Forma
de expressão popular, a HQ, seja clássica, moderna, assustadora
ou engraçada, atrai gerações de crianças e
adultos desde sua invenção
O brasileiro conhece
e consome histórias em quadrinhos, as HQs, há mais de um
século. A vovó delas por aqui se chama As Aventuras de
Zé Caipora, e data de 1884, um dos muitos frutos da imaginação
de Angelo Agostini, italiano radicado no Brasil e considerado pioneiro
do gênero. Em 1905, a divulgação do estilo ganhou
força com o lançamento do almanaque infantil O Tico Tico.
É verdade que boa parte do conteúdo vinha importado dos
Estados Unidos - eram personagens como Buster Brown e seu cão Tige,
de Richard Outcault, que aqui receberam os brasileiríssimos nomes
de Chiquinho e Jagunço. Com o tempo, porém, a revista acabou
abrindo espaço para o talento nacional. Entre eles J. Carlos, criador
de Melindrosa e Lamparina, que também desenhou para a revista Careta;
Max Yantok, de Joca Bemol, Barão de Rapapé e Chico Muque;
e Alfredo Storni, com suas Aventuras de Zé Macaco. Mais tarde se
juntaria a eles ainda o desenhista Luiz Sá, criador dos famosos
Reco-Reco, Bolão e Azeitona - personagens-símbolo da revista
O Tico Tico. Em 1939, o grupo Globo, de Roberto Marinho, começou
a publicar a revista Gibi, que se popularizou a ponto de seu nome virar
sinônimo de HQ no Brasil. No início dos anos 40, a revista
O Cruzeiro lança um dos personagens mais conhecidos dos
brasileiros - na época e ainda hoje -, O Amigo da Onça,
criação
de Péricles de Andrade Maranhão que também foi publicada
na revista O Gury, de propriedade de Assis Chateaubriand. Durante
a década de 50, quando as novelas de rádio usaram e abusaram
da figura do herói no imaginário coletivo, personagens masculinos,
galantes e justiceiros ganharam suas versões impressas nos traços
de Jerônimo, o Herói do Sertão, de Moisés
Weltman e Edmundo Rodrigues, e O Vingador, de Péricles Amaral
e Fernando Dias da Silva. Em 1959, o cenário nacional se complementa
com o lançamento da revista Pererê, de Ziraldo - com
inspiração na cultura popular e na fauna brasileira, e personagens
como o Saci, a onça, o jabuti e o tatu. No início dos anos
60, Mauricio de Sousa marca a história da HQ no Brasil ao criar
a galeria de personagens da Turma da Mônica, enquanto no período
da ditadura militar brasileira o jornal O Pasquim deu espaço para
uma geração poderosa de desenhistas de humor subversivo.
Entre eles, Henfil, Jaguar e Millôr Fernandes. Foi em O Pasquim
que Henfil mostrou personagens que marcaram os quadrinhos nacionais, como
a Graúna e Os Fradins.
Foi essa história, e principalmente seus atuais desdobramentos,
o enfoque das discussões do projeto Lá Vêm as Tiras,
realizado pelo Sesc Pinheiros durante o mês de março. A programação
contou com bate-papos profissionais da área, exibição
de curtas ligados ao gênero, e oficinas de desenho, criação,
roteirização e edição de HQs para adultos
e crianças.(veja boxe: Espaço reservado)
Parte
escrita
Entre as atividades que mais atraíram o público no Lá
Vêm as Tiras, as oficinas acabaram se destacando por revelar as
técnicas da criação das HQs. As aulas ensinaram a
criar e desenhar personagens, e ainda a construir os textos. Segundo o
jornalista, roteirista e crítico de quadrinhos Ricardo Giassete,
que ministrou a oficina de roteiro no evento, é preciso seguir
três passos básicos para escrever para o gênero. Primeiro
é necessário pensar que história se quer contar e
resumir isso num pequeno texto, de três linhas no máximo.
"Chamamos isso de story line", explica. "É
mesmo a espinha dorsal da história, quem faz o que e quando."
Em seguida é a vez de se aprofundar um pouco mais e criar uma sinopse.
Algo parecido com o que encontramos na contracapa de um filme na locadora.
"Um texto de cerca de três parágrafos que vai adiantar
ao leitor um pouco mais do que ele vai encontrar". Por último,
cria-se o argumento. Aí, a coisa parece ficar mais difícil,
mas não é nenhum bicho-de-sete-cabeças. Trata-se,
na verdade, de finalmente unir todos os elementos selecionados, já
com os personagens e as situações. "É aí
que se delineia a estrutura da história. Por exemplo: se ela será
contada de forma linear, ou seja, respeitando uma ordem cronológica
direta; se vai ter flashbacks [momentos em que a narrativa volta
no tempo]; ou se começará no presente e voltará
ao passado", diz Giassete.
Já para criar os personagens é preciso pensar nos detalhes.
Afinal de contas, uma das coisas mais interessantes numa
história em quadrinhos é justamente a possibilidade de inventar
seres, que, embora existam somente na ficção, pensam, agem
e reagem de acordo com sua personalidade. "O primeiro passo é
a descrição física", afirma o roteirista. "É
saber se o personagem vai ser gordo, magro, narigudo, enfim. Depois é
a vez de criar o que chamamos de estrutura psicológica, que é
dar substância humana a ele." Em outras palavras é definir
se o personagem será mais bravo ou mais calmo, distraído,
ranzinza. Enfim, o que a imaginação for capaz de elaborar
para ele.
Saiba mais:
www.terra.com.br/cybercomix
www.hqmix.com.br
www.universohq.com
www.galeriahq.hpg.ig.com.br
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veja boxe:
Espaço
reservado
Espaço
reservado
Sesc
Vila Mariana tem área destinada aos amantes da HQ
Desde janeiro de 2005, o Sesc Vila Mariana oferece aos interessados
um espaço especialmente voltado para a história em
quadrinhos e suas diversas variações. No Quadrinhando,
projeto que a cada dois meses ocupa o átrio da unidade, os
aficionados encontram revistas, livros especializados, participam
de oficinas e trocam idéias sobre o universo desse gênero
consagrado em todo o mundo. A grade de atividades a cada edição
acontece sob um tema. Em março, o enfoque foram os quadrinhos
feitos por mulheres, e discutiram-se trabalhos da iraniana Marjani
Satrapi, da argentina Maitena e da brasileira Edna Lopes. Fez parte
da programação também a oficina Quadrinho na
Sala de Aula como Instrumento Pedagógico, ministrada por
Lucimar Mutarelli, mulher do quadrinista Lourenço Mutarelli
e professora de história da arte. O próximo Quadrinhando
será em maio, é só ficar de olho no Em Cartaz.
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