Postado em 01/10/2005
Os festivais de MPB, que revelaram alguns dos mais geniais intérpretes e compositores brasileiros, ganham agora novo fôlego e cumprem o papel de renovar a cena musical
A lista é infindável. Chico Buarque, Baden Powell, Elis Regina, Vinicius de Moraes, Tom Zé... Além de pertencerem à fina flor da música brasileira, todos passaram pelos famosos festivais de música popular da década de 60, com maior ou menor êxito nas competições, onde foram imortalizados. Levados ao ar primeiramente pela TV Excelsior e depois pela Record, o primeiro deles foi realizado em 1965 pelo produtor Solano Ribeiro e entrou para a história da música com a inesquecível performance de Elis cantando Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius.
No do ano seguinte, já realizado pela Record, a vencedora foi A Banda, de Chico Buarque, interpretada na ocasião por Chico e Nara Leão. Em 1967 deu Ponteio, de Edu Lobo e Capinam. Alegria, Alegria, de Caetano também é dessa época. Em 1968, surgiu Tom Zé cantando, de sua autoria, São, São Paulo Meu Amor. Enfim, um repertório que atravessou o tempo – passou do vinil para o CD e certamente está no MP3 player de muita gente, inclusive dos mais jovens.
O último festival de grandes proporções foi ao ar, pela TV Globo, em 1985, e quem tem por volta de 30 anos certamente se lembra da canção vencedora, Escrito nas Estrelas, de Arnaldo Black e Carlos Rennó, interpretada por Tetê Espíndola. Depois disso, a já devidamente intitulada MPB perdeu uma valiosa forma de mostrar ao público suas novas gerações. Teriam os festivais saído de moda na era das novidades? “Mas o que é novidade?”, pergunta Solano Ribeiro. “O Festival de San Remo [realizado na cidade de mesmo nome, ao norte da Itália, desde 1946] existe há mais de 50 anos e ninguém pergunta se aquilo é novidade ou não. Há quem ache que a fórmula é antiga. Mas que fórmula? Não existe isso. Existe fórmula mais antiga que o teatro?”
Foi apostando na comprovada “fórmula” que em 1998 a Rádio Eldorado criou o Prêmio Visa de Música Brasileira. A idéia deu certo de novo. O evento está em sua oitava edição e teve semifinal realizada no Sesc Vila Mariana. Há mudanças em relação aos seus “antepassados”, mas o resultado é parecido: revelar e/ou dar visibilidade a bons músicos e intérpretes de todo o País. Só para citar alguns exemplos, nomes como Mônica Salmaso (primeiro lugar na categoria vocal em 1999), Dante Ozzetti (primeiro lugar como compositor, em 2000) e Yamandú Costa (instrumentista vencedor, em 2001) passaram por ele. “O grande diferencial do Prêmio Visa em relação ao formato tradicional dos festivais de música é que a análise e a seleção dos artistas são feitas em diferentes etapas”, explica Isabel Borba, diretora-executiva da Rádio Eldorado. “E em cada uma delas o candidato tem a oportunidade de mostrar ao público e aos jurados diversas vertentes de sua obra.” O resultado, segundo Isabel, é medido na prática pelo número crescente de inscritos a cada ano (de 1.893, em 2002, para 9.772 inscritos, em 2005), nas diferentes categorias. “E pelo público que desde a sétima edição tem estado presente lotando as apresentações”, afirma.
Neste ano a TV Cultura criou o Festival Cultura – A Nova Música do Brasil. Na organização, o mesmo Solano Ribeiro e na platéia um entusiasmo bem parecido com o dos eventos de antes. O que muda são os nomes no palco. Mas era isso mesmo que todos esperavam. “É a tentativa de uma retomada”, conta Solano. “A idéia de fazer o festival foi exatamente porque ele é motivador de ação, e o objetivo era revelar a música brasileira atual, com a possibilidade de abrir espaço para novos talentos, novos compositores e novos intérpretes.” Também nesse caso o Sesc aparece oferecendo o palco do teatro da unidade Pinheiros e todas as condições técnicas necessárias, nas fases semifinal e na final do evento. “No palco do Sesc foi possível apresentar uma música sutil, sem grandes amplificações”, explica o organizador. “O último festival que eu fiz foi num ginásio, mas naquela época eles tinham pique e uma linguagem a ser buscada para ser apresentados em ginásio.
Hoje, nós optamos pela sutileza, para mostrar uma música acústica, uma música um pouco mais bem elaborada em termos de instrumentação, que é o tipo de música que a gente quer que as pessoas ouçam de novo. É preciso que as pessoas prestem mais atenção na música”, conclui.