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Segurança e Moderação

Postado em 01/04/1999

José Aparecido de Oliveira Fernandes

Recentemente, o SESC São Paulo realizou o Projeto SESC Verão 99, com uma vasta programação em todas as suas unidades. Oferecendo aos matriculados e à comunidade em geral opções de lazer em contato direto com a natureza, as atividades incluíram trilhas, canoagem, mergulho, rafting e uma gama de outras com o mesmo conceito. O que ficou patente foi o enorme interesse das pessoas em vivenciar experiências que ensejem um contato com o mundo natural ou com o que ainda resta dele neste final de milênio, haja visto os tristes exemplos do rio Tietê, da mata atlântica e da poluição de incontáveis praias do litoral brasileiro. É para ficarmos apreensivos.

Enquanto existir terra, ar e água e a estes elementos conseguirmos agregar as belezas que a natureza nos oferece, poderemos ter um cenário ideal para a prática de modalidades que escapam um pouco do convencional e proporcionam aos praticantes boas doses de adrenalina.

Seja no ar, em queda livre, debaixo d'água ou nas trilhas dos campos e montanhas, os praticantes buscam, mais que condicionamento físico, uma certa higiene mental e espiritual, na medida em que descobrem na modalidade escolhida uma mistura de prazer e medo.

Quem já passou pela experiência de olhar o céu e apreciar o tranqüilo traçado de asas deltas e paragliders de panos multicores deve ter se admirado e surpreendido com a sensação de liberdade que esses objetos voadores sugerem. Sentiu, com certeza, uma ponta de inveja e admiração por aqueles que os estavam conduzindo.

Quando participamos pela primeira vez de uma trilha, de um passeio de canoa ou rafting, salta aos nossos olhos a quantidade de vida selvagem e a diversidade da flora que há em nossas matas, rios e mangues. A força mágica da experiência nos dá a sensação de, por algumas horas, conseguirmos ser parte integrante daquele ambiente exuberante, primitivo, ancestral.

Ao vestirmos traje de mergulho adentramos num mundo fascinante, de experiências únicas, em que a simples possibilidade de locomoção tridimensional já excita nossa mente. Movimentos leves, suaves, suficientes para a mudança de direção ou de profundidade, a sensação da falta de peso aliada ao contato com um meio mais denso propiciam-nos a possibilidade de "voar". O silêncio só é interrompido por poucos ruídos externos e internos. Torna-se possível, então, ouvir as batidas de nosso próprio coração. Experiência quase mística, aprendemos a conhecer nossas próprias limitações, em que o respeito pelas leis da natureza é a única condição imposta para o usufruto desse outro mundo, dessa estranha dimensão.

Para muitos, os que não as praticam, essas modalidades são esportes malucos, coisa de gente doida, desajuizada. A realidade mostra, porém, que todas exigem uma preocupação fundamental: segurança.

Equipamentos de qualidade, orientação especializada e treinamento adequado são exigências básicas para a prática des-ses esportes, cuidados que devem ser tomados pelos aficionados de qualquer sexo, idade e opção esportiva. Embora poucos saibam, o ciclismo é a modalidade que apresenta o maior índice de acidentes fatais. Por mais inofensivo que possa parecer, o excesso de familiaridade com o veículo nos induz a um sentimento de exagerada segurança e desatenção com os equipamentos e condutas básicas de segurança, no trânsito das cidades ou nas trilhas das matas.

Dessa forma, vale a pena investir em equipamentos de segurança de qualidade, o que não significa, necessariamente, serem os mais caros. A participação em treinamentos adequados com profissionais reconhecidamente habilitados é fundamental para a aquisição e a manutenção de um elevado nível de consciência e também de um condicionamento físico e mental adequado às práticas.

Neste contexto, a palavra chave é moderação. De nada adianta o exagero na tentativa de superação dos próprios limites, pois a evolução é sempre gradativa, lenta, progressiva, exigindo suor e até perseverança, mas sempre com o bom senso mediando e arbitrando nossas ações.

Muitas vezes, em novas turmas de mergulho, é surpreendente a quantidade e qualidade das fobias apresentadas pelos iniciantes, com toda certeza oriundas de filmes como Tubarão, Titanic, Mistérios do Abismo etc. A pergunta que sempre surge é: qual o maior perigo para os praticantes desses esportes?

A resposta serve como alerta: com toda certeza, o maior perigo é o excesso de confiança, que nos leva a subestimar as forças da natureza e a acreditar que elas são previsíveis. Outro fator é o desconhecimento de nossas próprias capacidades e habilidades, o que conduz a acidentes que poderiam ser facilmente evitados.

A prática desses esportes propicia experiências únicas, raras, que não são acessíveis à maioria dos mortais. Quem os elege como esporte de sua preferência sente-se como personagem de histórias fantásticas. É fundamental a observação das regras básicas de segurança para que tais histórias não se tornem tristemente exemplares.

José Aparecido de Oliveira Fernandes é professor de Educação Física, mergulhador Master pela NASDS e assistente técnico do SESC em Santos


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