Postado em 08/03/2006
Pedro II herdou o trono ainda menino e governou o país sem muita convicção
CECÍLIA PRADA
Reprodução
Nos agitados tempos em que vivemos, não é preciso sair às ruas e elaborar pesquisas custosas para verificar que para muitos, cansados com a corrupção generalizada de nosso quadro político, o antigo mito do "governo-paizão", ditatorial, parece a única solução válida para tanto descalabro. Todos os dias a TV nos entrega em domicílio, na boca de populares, uma perigosa ânsia pelo retorno do "governo forte" – aquele em que "somente um manda". E da parte de muitos intelectuais, infelizmente, persiste uma certa conivência com a atitude demagógica dos que, usurpando o nome da "democracia", lutam pela perpetuidade no poder. É coisa para alarme.
Sem falar nos que, românticos incuráveis, em pleno século 21 insistem em querer ainda ver na hipotética restauração do sistema monárquico, encruado no mito do "bom imperador dom Pedro II", uma panacéia que remediaria a todos os males desta nação. Não são eles tão poucos assim. Apesar da discrição exemplar mantida pela família imperial nos 118 anos de República, e mesmo de sua displicência em relação a um provável retorno ao poder, no plebiscito de 1993, que decidiu a manutenção do sistema presidencialista contra o parlamentarismo, a opção monárquica, também presente, registrou 27% dos votos – mais de 7 milhões. E o Movimento Monárquico Brasileiro – que vem lutando para se transformar em partido – faz questão de dizer que o plebiscito teria mesmo sido antecipado pelos partidos políticos, ao verem que a opção restauradora ganhava, a cada dia, mais adeptos. Vale lembrar ainda que a monarquia é apoiada por um movimento de extrema direita, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que tem sede em São Paulo.
Não houve, em toda a história do país, figura tão incensada e mitificada como a do "primeiro imperador do Brasil aqui nascido", Pedro de Alcântara (e mais 12 prenomes, como sói acontecer com os príncipes), que de brasileiro realmente não tinha nada, pois descendia de Bourbons e Habsburgos por parte de mãe, a imperatriz dona Leopoldina, e dos Braganças lusos por parte de pai, dom Pedro I. E foi sempre, apesar dos ornamentos e emblemas indígenas que pelo menos no início de seu governo exibia – como a murça de penas de tucano com que se fazia retratar –, no físico, nas maneiras, na educação, na cultura, um autêntico monarca europeu, transplantado para o trópico. E muitas vezes mal à vontade aqui.
Os movimentos rebeldes que tivemos no século 18, influenciados pelos pensadores do Iluminismo, pela Revolução Francesa e pela Independência dos Estados Unidos, e reprimidos a ferro e fogo pela coroa portuguesa, associaram sempre o anseio pela liberdade com os ideais republicanos. O Brasil teria certamente seguido o exemplo da totalidade das colônias espanholas na América Latina e se tornado também uma república, não fosse um fator determinante: a transferência de dom João VI com sua corte para o Rio de Janeiro, em 1808, e a conseqüente elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves em 1815. Os próceres da Independência, como José Bonifácio de Andrada e Silva, no Brasil, e Hipólito José da Costa – que promovia desde 1808 em Londres, com seu "Correio Braziliense", a causa da libertação –, com o passar do tempo renunciaram às idéias republicanas e adotaram o continuísmo de uma "monarquia constitucional", aproveitando o fato de que o Rio de Janeiro tornara-se a verdadeira capital do reino. Proclamada a Independência, a luta pela Constituição tomou a cena, exacerbada pelas tendências absolutistas do novo monarca, Pedro I. Nove anos mais tarde, ela terminaria na sua abdicação – e na instalação, na antecâmara do trono, de um menino de pouco mais de cinco anos, como fruta em celeiro, esperando maturação e uso.
