Postado em 27/06/2007
País consome pouco, mas vinho nacional ganha adeptos e prêmios internacionais
EVANILDO DA SILVEIRA
Arte PB
País tropical, ensolarado e quente, o Brasil não é, na cabeça de muita gente, o lugar mais apropriado para o consumo do vinho, uma bebida que, dizem, vai melhor em climas mais amenos. Para seus defensores, no entanto, essa idéia não passa de preconceito. Seja como for, o fato é que o brasileiro consome pouco esse produto. Apenas 1,9 litro por pessoa por ano, contra 55 tomados por franceses, 50 por italianos, e os 29 de nossos vizinhos argentinos. O que a população bebe mesmo é cerveja (48 litros) e cachaça (11). Apesar desses números, do preconceito e da falta da tradição de consumo, o vinho vem conquistando espaço no Brasil e até na pauta de exportações do país.
Alguns números demonstram isso. De acordo com a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), no ano passado o Rio Grande do Sul, estado que responde por 90% da produção nacional e o único que apresenta dados precisos, produziu 318,3 milhões de litros, um crescimento de 46,5% em relação a 2006, quando foram fabricados 217,2 milhões de litros. Do total de 2007, 275,2 milhões de litros foram de vinho de mesa, o de menor qualidade, mais barato e de maior consumo. O restante, 43,1 milhões de litros, eram vinhos finos, os mais apreciados por quem entende da bebida e os de maior valor agregado.
Esse aumento da produção de 2006 para 2007 não significa, no entanto, que ela venha crescendo de forma regular. Uma série histórica da Uvibra, que vai de 1998 a 2007, mostra altos e baixos. No primeiro ano da lista, por exemplo, foram produzidos 184,7 milhões de litros, número que passou para 272,3 milhões no ano seguinte e chegou a 329,2 milhões em 2000. Em 2001 a produção caiu para 263 milhões de litros, subiu para 291,3 milhões em 2002 e voltou a baixar em 2003 para 203,1 milhões. Em 2004, chegou-se ao pico da série, com 356,8 milhões, mas nova queda foi registrada em 2005, com 271, 5 milhões.
Em termos de exportações, o Brasil também vem crescendo e conquistando mercado, embora esteja ainda muito distante dos grandes produtores. No ano passado, por exemplo, o país exportou 3,14 milhões de litros, número insignificante se comparado aos 23,8 bilhões de litros consumidos por ano no mundo. Se em quantidade o país ainda não tem expressão no mercado internacional, o mesmo não se pode dizer da qualidade. O Brasil tem feito bonito em eventos e concursos desde 1991, quando começou a participar deles.
A partir daquele ano, a bebida nacional já conseguiu centenas de prêmios em várias partes do mundo. De acordo com a Associação Brasileira de Enologia (ABE), até o ano passado, os tipos tintos, brancos, rosés e espumantes brasileiros conquistaram 1.633 premiações, da quais 461 medalhas de ouro, 748 de prata, 259 de bronze e 165 distinções, contemplando 66 vinícolas brasileiras. Só em 2007, foram 109 prêmios, 60 deles para espumantes e 49 para vinhos.
Para o presidente da ABE, Carlos Abarzua, o sucesso alcançado pelo produto nacional nos últimos anos é resultado da evolução da vitivinicultura brasileira. E não veio à toa. "Os inúmeros prêmios conquistados demonstram também o empenho e a dedicação dos enólogos em garantir a qualidade dos vinhos elaborados e a satisfação do consumidor", explica.
Bebida milenar
Seja no Brasil seja no exterior, premiado ou não, o vinho vem de longe no tempo. Tão ou mais antigo que a escrita, ele tem uma história que se perde no passado. Assim como a roda, ninguém sabe quem o inventou. Não é absurdo supor, no entanto, que ele tenha sido descoberto por acaso, surgido de um punhado de uvas esmagadas esquecidas em algum canto de caverna ou choça, que fermentaram e se transformaram na bebida. Isso pode ter ocorrido entre 8 mil e 10 mil anos atrás, quando a humanidade estava trocando a caça e a coleta pela agricultura, deixando o nomadismo para viver em aldeias estabelecidas.
