OLHARES
SOBRE O FEMININO

Exposição
traz a visão de artistas de diversos cantos do mundo sobre a
mulher no mundo contemporâneo
"Como podemos
retirar das mulheres o medo?" A pergunta é feita pela cientista
política Adelina von Fürstenberg, fundadora da organização
não governamental (ONG) Art for the World - "arte para o
mundo" em inglês -, entidade cultural sem fins lucrativos
que busca nas linguagens artísticas o caminho para promover o
diálogo e a compreensão entre povos de diferentes culturas,
além de encorajar a solidariedade e fomentar a educação.
"Medo dos homens, de outras mulheres, da maternidade, da insegurança,
da velhice, de si próprias." Segundo Adelina, por mais que
a civilização tenha amadurecido, ainda há "a
enorme distância" entre as culturas desenvolvidas e subdesenvolvidas,
nas quais, afirma, "persiste uma visão de mulher submissa".
A mulher, seus medos e sua condição e papéis na
sociedade do século 21 são a tônica da exposição
Mulher, Mulheres - Um Olhar sobre o Feminino na Arte Contemporânea,
em cartaz na unidade provisória Sesc Avenida Paulista de 9 de
março a 10 de junho. A mostra, com curadoria da própria
Adelina, traz instalações, fotografias, vídeos,
slides e performances de 19 artistas, homens e mulheres, de 11 países
- México, Suíça, Japão, Brasil, Estados
Unidos, Itália, Coréia, Grécia, Alemanha, Etiópia
e Sérvia. Nos trabalhos, a mulher é retratada por meio
de diferentes imagens. Desde a de mãe e companheira até
a de profissional e a artista, passando pelas figuras da irmã,
da amante e da santa. "Não tem nada a ver com 'arte feminina'",
avisa a curadora. "Trata-se de reflexão sobre a mulher na
sociedade contemporânea." Mulher, Mulheres chega ao Brasil
após uma primeira temporada em Florença, na Itália,
onde deu início à série de considerações
que pretende fazer acerca dessa multiplicidade por meio da arte.
PRESENÇA
BRASILEIRA
Os trabalhos dos cinco artistas brasileiros participantes se inserem
no campo de questionamentos que permeiam a exposição.
Usando a fotografia como suporte, Rochelle Costi cria uma série
de backlights [painéis cuja iluminação é
posicionada atrás da imagem exibida] para criticar a transformação
da estética contemporânea por meio de procedimentos cirúrgicos
- ligados às mulheres, sobretudo às ocidentais. Lenora
de Barros mostra uma série de imagens de uma cabeça coberta
por um gorro e em constante contato com duas agulhas - "como se
estivessem fechando o olhar dessa pessoa", explica. Rosana Palazyan
utiliza o bordado - técnica culturalmente ligada aos "afazeres
femininos" - na composição de sua obra. Nelson Leirner
discute a dependência econômica e a globalização
empregando um jogo de combinações de técnicas.
Já Fabiana de Barros mostra outro de seus trabalhos interativos
por meio dos quais busca estabelecer uma relação individual
com o espectador.
Para Nelson Leirner, uma das principais questões femininas ainda
em discussão hoje é "a igualdade com o homem".
Nesse contexto, ele destaca a relevância do evento. "Essa
exposição é importante para mostrar diferentes
pensamentos e conceitos individuais em um grupo de artistas", declara.
Segundo ele, um diferencial da mostra é trazer a visão
masculina sobre o universo da mulher. Lenora de Barros acredita que
um dos maiores questionamentos femininos da atualidade é "carregar
a responsabilidade de procriação, salvação,
manutenção e até mesmo a perpetuação
do mundo". Como exemplo, ela cita o poeta Décio Pignatari.
"Foi ele que escreveu que 'a mulher tem o relógio da história
na barriga'."
Ver boxe:
Riqueza
que vem da seca
Riqueza
que vem da seca
Sesc Pinheiros expõe trabalho das bordadeiras
do Piauí que gera renda para mais de 800 famílias
da caatinga, além de contribuir para a preservação
da cultura local
De
10 de março a 8 de abril, o Sesc Pinheiros apresenta
a exposição Bordados da Caatinga - Mulheres Bordadeiras
do Piauí, resultado de projeto social iniciado em 1965
no município de Dom Inocêncio, localizado no polígono
da seca, na Região Nordeste do país, que beneficia
mais de 800 mulheres e famílias por meio da renda que
gera.
Além de reunir e exibir as peças bordadas por
essa comunidade, o evento do Sesc terá um ponto-de-venda
para a aquisição dos trabalhos. O destaque entre
as atividades previstas fica por conta da oficina de confecção
de bordados, ministrada pela bordadeira Maria da Conceição
Leal.
A iniciativa do projeto piauiense é do padre Manuel Lira
Parente, que orientou a articulação da população
local após observar a intensa migração
no período da seca e as precárias condições
de subsistência que o povo do semi-árido enfrentava
ao se instalar em favelas no Sudeste do país. Atualmente,
a tradição dos bordados é ensinada a meninas
na escola do município e tornou-se uma das mais importantes
ferramentas de geração de renda nos longos períodos
de estiagem. Além disso, o trabalho já conseguiu
colaborar para a permanência das famílias em casa,
mesmo em épocas de seca, contribuindo significativamente
para a redução da migração forçada
e para a preservação da cultura local. Os bordados
da caatinga já foram expostos em países como França
e Estados Unidos e em diversas instituições de
diferentes estados brasileiros.
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