Um órfão no Paço Imperial
Um olhar mais demorado sobre os primeiros anos do imperador nos dá o retrato de um pobre menino, criado entre esplendores e adulações, por certo, mas que para enfrentar seu sofrimento íntimo teve de enrijecer seu caráter à força. E sobretudo mascarar uma solidão que foi sua companheira constante, a vida toda. Órfão de mãe quando tinha apenas um ano de idade, cresceu, com suas irmãs – pouco mais velhas – entregue a governantes e criados; quando tinha quatro anos, o casamento de seu pai, o turbulento dom Pedro I, com uma bela jovem de 16 anos, a princesa Amélia de Leuchtenberg, deu-lhe, durante muito pouco tempo, o carinho materno de que necessitava – mas logo foi privado dele, pela abdicação do pai, em 1831, e a transferência do casal para Portugal. Em 1834 morreu também Pedro I, mas o príncipe manteria a vida toda uma relação afetuosa com dona Amélia, a quem sempre chamava, em sua correspondência, de "querida mamãe".
A criança a quem a ama, dona Mariana de Magalhães (futura condessa de Belmonte), teve de segurar no colo, levantando-a sobre uma amurada construída no balcão do Paço para que pudesse acenar ao povo no dia de sua aclamação como imperador do Brasil, fora confiada às mães brasileiras por dona Amélia, para que "cuidassem de seu pequeno, assim como zelavam por seus próprios filhos" – sob a tutela do austero José Bonifácio, e mais tarde sob a de Manuel Inácio de Andrade Souto Maior, marquês de Itanhaém. O pequeno príncipe foi submetido a um severo regime de estudos e disciplina diária, e podia estar com as irmãs somente uma hora por dia, passando o resto do tempo entre adultos empertigados – enquanto lá fora, no imenso território brasileiro, ferviam revoltas e turbulências. O período da Regência, especialmente os anos do governo Feijó, foi o mais difícil na história do Império, debatendo-se a nação entre as várias facções políticas que se opunham à centralização do poder.
Transformado prematuramente em "monarca símbolo da união de seus concidadãos e da integridade do Império" (como diziam os jornais da época), o menino tímido a quem negaram o direito à infância imbuiu-se precocemente do papel que tinha de representar – pois não se chamava ele petrus, como aquele seu homônimo, o pescador da Galiléia, a pedra sobre a qual Cristo edificara sua Igreja?
A esse papel, de esteio da união nacional e da continuidade bragantina, ele se ajustou, forçando a própria natureza, a vida toda. Como dizia Gilberto Freyre, "esse pobre querido dom Pedro que da meninice não colheu nenhum sabor e nem da mocidade nenhum encanto, tão cedo se abafaram nele todas as alegrias de viver, primeiro sob as sombras da vida de príncipe e logo sob as dobras hieráticas do manto de imperador".
Um rapaz infeliz
O acaso das minhas leituras me fez deparar, há algum tempo, com um precioso retrato do jovem imperador (18 anos) e de sua corte, em 1843 – no próprio ano e poucos meses antes do seu (infeliz) casamento. Um documento até hoje não citado por nenhum de seus biógrafos, ao que eu saiba: trata-se do Diário da Baronesa E. de Langsdorff, correspondente ao período 1842-1843 – livro somente publicado em 1954, na França, portanto 111 anos após ter sido escrito, e em 1999 no Brasil, pela Editora Mulheres, de Florianópolis.
Sua autora, Victorine Emilie, era casada com um diplomata francês, o barão Emile de Langsdorff, e o casal cumpriu no Brasil uma missão importante – vieram para preparar o noivado e assistir ao casamento do príncipe de Joinville com a princesa dona Francisca, irmã de dom Pedro II, e depois acompanhar o nobre par até a França. Esse Langsdorff não deve ser confundido com outro barão de Langsdorff (Georg Heinrich), alemão de nascimento, que também exerceu funções diplomáticas no Brasil desde 1813, representando o governo da Rússia. E que organizou e realizou uma expedição científica, muito famosa e trágica, pelo interior do Brasil, de 1824 a 1829 (ver "Tesouro inestimável", PB nº 342).