Hoje, todas as variedades usadas na produção de vinhos finos são da espécie Vitis vinifera. As principais são Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc (tintas) e Chardonnay, Moscato e Riesling Itálico (brancas). Os de mesa e os sucos, por sua vez, são produzidos com uvas denominadas comuns ou americanas e híbridas. As espécies mais cultivadas são a Vitis lambrusca, a Vitis berlandieri e a Vitis rupestris. Entre as variedades mais comuns dessas espécies estão a Isabel, a Bordô, a Concord, a Moscato Embrapa, a Lorena e a Rúbea.
Para os arqueólogos, a principal evidência de sua fabricação no passado em determinado lugar é o acúmulo de sementes de uva – que depois são descobertas em escavações. As mais antigas foram encontradas em Çatal Hüyük, na atual Turquia, e datam de 8000 a.C. Eram de uvas selvagens. As sementes de videiras cultivadas mais velhas datam de 7000 a 5000 a.C. e foram achadas na atual Geórgia (Rússia).
Mais recentemente na história, civilizações antigas, como as dos egípcios, gregos e romanos, produziram ou, pelo menos, consumiram vinho. No caso dos egípcios, eles foram os primeiros a registrar em pinturas e documentos (datados de 1000 a 3000 a.C.) o processo de fabricação da bebida e seu uso em celebrações. Mais tarde, os gregos expandiram o cultivo da uva e o culto ao vinho. Eles tinham até um deus da bebida, Dioniso. A partir de 1000 a.C., esse povo disseminou plantações de videiras por várias regiões da Europa.
Apesar de terem sido os gregos a iniciar a disseminação da vitivinicultura pelo mundo, foram os romanos que a levaram mais longe. Eles costumavam cultivar vinhedos nas terras conquistadas. Era uma forma de impor seus costumes e sua cultura aos povos dominados. Com a expansão de seu império, o vinho chegou aos territórios onde hoje estão a Grã-Bretanha, a Alemanha e a França.
Sangue de Cristo
Com a queda do Império Romano, em 476 d.C., a Europa ingressou num período de obscuridade, a Idade Média. Em muitas de suas regiões, regrediu-se à barbárie. O vinho foi salvo, no entanto, por outro poder que se consolidou a partir dessa época: a Igreja Católica, cuja liturgia favoreceu a permanência da bebida, uma vez que esta representa nada menos que o sangue de Cristo. Por isso, desde o começo de sua história, a Igreja procurou se estabelecer como proprietária de extensos vinhedos, vinculados aos mosteiros das principais ordens religiosas da Europa.
Desse continente, a bebida se espalhou e chegou ao Novo Mundo. Em 1493, a uva foi introduzida nas Antilhas, por Cristóvão Colombo. Daí, chegou ao México, aos Estados Unidos e às colônias espanholas na América do Sul. No Brasil, a história do vinho começa em 1500, com Pedro Álvares Cabral, que trouxe em suas 13 caravelas pelo menos 65 mil litros, para consumo dos marinheiros. As primeiras videiras só desembarcaram no país, no entanto, em 1532. Elas foram plantadas por Martim Afonso de Sousa, na capitania de São Vicente. A partir de então, as uvas se espalharam por outras regiões do país.
A vitivinicultura gaúcha e brasileira tem início de fato, entretanto, em 1875, com a chegada de imigrantes italianos, que desembarcaram com videiras e uma forte cultura de produção e consumo de vinhos. Apesar do sucesso inicial, as videiras finas não se adaptaram ao clima tropical úmido e foram dizimadas por doenças causadas por fungos. A salvação veio com as uvas da variedade Isabel, então cultivada pelos colonos alemães nos vales dos Sinos e do Caí. Embora pouco adequada à fabricação de vinho, foi graças a ela que a produção da bebida, mesmo de má qualidade, seguiu em frente, devido a sua resistência.
