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Postado em 05/12/2006

REVISTA E Dezembro - 2006

 

 

 

 

BRINCAR E EDUCAR - SERÁ QUE É POSSÍVEL?

 

 

por Maria Fernanda Loureiro de Azevedo

 

 

Ilustrações: www.marcosgaruti.com

 

 

Há 11 anos, quando ainda estava no processo de seleção para instrutora de atividade do Sesc, disseram-me que eu iria trabalhar no Sesc Curumim: um programa para crianças de 7 a 12 anos que tinha como foco a ludicidade. Curiosa, fui à unidade de São José dos Campos, onde li um folheto que explicava melhor o programa: "Nem escola, nem creche, nem centro de recreação. O Curumim não se adapta a essas definições. Apresenta-se como um espaço de desenvolvimento global da criança. Espaço de descoberta, invenção, criação, aventura, aprendizagem e relacionamento. Tudo feito de forma lúdica, respeitando o que a criança tem de mais característico: o ato de brincar". Apesar dos meus dez anos de experiência como professora em escolas formais, fiquei insegura e tive grandes dúvidas: será que eu, pedagoga, vou conseguir só brincar com as crianças? Será que brincar e educar ao mesmo tempo é realmente possível? Como se dará a construção do saber? A sensação de dúvida e desafio se misturou; porém, a vontade de começar essa nova aventura superou o medo do desconhecido.



Comecei o trabalho com cuidado, pois o novo e o desconhecido sempre inspiram cautela. Mas, esta logo se transformou em entusiasmo, em vontade de aventurar-me e descobrir diariamente o que podia ser feito de diferente. Claro que tudo isso foi possível por estar fora dos muros escolares e dentro de um ambiente como o Sesc, que oferece ao profissional oportunidade de aprender com suas experiências e na troca com outros - além de termos liberdade de educar para a vida, para a cultura, para o mundo e não para a prova ou nota final.



A experiência dentro desse programa ofereceu a possibilidade para que eu retornasse à infância, reaprendendo a brincar - o que favoreceu meu amadurecimento profissional. Fez com que eu me tornasse uma educadora facilitadora para as crianças que estavam ali, naquele espaço, para conviver e crescer com os outros. Ao longo desse trabalho, percebi que, apesar de minha dúvida inicial, um programa como o Curumim permite ao pedagogo - que, antigamente, significava o escravo condutor de crianças à escola - libertar-se e promover o processo de crescimento sadio da criança.



Nesse programa educativo em que o essencial é o lúdico somado ao respeito à criança, o educador precisa ser flexível para sair de sua área específica: vencer diariamente o desafio de criar uma atividade lúdica, mesmo que de outra área, ou, simplesmente, não desenvolver o que tinha programado, em função de uma atividade que se revela de maior importância e interesse, proposta pelas crianças.



O contexto em que ocorre o saber nessa forma de educação não está em nenhum programa preestabelecido por adultos especialistas. Está na roda - reunião de todas as crianças -, embaixo da sombra de uma árvore, em uma quadra de esportes, ou no palco de um teatro. Nesse espaço, promove-se o diálogo, a discussão do que vai acontecer, como e por que: as crianças têm espaço para opinar, decidir, enfim, participar ativamente. Assim, apesar de a palavra de ordem ser o brincar, o educador não esquece a responsabilidade de promover o ambiente educativo, de refletir sobre sua prática, pois, como dizia Paulo Freire, "Pensar a prática é a melhor forma de aperfeiçoá-la".



Por fim, mesmo não atuando mais como instrutora do Curumim, as minhas dúvidas iniciais tiveram respostas positivas ao longo desse período. Trago comigo tudo o que aprendi com essa experiência pedagógica que, comprovadamente, valoriza o indivíduo e favorece seu crescimento ao dar importância aos momentos de prazer no coletivo, ao autoconhecimento, ao reconhecimento de seu papel de cidadão e ao respeito do outro em suas diferenças.

 

 

Maira Fernanda Loureiro de Azevedo, Pedagoga, é coordenadora do Centro de Desenvolvimento Infantil (CEDEI), para filhos do Sesc, Senac e Fecomércio

 

 

 

 

 

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