É um livro precioso. Valiosíssimo documento de sua época, observada dos dois lados do Atlântico, nas cortes da França e do Brasil. Estabelece o paralelo entre os dois mundos, atesta como "os primos do Brasil" eram vistos pelos da Europa – como inferiores, uma espécie de "bons selvagens", de "maneiras meio simplórias", "crianças" que não haviam ainda adquirido todo o verniz protocolar exigido entre a nobreza européia. A principal missão da baronesa seria realmente a de preparar a jovem princesa brasileira para viver na corte da França, ensiná-la a se vestir e a se comportar como digna consorte do primo, pois, segundo afirmava o próprio príncipe de Joinville em carta ao barão de Langsdorff, sua noiva somente teria a lucrar "tendo junto dela uma dama puramente francesa, habituada ao convívio social, a seus modos, a essa polidez, a essa urbanidade que são para nós o emblema da boa sociedade".
A primeira impressão que a baronesa tem do Paço de São Cristóvão, onde reside a família imperial, é de surpresa diante da singeleza das "grandes salas vazias e salões bem amplos, sem decoração". Logo depois, ela é separada do marido e conduzida a um aposento para aguardar a princesa dona Francisca, pois "as mulheres não são apresentadas ao imperador"; somente eram admitidas ao ritual "beija-mão", para depois se sentarem, mantendo-se "absolutamente caladas" – nessa cerimônia tradicional das cortes portuguesas, realizada todas as noites no Paço, os cortesãos faziam fila e reverenciavam o imperador com flexão do joelho, em sinal de submissão e como permanência implícita da teoria do direito divino dos reis. O próprio dom Pedro II resolveu aboli-la na década de 1870, após sua primeira viagem à Europa.
Descrevendo uma tediosa recepção no Paço, a baronesa nos dá detalhes bem curiosos: "Foram servidos como refresco alguns copos de água e, num prato muito pequeno, algumas bolinhas de marzipã". E conta como, sempre de olhos no chão, esmagado pelo peso de uma enorme timidez, o jovem monarca costumava "colocar-se em um canto, as costas voltadas de maneira a não ver nenhuma mulher, fazendo de seus ministros e camareiros, para maior segurança, uma muralha de proteção". Impressiona-a muito em dom Pedro a fisionomia de criança, "a voz que ainda é mais criança do que seu rosto, e a estatura, grande demais e que não condiz com o que aparenta", mas diz que sua figura se impunha, e que ele era capaz de conduzir bem uma corte em que predominava "uma mescla de tom teatral e de espontânea singeleza".
Em seu excelente livro As Barbas do Imperador, Lilia Schwarcz analisa toda a iconografia da vida de Pedro II, estabelecendo o paralelo entre suas várias imagens e a intenção de satisfazer sempre o que melhor convinha ao imaginário de seus súditos – variações sobre uma nota só, a da autoridade majestosa e paternal, idealizada e etérea nos retratos da infância e da adolescência, e mais tarde ajustada à simplicidade de um rei-cidadão. Diz a historiadora que o conjunto dessas imagens fabricadas para divulgação, no Brasil e no exterior, "passa a delinear um traço que acompanharia a representação de dom Pedro pelo resto de sua vida: a dissimulação".
Em 1843, a baronesa de Langsdorff confirma plenamente isso, ao descrever o aspecto glacial, cerimonioso e rígido que toda a corte assumia diante do monarca: "...quando o imperador chega, todo o gelo que se derretera novamente se congela: estabelece-se o silêncio. [...] Até que ele dê o sinal, seja de levantar, seja de falar, sentimo-nos pregados no lugar, e uma força irresistível nos obriga ao silêncio". E escrevia, dele: "Parece esmagado sob a profusão de seus conhecimentos, não tem movimento nem imaginação. É uma espécie de monstruosidade num jovem de 18 anos".