Aos trancos e barrancos, essa situação perdurou até o início dos anos 1960, quando empresas multinacionais se estabeleceram na região, melhorando a qualidade da indústria vitivinícola. Na década seguinte, a vitivinicultura expandiu-se para outras áreas, como a campanha gaúcha, perto da fronteira com o Uruguai, e o semi-árido nordestino, mais especificamente o vale do rio São Francisco, entre os estados de Pernambuco e Bahia. Foi somente a partir da década de 1990, no entanto, que vinhos de melhor qualidade passaram de fato a ser produzidos, com crescente profissionalização e a adaptação de uvas finas ao clima peculiar da serra Gaúcha.
Hoje, a região produz uma bebida considerada de boa qualidade. Em termos de mercado mundial, o Brasil é o 15º produtor, em volume, mas o 37º em consumo per capita por ano. Apesar disso, o país também compra no exterior. E muito. "Os importados representam mais de 80% do mercado de vinhos finos e cerca de 20% do consumo total", informa Carlos Raimundo Paviani, diretor executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). "Quanto às exportações, elas são de pouco mais de 1,5% da produção brasileira, mas com tendência de crescimento, como mostram os últimos cinco anos."
O Ibravin foi criado há dez anos pelas principais e mais antigas associações de produtores de uvas, vinhos, cooperativas e profissionais do Rio Grande do Sul. "Seu objetivo é o ordenamento da cadeia produtiva, a promoção dos produtos e o desenvolvimento da vitivinicultura em seus aspectos técnicos, qualitativos e de mercado", explica Paviani.
Evolução visível
Segundo o diretor executivo da Associação Gaúcha de Vinicultores (Agavi), Darci Dani, a evolução do vinho nacional é um fato visível. "A bebida brasileira vem melhorando muito, com plantio de mudas sadias, que produzem mais e melhor", diz. "Hoje não temos mais dificuldades para fazer vinhos com o padrão dos melhores do mundo, pois dispomos de uva e de condições tecnológicas para isso. Temos produto para competir com os de qualquer outro lugar."
O enólogo Carlos Arruda, diretor da Academia do Vinho, uma associação que mantém um portal na internet dedicado a informações e troca de experiências sobre a bebida, concorda com Dani. "O vinho brasileiro progrediu enormemente nos últimos cinco anos, resultado de investimentos e avanços iniciados há uma década", explica. "Nesse período, nossas bebidas ganharam muitos prêmios internacionais, criando uma visão de que o vinho brasileiro existe e pode competir em alguns rankings, principalmente no de espumantes."
Para o diretor executivo da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Jaime Milan, o produto brasileiro apresenta hoje uma evolução bastante importante, começada nas décadas de 1970 e 80 e que repercutiu no início do milênio. "Há uma desconcentração crescente na produção de uvas, o que origina diversidade e demonstra o grau de maturidade que vamos alcançando", diz. "Os vinhos brasileiros estão ganhando em qualidade e, conseqüentemente, começam a ter participação no mercado mundial."
O vale dos Vinhedos, localizado entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, é a primeira região do Brasil a obter indicação de procedência de seus vinhos finos. O pedido de reconhecimento geográfico foi encaminhado ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) em 1997, mas só foi obtido em 2002. "Nesse período, foi necessário firmar convênios operacionais para auxiliar no desenvolvimento de atividades que serviram como pré-requisitos para a conquista da Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos (IPVV)", explica Milan. "Foi o salto que faltava para a região ser reconhecida pela qualidade de seus produtos. A conquista tornou-se garantia de origem com qualidade do vale dos Vinhedos."
Grande parte desses avanços pode ser creditada à unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) dedicada ao setor. Criada em 1975, a Embrapa Uva e Vinho realiza pesquisa voltada para a produção, também, de sucos e espumantes. "Nossa missão é viabilizar soluções tecnológicas para a vitivinicultura e a fruticultura de clima temperado no Brasil", explica Alexandre Hoffmann, pesquisador e chefe-geral da unidade. "Ou seja, gerar informações, criar inovações e transferi-las para os sistemas de produção agropecuária do agricultor brasileiro."
