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Carta ao leitor

Postado em 01/10/1997

A fome, tema de capa desta edição, é companheira diária de todo ser humano. Provoca ruídos no estômago, faz brotar saliva na boca e torna qualquer alimento mais saboroso. Desde que haja comida no prato. Infelizmente, para parte expressiva dos brasileiros, o alimento às vezes tarda tanto a aparecer que, quando chega, não há mais saliva para recebê-lo nem paladar para saboreá-lo. Nos casos em que persiste, a ausência de comida causa apatia e doenças, quando não leva à morte. Sim, ainda se morre de fome no Brasil, país com uma das maiores áreas agricultáveis do planeta.

O objetivo da reportagem, no entanto, não foi apenas registrar essa triste realidade, que não é nova, mas também mostrar o que está sendo feito para enfrentá-la, no ano da morte do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, criador da maior campanha de combate à fome e à miséria já vista no país. Primeira constatação: o movimento iniciado por Betinho já não tem a mesma força. Os meios de comunicação, e com eles parte da população, abandonaram o assunto, como se não fosse mais necessário falar sobre ele. Mesmo assim, há quem encontre força de vontade suficiente para levar adiante iniciativas animadoras, como um restaurante paulistano que oferece comida barata e emprego para os moradores de rua. Ou como o sistema implantado em comunidades carentes de Brasília e Feira de Santana (BA), pelo qual alimentos subsidiados e crédito para geração de renda são trocados por um compromisso de atuação comunitária. Ou ainda projetos que se propõem a coletar e distribuir comida excedente de restaurantes e refeitórios de empresas.

Ao manter o dedo na ferida das desigualdades do país, apesar do desinteresse da mídia, as pessoas que estão por trás de ações como essas deixam claro que entenderam o exemplo de Betinho.

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