O rei se diverte
Algumas passagens do diário da baronesa nos revelam, porém, o que transparecia às vezes sob a rígida máscara daquele "déspota bem-comportado". Certos detalhes de uma falta de educação, de uma certa selvageria, mesmo, na vida diária da corte. Por exemplo: somente sentavam-se à mesa para comer o imperador e as irmãs, enquanto todos os convidados (em uma passagem vemos que o próprio príncipe de Joinville, seu primo, não gozava desse privilégio) permaneciam ao redor, olhando-os comer, no mais absoluto silêncio. Mas ele não gastava mais do que dez minutos à mesa. Levantava-se então abruptamente, e as irmãs o seguiam, enquanto os convivas eram autorizados a comer – só que quase imediatamente requisitava a presença de todos, que tinham de acorrer, mal agüentando a fome.
O príncipe de Joinville, seu futuro cunhado, era a única pessoa com quem o jovem conversava naturalmente. Numa ocasião perguntou-lhe se na França falava-se durante as refeições, e diante da resposta afirmativa ficou espantado e disse: "Eu queria muito falar um pouco, mas não que me falem, porque prefiro escolher um momento para falar – pois, se me fosse preciso responder enquanto estou com a boca cheia, como o faria?"
Um grave problema para o menino amadurecido à força – mas que, como todo reprimido, às vezes explodia em acessos de ira ou até, raramente, de alegria. Um dia, aos 15 anos, dera um soco nas costas da mana Francisca, porque ninguém podia dar as costas ao imperador. E no dia 28 de abril de 1843 – merecendo registro da baronesa –, a bordo da fragata francesa Belle Poule, o menino reaparece, por trás das pompas imperiais, e dom Pedro adere ao clima festivo, participa de brincadeiras com as irmãs e os convidados – e ri, que milagre!: "O imperador ria, como suas irmãs, pelo menor motivo e de pé, os braços pendentes, onde a alegria o tomasse, detinha-se e desatava em um riso desabrido, sem se esconder, sem se mostrar, mas abandonando-se a uma felicidade sem inquietação nem constrangimento". E comenta a testemunha ocular de tão insólito fato: "Pobres crianças! É bem verdade que fazia seis anos que não riam assim..."
Mais: no clima de hilaridade generalizada, a princesa dona Francisca inventa que deviam fazer "um jantar ao inverso", começando pelo café com pepinos, depois doces, e por fim uma costeleta. Dom Pedro concorda e diverte-se tanto que acaba por perder a compostura e fazer bolinhas de pão para atirar nos convidados – desta vez, ao que parece, autorizados a sentarem-se com a família imperial. Vai mais longe – diz que seria justo deixar que, depois deles, os camareiros e oficiais jantassem, mas, "quando estiverem na sobremesa, poderemos jogar bolinhas neles pela clarabóia". Os cortesão concordam, todos sobem para o convés, e o ex-sisudo dom Pedro II inicia o ataque pela clarabóia: "...sem mais esperar, lançou bolinhas e mais bolinhas e pepinos, e depois água e vinho... e depois, sem tardança nem descanso, tudo o que lhe caía nas mãos". A tripulação, atacada por semelhante bombardeio, respondia com "bolinhas, bananas, e depois tudo mais voava pelos ares, sem que se pudesse ver de onde vinha". Ao perceber que estavam todos manchados, molhados, em estado lamentável, Sua Majestade dizia, com um ar bem infantil: "Eu me diverti muito!"
Na extraordinária série de folguedos do dia, vemos ainda como serve de cúmplice a um prestidigitador, escondendo no bolso de seu colete uma moeda, mas mantendo "uma fisionomia impassível". Diz a escritora: "Seguramente, jamais vi uma simulação tão completa. Seu espanto (ao encontrar a moeda no colete) foi tão bem representado que dificultaria, no futuro, que se confiasse cegamente na sua fisionomia" – a "dissimulação" a que se refere Lilia Schwarcz.