Vitivinicultura jovem
Segundo Hoffmann, pelo fato de o Brasil ter uma vitivinicultura jovem, num país com grande diversidade climática, precisa gerar tecnologia própria. "A evolução da qualidade do vinho nacional tem muito da criatividade dos produtores, mas a tecnologia incorporada em todo o processo produtivo, desde o preparo do solo até a obtenção da bebida, é, em grande parte, derivada de ações desenvolvidas pela Embrapa", diz. "As tecnologias geradas pela Embrapa ao longo dos seus 33 anos de existência já deram uma importante contribuição ao setor produtivo."
Hoffmann cita como exemplo a criação de variedades para mesa, a produção de mudas de videira livres de vírus, o desenvolvimento do sistema de produção integrada, o ajuste no sistema de cultivo de uvas e frutas de clima temperado e o suporte às indicações geográficas de vinhos finos, como a do vale dos Vinhedos – primeiro caso de produto agropecuário no Brasil. "Além disso, a Embrapa criou, em parceria com a iniciativa privada, a base tecnológica necessária para que fôssemos referência mundial em vitivinicultura tropical (produção em regiões próximas ao Equador – caso do pólo Petrolina-Juazeiro)."
Segundo Arruda, da Academia do Vinho, o vale do São Francisco é uma novidade vinícola perante o mundo. "Em latitude de 8o nunca se fez vinho, devido ao clima quente", explica. "É uma região completamente diferente de todas as de vitivinicultura tradicionais. A realidade da bebida ali produzida ainda está em avaliação, pois é um projeto novo." Por ser um local semi-árido, com baixíssima umidade, dias ensolarados, noites frescas e quase sem chuva, a cultura da vinha exige irrigação e cuidados incomuns, como proteção dos brotos no plantio. Há uma diferença marcante em relação a outras áreas de produção. "Por causa do calor reinante e graças ao controle da irrigação, as uvas produzem duas safras por ano, fato inédito no mundo", diz Arruda.
Ainda de acordo com Hoffmann, em virtude de esforço semelhante foram criadas quase 20 cultivares genuinamente brasileiras, dentre as quais as primeiras de uvas finas sem sementes, que já se encontram distribuídas nos principais pólos produtores de uvas de mesa do Brasil e começam a ser cultivadas na África do Sul.
Invasão estrangeira
Apesar dos avanços, o vinho produzido no Brasil ainda tem muitos obstáculos pela frente. Um dos mais graves é a concorrência dos importados. "Internamente, o consumo vem crescendo, mas em velocidade inferior ao aumento das importações, o que é preocupante", diz Arruda. "Tradução: os brasileiros estão bebendo mais, mas a fatia dos nacionais no bolo vem diminuindo."
Dani, da Agavi, também aponta esse como um dos mais sérios problemas enfrentados pelos vitivinicultores brasileiros. "Estamos assistindo a uma verdadeira invasão de produtos provenientes de outros países, em geral com pouca qualidade e a preços muito baixos, o que nos tem atrapalhado bastante", afirma ele.
Segundo Milan, da Aprovale, o mercado interno, principalmente de vinhos finos, sofre os reflexos do que ocorre no mundo inteiro. "Como existem sobras consideráveis na relação oferta/demanda, ficamos expostos à entrada de produtos de todas as procedências. Esse fato, associado ao desconhecimento e ao baixo poder aquisitivo, acaba por determinar a escolha da maioria dos consumidores. A conseqüência é o aviltamento de preços, o que acarreta prejuízo ao produtor nacional."
