Postado em 05/09/2006
MARISA AMATO
"Nada na vida é tão certo quanto a morte, sem esta a vida não teria significado algum. O amor faz perdurar a imagem ou figura de quem cerrou os olhos para sempre."
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Nascido em Bauru, filho de pai professor e pastor da igreja presbiteriana, e de mãe professora, foi enviado para estudar em São Paulo, onde residiu com os avós. Após o curso secundário, fez a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Ligado à cadeira de anatomia, tinha como paradigma o professor Renato Lochi. Defendeu tese de doutorado nesse departamento e tornou-se cirurgião na clínica do professor Alípio Correa Netto. Mais tarde especializou-se em cirurgia vascular na Universidade de Strasbourg, na França, antes de se tornar professor associado na Faculdade de Medicina da USP. Realizou o primeiro transplante renal no Hospital da Beneficência Portuguesa. Publicou 29 livros, em 35 edições. Desde 1981 atuou como membro do Conselho de Economia, Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Sesc e Senac.
Homem carismático, tinha personalidade marcante, típica de pessoas que assumem uma postura na vida e demonstram claramente suas idéias, objetivos e sentimentos. Muitas vezes decepcionou-se com a natureza humana, mas nunca deixou de acreditar nela, sempre com a esperança de que a humanidade conseguisse se aprimorar. Ensinou e lutou pelos valores morais e éticos.
Era cheio de energia, ativo e dotado de excepcional capacidade de superar as dificuldades, procurando passar uma visão positiva das situações. Sempre tinha uma palavra de estímulo para as pessoas progredirem e serem mais felizes. Colocava a felicidade onde estava e fazia de tudo para irradiá-la ao seu redor.
Como afirmou seu grande amigo, Miguel Reale: “Não podemos ser felizes sozinhos, trancados na ilha de nosso egoísmo, sem a alma participante aberta às aspirações coletivas. É o motivo pelo qual a maior felicidade é fazermos os outros felizes. Não é feliz quem não educa a visão intelectual, a sensibilidade, a forma de querer. A conquista da felicidade é uma vitória do espírito, do tempo, a formação de um estado de consciência que esteja em harmonia com o momento que estamos vivendo e com tudo aquilo que nos cerca”.
Ensinava os valores da vida, explicando que o único patrimônio que tem valor é o espiritual, intelectual e cultural, porque, se perdermos esse, não reconheceremos a nós mesmos e o resto não terá significado.
Dizia que o estilo de vida que a medicina propicia tem caráter sacerdotal, não pela gratuidade dos serviços, mas pela devoção que eles exigem. Afirmava que essa oportunidade é real para aqueles que não se restringem a viver da medicina nem se limitam a viver a medicina, mas, sim, para a medicina.
Assim como sentia muito orgulho por tudo o que construiu e conquistou na vida, era também humilde para continuar aprendendo. A curiosidade científica o mantinha alerta, captando tudo a seu redor e procurando permanecer à frente de sua geração. Sua constante convivência com os mais jovens o conservava atualizado e integrado socialmente. Mas não se continha apenas em saber. Didaticamente e com muito entusiasmo, passava adiante o que aprendia. Sempre tinha novidades para contar e qualquer encontro com ele, por mais informal que fosse, tornava-se rico de informações e idéias.
Era um eterno professor e para os jovens médicos – e também para os que sonhavam em ser médicos – dizia: “Melhor que o sonho é sua realização. Sonhem, mas sonhem alto e lutem para realizar seu sonho!”
Até nos últimos dias de vida, com seu pensamento positivo, tinha o sonho de vencer a doença. Nunca pensava nela diretamente e continuava trabalhando, com as idéias em constante ebulição. Ultimamente, sonhava em criar uma ONG para estimular jovens talentos. Assim driblava a doença, canalizando toda a sua energia para algo positivo e criativo.
Nunca perdeu a oportunidade de manifestar claramente, em público e até por escrito, o orgulho que tinha das filhas, do genro e dos netos. E que seu objetivo sempre foi abrir a mente dos jovens, estimulando-os a ter idéias próprias e objetivos claros. A ter um sonho e a persegui-lo com garra. Sentia-se realizado e feliz ao ver esses jovens conquistando espaço.
Irany Novah Moraes será sempre lembrado com carinho e como exemplo de uma força energizante. Plantou muitas sementes que produzirão frutos por uma infinidade de gerações. Assim, continuará vivo em nossos corações.
Marisa Campos Moraes Amato, filha de Irany Novah Moraes, é professora livre-docente da Faculdade de Medicina da USP