Postado em 01/02/1999
José Paulo Bersan
Uma vez mais a humanidade se vê às voltas com uma virada de século e de milênio e, do mesmo modo como a História já testemunhou, voltam a surgir as teorias apocalípticas que dão conta do horror que será a extinção do planeta. Não tão retumbantes como os indícios da catástrofe final, mas igualmente nocivas, pipocam aqui e ali as pequenas atitudes e os pequenos discursos derrotistas, ou antes pessimistas, que invadem as diversas searas da atuação humana. Não haverá comida para alimentar a todos, o colapso dos computadores trará perdas irreversíveis, a economia do planeta vai de mal a pior, o aquecimento global nos tornará tochas vivas e assim por diante. Desmontar a falácia de tais argumentos é uma atitude que recusa naturalmente a adoção de uma postura ingênua e ufanista, à la Pollyana, mas que aponta para um quadro seguramente mais otimista e alentador do que as terríveis ameaças descritas acima.
Um terreno sobre o qual também sopram estes ventos nefastos é o da odontologia no Brasil. Todos os dados disponíveis apontam para a precária situação da saúde bucal do brasileiro. Estamos longe de alcançar os índices mínimos estabelecidos pela Federação Dentária Internacional (FDI) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Entretanto, fatos importantes vêm acontecendo no Brasil levando-nos a acreditar que tal situação estará gradativamente revertida a médio prazo.
Sendo assim, em vez de tentarmos retirar dos dados pessimistas toda sua carga de dramaticidade obsessiva, "chorando por cima do dente arrancado", trataremos aqui de apontar inúmeras iniciativas bem-sucedidas no terreno das práticas odontológicas recentes adotadas no Brasil. São elas:
a) a fluoretação da água nos grandes centros urbanos;
b) o crescente consumo de cremes dentais fluoretados;
c) a expressiva diminuição dos preços dos serviços odontológicos;
d) a entrada no mercado de planos odontológicos subsidiados por grandes empresas;
e) a preocupação do setor em modernizar técnicas de prevenção e atendimento e de reciclar constantemente seus profissionais;
f) o aumento do número de campanhas de massa preventivas;
g) a expressiva circulação de informações pelos meios de comunicação, principalmente pela Internet, tornando disponíveis às instituições odontológicas e aos dentistas programas bem-sucedidos em diversos cantos do globo;
h) a preocupação em se criar campanhas de atestado resultado prático e não de fazer circular somente discursos bem intencionados, fadados ao campo da retórica vazia, como a condenação pura e simples do consumo dos refrigerantes e dos doces.
Ora, tal lista está longe de se configurar em uma carta de intenções. Antes, estas medidas – já em vigor – comprovam que com seriedade, determinação e, naturalmente, criatividade é possível combater eficientemente os males que afligem nossa saúde bucal.
Deste modo, caso venhamos a sobreviver a todas as catástrofes solenemente anunciadas, poderemos, em breve, largamente sorrir. Largamente sorrir um sorriso saudável.
José Paulo Bersan, administrador de empresas, é gerente do Sesc Odontologia