O "mártir da política"
De todo o seu poder de dissimulação teria necessidade, apenas alguns meses mais tarde, o jovem monarca, para reprimir seu desapontamento ao conhecer aquela princesa napolitana, sua prima Teresa Cristina Maria, princesa das Duas Sicílias, com quem já se casara, por procuração. Contrariando os retratos a óleo que mandara, e que haviam estimulado os sonhos do rapaz, a princesa era baixa, "quase uma anã", segundo alguns biógrafos, gorda, coxa e feia. Dessa vez, parece que o imperador perdeu a impassibilidade, pelo menos na esfera dos íntimos, pois foi lamentar-se e até mesmo chorar no ombro da Dadama (a ama, dona Mariana) e do mordomo imperial, Paulo Barbosa da Silva. Ambos o encorajaram a lembrar-se da "dignidade do cargo" e instaram para que "cumprisse seu dever". O que acabou por fazer, pois viveu aparentemente bem com a esposa, a quem sempre respeitou, e que lhe deu quatro filhos. Teve amantes, sem dúvida, mas com grande discrição – Schwarcz, Azevedo Sodré e outros biógrafos citam várias, e filhos naturais também, aos quais ele costumava distribuir o nome de "Alcântara Brasileiro". E o semi-secreto e intenso caso amoroso com a condessa de Barral – do qual ainda não se sabe muita coisa, mesmo após a publicação, em 1999, do Diário do Imperador Dom Pedro II, pelo Museu Imperial de Petrópolis.
Não se pode dizer, do Segundo Reinado – como fizeram Pedro Calmon e Oliveira Vianna, por exemplo –, que tenha sido unicamente uma época mítica de paz, prosperidade e progresso, sob o governo de uma "figura exemplar". Nem cair na crítica radical, como a do historiador Manoel Bomfim, que via no "continuísmo bragantino" apenas "o reino da insinceridade, do embuste, da dissimulação, da traição, da degradação e da corrupção". Foi um período rico, complexo, em que se delinearam muitos dos parâmetros que nos regem até hoje, e do qual ressalta a figura de um "pobre querido dom Pedro, que não foi santo nem anjo, nem herói", mas que "teve uma grande vida, dramaticamente ligada à vida do Brasil" – como dizia Gilberto Freyre, celebrando o centenário de seu nascimento, em 1925.
Um homem bom, bem-intencionado, digno, que amou demasiadamente os livros, talvez, e conduziu muitas vezes um tanto frouxamente a nação turbulenta que lhe fora confiada; e em outras exerceu sobre seus súditos um poder autoritário, de censor moralista, retrógrado, bastando lembrar o lápis fatídico que usava para vetar, na lista de promoções, aqueles sobre cujo comportamento moral ou social pesava alguma suspeita – o próprio barão do Rio Branco viu sua carreira diplomática prejudicada pelo crime de ter casado com uma atriz francesa. Mas o principal defeito de nosso segundo imperador parece ter sido, como atestam suas memórias, escritas em 1862, o de representar sem muita convicção ou paixão o papel dinástico que lhe fora imposto: "Nasci para consagrar-me às letras e às ciências; e, a ocupar posição política, preferiria a de presidente da República ou ministro à de imperador. Se ao menos meu pai imperasse, ainda estaria eu há 11 anos com assento no Senado e teria viajado pelo mundo".
Soneto do dia 15
Seu Deodoro, tem gente,
Mas já sai agora mesmo.
Pensa que não tenho sangue?
Eu tenho sangue, mas frio.
Cedo o império brasileiro
Ao dito das circunstâncias.
Só levo daqui saudades.
Justiça aguardo de Deus.
Pensão não quero, obrigado.
Tratem bem de meus moleques.
Estou fazendo um soneto:
O papel está acabando,
Chego já no último verso,
Já lhe cedo o meu lugar.
Poema humorístico de Murilo Mendes (1932, História do Brasil), sobre o fim da monarquia
Cânticos do norte
Tu que voltas do mar aos Cânticos do Norte
tu, que vens embalado aos hinos do país
Podes e deves crer no público transporte
Como dizer de luz que o povo te prediz
Bem-vindo! diz-te o povo e a frase poderosa
É como que fermente a tríplice oração
Ouve-a tu, que possuis um anjo de esposa
Por mãe a liberdade e um povo como irmão.
Trecho de poesia composta em 1860, em honra do imperador, por um poeta de 21 anos – Joaquim Maria Machado de Assis. Para sorte nossa, e da literatura brasileira, o jovem poeta passou logo a dedicar-se exclusivamente à prosa de ficção.
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