaba tendo a curiosidade de perguntar quem compôs aquela música daquele comercial de TV ou filme. Então, alguém vai dizer: Mozart, Vivaldi, Bethoveen, e por aí vai". Seguem algumas dicas de onde a música erudita surge em sua versão mais pop.
AMADEUS (1984), de Milos Forman
O filme conta a história do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), dos primeiros sinais de sua genialidade, ainda na infância, à sua decadência e morte - igualmente precoces. A trilha sonora, como se pode imaginar, é de primeira e a interpretação de Tom Hulce, que vive o compositor, é um prazer à parte.
MINHA AMADA IMORTAL (1994), de Bernard Rose
Com atmosfera um pouco mais densa, a fita mostra a saga do compositor alemão Ludwig van Beethoven (1770-1827) em busca do grande amor de sua vida. A cena em que o compositor, vivido pelo ator Gary Oldman, toca sua Sonata ao Luar com o ouvido colado no tampo do piano tentando sentir a vibração das cordas, uma vez que era surdo, é emocionante.
TOM & JERRY, criado em 1940 pela dupla William Hanna e Joseph Barbera
O desenho animado fez parte da infância de muitas gerações - embora ainda hoje canais de TV ainda se encarreguem de apresentar o atrapalhado gato Tom e o encrenqueiro ratinho Jerry às crianças. Pois as melodias que embalam as peripécias da dupla foram tiradas do repertório do compositor italiano Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741).
