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Quadrinhos

Postado em 12/04/2006

Revista E- Abril 2006

 

 

Arte quadro a quadro

Forma de expressão popular, a HQ, seja clássica, moderna, assustadora ou engraçada, atrai gerações de crianças e adultos desde sua invenção

O brasileiro conhece e consome histórias em quadrinhos, as HQs, há mais de um século. A vovó delas por aqui se chama As Aventuras de Zé Caipora, e data de 1884, um dos muitos frutos da imaginação de Angelo Agostini, italiano radicado no Brasil e considerado pioneiro do gênero. Em 1905, a divulgação do estilo ganhou força com o lançamento do almanaque infantil O Tico Tico. É verdade que boa parte do conteúdo vinha importado dos Estados Unidos - eram personagens como Buster Brown e seu cão Tige, de Richard Outcault, que aqui receberam os brasileiríssimos nomes de Chiquinho e Jagunço. Com o tempo, porém, a revista acabou abrindo espaço para o talento nacional. Entre eles J. Carlos, criador de Melindrosa e Lamparina, que também desenhou para a revista Careta; Max Yantok, de Joca Bemol, Barão de Rapapé e Chico Muque; e Alfredo Storni, com suas Aventuras de Zé Macaco. Mais tarde se juntaria a eles ainda o desenhista Luiz Sá, criador dos famosos Reco-Reco, Bolão e Azeitona - personagens-símbolo da revista O Tico Tico. Em 1939, o grupo Globo, de Roberto Marinho, começou a publicar a revista Gibi, que se popularizou a ponto de seu nome virar sinônimo de HQ no Brasil. No início dos anos 40, a revista O Cruzeiro lança um dos personagens mais conhecidos dos brasileiros - na época e ainda hoje -, O Amigo da Onça, criação de Péricles de Andrade Maranhão que também foi publicada na revista O Gury, de propriedade de Assis Chateaubriand. Durante a década de 50, quando as novelas de rádio usaram e abusaram da figura do herói no imaginário coletivo, personagens masculinos, galantes e justiceiros ganharam suas versões impressas nos traços de Jerônimo, o Herói do Sertão, de Moisés Weltman e Edmundo Rodrigues, e O Vingador, de Péricles Amaral e Fernando Dias da Silva. Em 1959, o cenário nacional se complementa com o lançamento da revista Pererê, de Ziraldo - com inspiração na cultura popular e na fauna brasileira, e personagens como o Saci, a onça, o jabuti e o tatu. No início dos anos 60, Mauricio de Sousa marca a história da HQ no Brasil ao criar a galeria de personagens da Turma da Mônica, enquanto no período da ditadura militar brasileira o jornal O Pasquim deu espaço para uma geração poderosa de desenhistas de humor subversivo. Entre eles, Henfil, Jaguar e Millôr Fernandes. Foi em O Pasquim que Henfil mostrou personagens que marcaram os quadrinhos nacionais, como a Graúna e Os Fradins.


Foi essa história, e principalmente seus atuais desdobramentos, o enfoque das discussões do projeto Lá Vêm as Tiras, realizado pelo Sesc Pinheiros durante o mês de março. A programação contou com bate-papos profissionais da área, exibição de curtas ligados ao gênero, e oficinas de desenho, criação, roteirização e edição de HQs para adultos e crianças.(veja boxe: Espaço reservado)


Parte escrita
Entre as atividades que mais atraíram o público no Lá Vêm as Tiras, as oficinas acabaram se destacando por revelar as técnicas da criação das HQs. As aulas ensinaram a criar e desenhar personagens, e ainda a construir os textos. Segundo o jornalista, roteirista e crítico de quadrinhos Ricardo Giassete, que ministrou a oficina de roteiro no evento, é preciso seguir três passos básicos para escrever para o gênero. Primeiro é necessário pensar que história se quer contar e resumir isso num pequeno texto, de três linhas no máximo. "Chamamos isso de story line", explica. "É mesmo a espinha dorsal da história, quem faz o que e quando." Em seguida é a vez de se aprofundar um pouco mais e criar uma sinopse. Algo parecido com o que encontramos na contracapa de um filme na locadora. "Um texto de cerca de três parágrafos que vai adiantar ao leitor um pouco mais do que ele vai encontrar". Por último, cria-se o argumento. Aí, a coisa parece ficar mais difícil, mas não é nenhum bicho-de-sete-cabeças. Trata-se, na verdade, de finalmente unir todos os elementos selecionados, já com os personagens e as situações. "É aí que se delineia a estrutura da história. Por exemplo: se ela será contada de forma linear, ou seja, respeitando uma ordem cronológica direta; se vai ter flashbacks [momentos em que a narrativa volta no tempo]; ou se começará no presente e voltará ao passado", diz Giassete
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Já para criar os personagens é preciso pensar nos detalhes. Afinal de contas, uma das coisas mais interessantes numa história em quadrinhos é justamente a possibilidade de inventar seres, que, embora existam somente na ficção, pensam, agem e reagem de acordo com sua personalidade. "O primeiro passo é a descrição física", afirma o roteirista. "É saber se o personagem vai ser gordo, magro, narigudo, enfim. Depois é a vez de criar o que chamamos de estrutura psicológica, que é dar substância humana a ele." Em outras palavras é definir se o personagem será mais bravo ou mais calmo, distraído, ranzinza. Enfim, o que a imaginação for capaz de elaborar para ele.








Saiba mais:
www.terra.com.br/cybercomix
www.hqmix.com.br
www.universohq.com
www.galeriahq.hpg.ig.com.br



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veja boxe:
Espaço reservado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Espaço reservado

Sesc Vila Mariana tem área destinada aos amantes da HQ


Desde janeiro de 2005, o Sesc Vila Mariana oferece aos interessados um espaço especialmente voltado para a história em quadrinhos e suas diversas variações. No Quadrinhando, projeto que a cada dois meses ocupa o átrio da unidade, os aficionados encontram revistas, livros especializados, participam de oficinas e trocam idéias sobre o universo desse gênero consagrado em todo o mundo. A grade de atividades a cada edição acontece sob um tema. Em março, o enfoque foram os quadrinhos feitos por mulheres, e discutiram-se trabalhos da iraniana Marjani Satrapi, da argentina Maitena e da brasileira Edna Lopes. Fez parte da programação também a oficina Quadrinho na Sala de Aula como Instrumento Pedagógico, ministrada por Lucimar Mutarelli, mulher do quadrinista Lourenço Mutarelli e professora de história da arte. O próximo Quadrinhando será em maio, é só ficar de olho no Em Cartaz.

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