Fechar X

Exposição

Postado em 12/02/2007

REVISTA E - PORTAL SESCSP

IDÉIAS ILUMINADAS

 

Evento no Sesc Pinheiros traz a luz e suas fontes geradoras como inspiração e suporte para diversas manifestações artísticas

 


Ao longo da história da arte, as relações possíveis com a luz têm sido foco constante de estudo e pesquisa. Com o advento da eletricidade e os avanços científicos na óptica - parte da física que estuda as leis relativas às radiações luminosas -, artistas como László Moholy-Nagy (1895-1946), professor húngaro da Bauhaus, escola alemã de design, artes plásticas e arquitetura, começaram a utilizar o fenômeno como arte em si. O que apresentou uma forma diferenciada de utilização da luz nos processos criativos, já que até então a fotografia e a pintura, por exemplo, usavam-na, respectivamente, apenas como registro ou objeto de representação.
Foi justamente com o intuito de trazer à tona novamente essa íntima ligação entre luz e arte que o Sesc Pinheiros apresenta, até 14 de janeiro, o evento Luz da Luz, composto por seminários, oficinas, exposições e performances. "A idéia era fazer algo que não fosse só uma exposição, mas que tivesse seus tentáculos na ciência também", explica a artista multimídia Anna Barros, idealizadora e curadora do projeto iniciado em setembro. "Essa interdisciplinaridade se dá porque hoje passamos por uma fase em que enxergamos o mundo como um complexo, com tudo relacionado a tudo."

 

ESTÍMULOS DIFERENCIADOS

A mostra conta com obras de 11 artistas, brasileiros e estrangeiros, cujos trabalhos usam desde a luz solar até as novas tecnologias, como a internet. Para a escolha dos artistas, o critério foi ter a luz como "material" empregado em trabalhos anteriores. É o caso de Lucas Bambozzi, realizador da videoinstalação Multidão, localizada na área de convivência da unidade. "O convite veio como uma possibilidade de dialogar com essas formas indiretas de pensar a luz no campo da arte", conta Bambozzi. "O vídeo, principal suporte de meus trabalhos, pode ser considerado uma fonte de luz, artificial e codificada, mas ainda assim uma forma de existência da luz e que tem poder de comunicação."
Os trabalhos, distribuídos pelo edifício, estão divididos em módulos de acordo com os diferentes tipos de luz utilizados e as reações que causam nos espectadores. No grupo Luz Mista encontram-se trabalhos que têm como base a luz solar e a artificial. As obras apresentadas no bloco Densidade Luminosa instigam os sentidos, criando ambientes e fornecendo estímulos diferenciados. Já em Projeções Luminosas estão reunidas produções em que a emissão de luz é feita por meio de equipamentos eletrônicos e digitais, como vídeos, projetores e computadores. E os trabalhos pertencentes ao módulo Luz Objeto estão relacionados à luminosidade na comunicação, na internet e na arte digital.
"É uma exposição que tem de ser vista em dois momentos: durante o dia e à noite", explica a curadora. "Isso porque há trabalhos, como a projeção de vídeo do Lucas Bambozzi, que só podem ser visualizados à noite. Já outros, como o meu, só podem ser vistos de dia", exemplifica Anna, referindo-se à obra OlhoEyeOjo, projeção localizada na fachada da unidade.

 

DISCUSSÕES AMPLAS

Para o artista multimídia Alberto Blumenschein, integrante do grupo SDVila e que também participa da mostra com a instalação Viveiro Svetliná, o evento é um bom momento para pôr em prática uso das novas tecnologias na arte - apesar das dificuldades de acesso aos equipamentos por conta de seu alto custo. Com relação a esse empecilho, argumenta que a melhor saída é a criatividade dos artistas brasileiros. "Conseguimos ser criativos com poucos recursos." Raquel Kogan, artista que expõe a instalação Visão, concorda que o custo desse tipo de trabalho é alto, mas é otimista com a mudança desse panorama. "Aos poucos as coisas vão se modificando. Mas as obras, na grande maioria, têm um custo de pesquisa, de execução e de manutenção que dificulta o patrocínio ou a venda."
O evento Luz da Luz também transita por outros tipos de arte, como o espetáculo de dança 2 em Super-8, apresentado em dezembro pela Companhia Provisória. No trabalho, os dois bailarinos da companhia dançam em um cenário branco e sobre seus corpos são projetadas imagens de situações associadas ao universo familiar, como festas de crianças e brincadeiras no quintal. Marcelo Poletto, um dos diretores do trabalho, diz que a projeção no formato super-8 tem como objetivo despertar a memória do público. "A gente trabalha muito com contrastes absolutos: a luz e a penumbra, o vazio e o cheio. Assim, os espectadores podem imaginar mais e ver menos. O diálogo da luz e da sombra mexe com a imaginação e com a memória do público", explica.
Segundo a técnica do Sesc Pinheiros Nilva Luz, nesses três meses em que o evento está em cartaz na unidade, cerca de 70 mil pessoas já conferiram a programação. "A reação do público tem sido muito boa, o volume de visitantes confirma o sucesso", afirma Nilva.

 

Ver boxe:

 

Inspirado na solidão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Inspirado na solidão
Como parte da programação do Luz da Luz, o espetáculo O Banho aborda a história de uma mulher que passou mais de 40 anos isolada dentro da própria casa

 

O fato é digno de manchete. Sebastiana de Mello Freire, a Dona Yayá - figura da elite paulistana -, ao ser diagnosticada como doente mental em 1919, teve a sua casa no bairro da Bela Vista, região central de São Paulo, parcialmente transformada em um hospital psiquiátrico privado, onde permaneceu isolada por ordens médicas até 1961. Além de ser o típico "prato cheio" para a imprensa, a história serviu de inspiração para a instalação coreográfica - misto de dança, performance e vídeo - O Banho (foto), dirigida e interpretada por Marta Soares e que faz parte da programação do evento Luz da Luz, realizado pelo Sesc Pinheiros. O espetáculo, em cartaz nos dias 12 e 13 de janeiro, mostra a performer com o corpo imerso em uma banheira enquanto realiza uma seqüência de movimentos que se repetem por uma hora. Imagens de vídeo são projetadas em lugares distintos do espaço, e ao público é permitido se aproximar da banheira e assistir à performance de diversos ângulos. O Banho ganhou o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 2004.

 

Voltar

Escolha uma rede social

  • E-mail
  • Facebook
  • Twitter

adicionar Separe os e-mails com vírgula (,).

    Você tem 400 caracteres. (Limite: 400)