Postado em 01/06/1999
A inegável que o conceito de cidadania esteja se
arraigando dentro da sociedade brasileira, a partir do momento em que toma em suas mãos
as reivindicações em prol de uma vida mais saudável, segura e ética. Nas últimas
décadas, o Brasil presenciou o nascimento de movimentos que lutavam pela reafirmação
dos direitos do ser humano, em todos os níveis, da política às liberdades civis. Neste
contexto, é um alento a constatação de que as pessoas portadoras de deficiência
física estejam representadas por associações que lutam por seus direitos e que tais
organizações não governamentais tenham conseguido transformar em leis muitas de suas
palavras de ordem.
Não é sem tempo. De acordo com a OMS-Organização Mundial de Saúde, o Brasil possui
cerca de 16,5 milhões de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência física. Até
meados do século, esses cidadãos viviam segregados em quartos, em casas, dentro de um
raciocínio que os considerava inaptos não apenas para o trabalho como para a própria
vida. A consciência civil em todo o mundo fez a sociedade perceber a necessidade de
reconsiderar tamanho desajuste e desrespeito para com seus semelhantes, passando a
trabalhar com a idéia da inclusão social, ou seja, grande parte desses excluídos
começaram a se integrar à vida em comunidade, seja trabalhando, seja desfrutando do
lazer oferecido pelas cidades.
O caminho ainda é longo e árduo, apesar de nos últimos anos, inclusive no Brasil, os
legisladores, movidos por essas heróicas associações não governamentais, terem
elaborado um arcabouço jurídico que resguarda os direitos da pessoa portadora de
deficiência, garantindo-lhes não apenas emprego como a possibilidade de locomoção pela
cidade. Por outro lado, a consciência da sociedade, desperta por esses movimentos, chama
a atenção também para outras fatias da comunidade, como a Terceira Idade, ainda hoje
necessitada de cuidados que a retirem de dentro de suas casas e a coloquem de novo em
contato com o mundo e a vida. De medidas simples, como a colocação de corrimãos em
rampas ou escadas, até mais complexas, como ônibus especiais, os idosos também reclamam
maior atenção. É o que abordam duas matérias nesta edição.
O leitor ainda encontrará no Em Pauta depoimentos de professores sobre a violência
dentro das escolas brasileiras. É uma oportunidade para ouvir os educadores que, afinal,
estão entre o giz, a lousa e o revólver das discórdias. Em outro texto, o projeto que
homenageia o escritor Mário de Andrade em toda a sua multifacetada atuação crítica e
artística. Em outra reportagem, a história do Pau Brasil, madeira que deu nome a este
país-continente. Na seção Entrevista, o historiador Boris Fausto discorre sobre a
proximidade dos 500 anos do Brasil. E, na Ficção Inédita, um conto de Vera Albers. Boa
leitura.
Danilo Santos de Miranda
Diretor do Depto. Regional do SESC