Para fazer frente a essa realidade, é preciso que o produto brasileiro ganhe condições de competir no mercado externo. Graças ao trabalho de associações como o Ibravin e a Embrapa, os processos produtivos do vinho no Brasil vêm melhorando muito. "O país já adotou tecnologias modernas, implantou vinhedos com variedades da espécie Vitis vinifera, com boas qualidades enológicas, e incorporou procedimentos como fermentação com temperatura controlada e uso de leveduras selecionadas", explica Paviani. "Ou seja, não deve nada, em termos de qualidade, a qualquer um dos mais importantes produtores mundiais. Entretanto, esse avanço qualitativo e tecnológico ainda não está disseminado por toda a produção brasileira. Um programa de melhoramento vitivinícola para ampliação da base tecnológica na produção será discutido neste ano pelo Ibravin."
Em relação às exportações, já existe um programa em atividade. Trata-se do Projeto Setorial Integrado Wines from Brazil (WFB), criado em 2002 pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e que atua com o apoio do Ibravin e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), ligada ao governo federal. "Hoje, 28 empresas participam do WFB", conta a gerente do projeto, Andreia Gentilini Milan. "Nosso objetivo é a promoção do vinho brasileiro no exterior. Para isso, já participamos de cinco grandes eventos de degustação e 14 feiras internacionais dedicadas à bebida, o que gerou 4,2 mil contatos de negócios."
Para atingir seus objetivos, o WFB, além de participar dos principais eventos internacionais do setor, adota algumas estratégias. Entre elas, a de buscar nichos de mercado para produtos diferenciados, com maior valor agregado. Também tenta mostrar o Brasil como uma alternativa de fornecedor entre os países do Novo Mundo, procurando mercados abertos a vinhos provenientes dessa parte do globo. Outra linha de atuação é trabalhar para difundir a imagem da marca "Brasil" em eventos de promoção comercial e conquistar compradores e formadores de opinião a respeito do produto brasileiro.
Concorrência pesada
Segundo Andreia, a meta do Wines from Brazil é exportar US$ 5 milhões até o final de 2009, o que representa cerca de 10% da produção de vinhos finos do Brasil. Hoje, os países que mais importam vinho brasileiro são a Alemanha, o Reino Unido e os Estados Unidos. Conquistar espaço nesses mercados não é fácil. A concorrência é pesada. Além de enfrentar produtores tradicionais, como França, Itália, Espanha e Portugal – os fabricantes do Velho Mundo –, a bebida nacional ainda tem de disputar a preferência dos consumidores com vinhos produzidos em países como Chile, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e África do Sul, que até os anos 1970 respondiam por apenas 5% da produção mundial e hoje são responsáveis por 50% do total fabricado.
A saída foi apostar numa estratégia ousada: criar para o vinho brasileiro a imagem de bebida exótica. "Estamos buscando esse nicho nos restaurantes e lojas especializadas pelo mundo", explica Andreia. "O Brasil não apresenta o volume de produção que a Argentina e o Chile têm. Isso impede o país de oferecer um preço competitivo. Por isso, buscamos colocar valor agregado no produto, como a imagem diferenciada." Para Paviani, do Ibravin, essa característica é atribuída à bebida por causa da falta de tradição no setor. "Nosso vinho é exótico porque é uma surpresa, ninguém sabia que éramos produtores de qualidade", diz.
Segundo Arruda, provavelmente essa se revelará a única estratégia para o produto brasileiro sair da vala comum ou mesmo sobreviver. "Em declarações recentes, Robert Parker [um dos mais importantes enólogos do mundo] ressaltou que o mundo está se cansando dos vinhos globalizados, pasteurizados", diz. "A mudança aponta para a diversidade, a personalidade, para os mais autênticos, sem madeira ou manipulação excessiva, que traduzam seu terroir, qualquer que seja ele."
Por isso, ele acredita que apostar na imagem de exotismo pode ser um bom caminho para o Brasil. "Nossos vinhos têm personalidade peculiar, pelo frescor, pela manifestação das variedades em nosso território", diz. "Isso é nosso vinho, ninguém mais tem. Resta aos brasileiros aprender a bebê-lo, apreciando suas qualidades próprias, em vez de comparar com chilenos e argentinos, por exemplo. Nunca serão parecidos, e ser diferente é qualidade, não defeito.